Executivo liga doleiro a senador do PMDB
Ex-diretor de empreiteira afirma que Youssef pediu R$ 500 mil para Raupp
Contribuição foi para diretório estadual do partido e irrigou campanha ao Senado nas eleições de 2010
Em depoimento à Polícia Federal, o ex-diretor de óleo e gás da empreiteira Queiroz Galvão Othon Zanoide de Moraes Filho ligou doações que alimentaram a campanha do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) ao doleiro Alberto Youssef, pivô do esquema de corrupção na Petrobras.
Um dos caciques do PMDB no Senado, Valdir Raupp passou a ser investigado em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) depois que dois delatores da Lava Jato –Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa– afirmaram ter repassado a ele recursos oriundos de desvios em contratos da estatal.
A Queiroz Galvão fez duas doações ao diretório estadual do PMDB de Rondônia, na época presidido por Raupp. A primeira de R$ 300 mil, em 27 de agosto de 2010, e outra de R$ 200 mil, cinco dias depois. Na reta final da campanha, o diretório injetou R$ 520 mil na campanha de Raupp.
Othon Zanoide era o responsável pela elaboração da lista de políticos do PP a serem agraciados com doações da Queiroz Galvão em 2010.
Em 15 de maio deste ano, o executivo disse à PF em Brasília que o repasse ao PMDB de Rondônia foi solicitado pelo doleiro Alberto Youssef.
Zanoide relatou aos policiais que recebeu o pedido "com espanto", já que o doleiro lhe fora apresentado no ano anterior por José Janene (PP-PR) e só operava para candidatos da sigla. Segundo o executivo, o doleiro não mencionou o nome de Raupp.
Apesar do espanto, Zenoide disse que levou o pedido adiante após ouvir de Youssef que a doação ao PMDB de Rondônia era do interesse do PP. Segundo ele, o presidente do grupo, Ildefonso Collares, deu o sinal verde.
Embora o executivo tenha negado que a doação se deva a propina, seu depoimento reforça os indícios já encontrados pelos investigadores.
Numa das agendas apreendidas na casa de Paulo Roberto Costa consta a anotação "WR 0,5" –que o delator afirma se tratar de R$ 500 mil para Raupp. A PF também encontrou um e-mail em que Zanoide cobra de Youssef o recibo da doação ao PMDB-RO.
A ASSESSORA
A Polícia Federal localizou registros de três encontros entre Raupp e Paulo Roberto Costa no primeiro semestre de 2010. Dois deles na sede da Petrobras, o terceiro em um evento no Rio. Foi depois disso que o ex-diretor teria autorizado seu operador a tirar a doação para Raupp do caixa da propina do PP.
Segundo Youssef, uma assessora do senador o procurou em seu escritório em São Paulo. O doleiro não soube dizer o nome da emissária, mas reconheceu uma foto da advogada Maria Cleia de Oliveira, lotada no gabinete de Raupp desde 2007.
Como estava sem dinheiro em espécie no momento, o doleiro disse ter combinado com a assessora o repasse via doação oficial. Após o acerto, procurou então Zanoide.
Pela versão de Youssef, a escolha da Queiroz Galvão para pagar Raupp se devia a um crédito que ele tinha de R$ 7,5 milhões junto à empreiteira da "comissão" do PP por obras da diretoria de Abastecimento da Petrobras.
Além de PT e PP, a Lava Jato dragou os principais líderes do PMDB no Congresso. Também são investigados os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e os senadores Romero Jucá (RO) e Edison Lobão (MA).
Embora a diretoria de Abastecimento tenha sido entregue ao PP no governo Lula, Paulo Roberto Costa disse que passou a atuar também em favor do PMDB após um movimento para afastá-lo do cargo no final de 2006. Costa atribui sua permanência na diretoria ao apoio recebido de Renan, Jucá e Lobão.