Contrato chegava pronto, diz filha de militar
Filha de almirante suspeito de receber propina conta como atuava na firma da família
Pagamentos adiantados para estudos "pouco profundos" e contratos que já chegavam elaborados fazem parte da versão apresentada pela engenheira Ana Cristina da Silva Toniolo para justificar a maior parte dos pagamentos recebidos pela Aratec, suspeita de receber a propina da obra de Angra 3.
Ana Cristina é filha do almirante reformado Othon Luiz da Silva, presidente da Eletronuclear de 2007 a 2014.
Ele está preso desde julho por suspeita de ter recebido R$ 4,7 milhões em propina das empreiteiras por meio de firmas intermediárias que faziam depósitos na conta da Aratec –empresa da família.
À Polícia Federal, Ana Cristina, que constava como administradora da Aratec, disse que recebeu os contratos prontos da CG Consultoria, suspeita de intermediar suborno de R$ 2,7 milhões.
Segundo ela, os pagamentos referiam-se a elaboração de estudos efetivamente realizados para a CG. Ana Cristina diz que Carlos Gallo, da CG, era amigo de seu pai.
"Não se tratavam de estudos profundos de autoria da declarante e nem de consultorias, apenas de uma compilação de informações sobre um tema; a declarante apenas obedeceu àquilo que lhe foi pedido [...] que não questionou CARLOS a razão dos pedidos dos tais estudos, apenas atendeu a uma solicitação de seu pai", diz trecho da transcrição do depoimento.
Ela disse que Gallo entregava os contratos prontos, com a descrição do estudo a ser feito. Só após emissão da nota fiscal e do pagamento, o dono da CG pedia a ela que "montasse um paper, um estudo referente ao tema"
TURBINA
A engenheira disse que entrou na Aratec após iniciar a carreira como tradutora. E que usou a firma do pai para emitir notas para receber por traduções feitas. Quando Othon foi para a Eletronuclear, ela passou à condição de sócia e administradora.
Ela disse que seu pai desenvolveu na Aratec uma turbina, já patenteada, e que parte do dinheiro que entrou veio de investidores. Os auxiliares do almirante, disse, eram ex-colegas da época em que ele estava na Marinha.
Os pagamentos aos desenvolvedores da turbina, disse, não foram documentados em contrato. Muitas vezes, o dinheiro era sacado das contas da Aratec e depositado aos prestadores de serviço. Faziam assim, afirmou, para evitar a caracterização de relação trabalhista.