Só queda da presidente une movimentos
Grupos que organizam manifestações divergem sobre a melhor estratégia para derrubar Dilma e o que fazer depois
Vem Pra Rua defende renúncia de petista, MBL quer impeachment e Revoltados On Line preferem cassação
Fora o consenso sobre a necessidade de tirar Dilma Rousseff da Presidência, há pouco em comum entre os grupos que lideram as manifestações pró-impeachment deste domingo (16).
De histórias e estilos contrastantes, eles divergem sobre o melhor método de derrubar o PT do poder, sobre posições políticas e sobre como o país deva ser conduzido depois de uma eventual troca de comando.
Rogério Chequer, fundador do Vem Pra Rua, quer a renúncia de Dilma.
"É um processo mais rápido, que não desgastaria mais o Congresso e não colocaria em confronto um país que precisa se recuperar", diz.
Já para Renan Santos, do MBL (Movimento Brasil Livre), o impeachment, embora mais traumático, teria efeito didático nos políticos.
"É a narrativa mais bela: mostraria que podemos pressionar nossos representantes em Brasília para que façam o que o povo que está nas ruas quer", afirma.
Outros, como Marcello Reis, do Revoltados On Line, pedem a cassação da chapa Dilma-Temer.
"O PMDB é cúmplice do PT. Se cair a Dilma e entrar o Temer, pediremos outro impeachment", afirma.
No extremo, estão movimentos intervencionistas, como a UND (União Nacionalista Democrática), que defendem que o Exército tome a iniciativa de tirar a presidente para que então sejam convocadas novas eleições.
Também são evidentes as diferenças de abordagem de cada um dos líderes e grupos.
Marcello Reis, 41, está na militância on-line há 15 anos, quando fundou os Revoltados On Line para "caçar pedófilos" nas redes sociais.
Voltou-se para a política em 2010 e passou a defender a intervenção militar. Depois de estudar o assunto por conta própria ("até 18h por dia"), mudou sua posição.
Durante a entrevista que deu à Folha, Reis disparou sem cerimônias contra Dilma, Lula e o PT, ("que querem implantar um sistema comunista no Brasil"), Chico Buarque ("comunista-caviar"), Temer e Aécio Neves, a quem chamou de "morno" e "playboy".
No fim, ainda tocou uma corneta personalizada que vende para ajudar a custear o movimento.
Chequer, 47, engenheiro que fez carreira no mercado financeiro, passa longe da estridência de Reis.
Ele fundou o Vem Pra Rua em 2014, depois de conversas com colegas de trabalho, que, como ele, previam um colapso econômico caso as políticas de Dilma continuassem.
UNHA E CARNE
Apesar das diferenças, os movimentos nunca estiveram tão unidos, analisa Carla Zambelli, fundadora do Nas Ruas, grupo menor que os três principais.
"Criamos grupos de Whats- App para nos comunicarmos, fundamos a Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos [associação que reúne os movimentos menores] e estamos entrosados", afirma.
Pela primeira vez, a data da manifestação foi acordada previamente pelos vários grupos, e um evento unificado foi criado no Facebook.
"A gente convocava as manifestações e os outros movimentos nos seguiam. Agora, resolvemos combinar com eles antes, porque aí pelo menos todo mundo trabalha desde o começo", diz Renan.