Equipe ajudou Dirceu a cuidar da imagem
Antes da prisão, ex-ministro gastou R$ 2,1 milhões com assessoria de imprensa, historiadores e produtora de cinema
Petista tinha equipe de jornalistas e monitorava menções nas redes sociais ao seu nome e ao mensalão
O ex-ministro José Dirceu, preso há um mês na Operação Lava Jato, montou uma estrutura profissional para cuidar de sua imagem em meio às suspeitas de envolvimento no mensalão, segundo relatório da Polícia Federal.
Dirceu, que foi denunciado à Justiça Federal na última sexta (4) sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, contratou empresas de assessoria, jornalistas, historiadores e até cineastas para reverter o desgaste que sofria desde a saída da Casa Civil no governo Lula, em 2005.
Entre os anos de 2009 e 2013, a soma de despesas com essas atividades foi de ao menos R$ 2,1 milhões, segundo dados da Receita Federal e informações prestadas pelos contratados à PF.
O delegado Marcio Adriano Anselmo, que assinou o relatório de indiciamento do ex-ministro, afirmou no documento que a única atividade da empresa do petista, a JD Consultoria, era "albergar uma esquadra de jornalistas voltados a polir a imagem do investigado e seu grupo político".
Segundo a investigação, as receitas da JD vinham do pagamento de empreiteiras investigadas na Lava Jato, sem contrapartida da consultoria.
Anselmo citou como exemplo da "guerrilha" na mídia o repasse de R$ 120 mil ao site "Brasil 247" por meio de uma empresa do delator Milton Pascowitch, que diz ter intermediado propina a Dirceu.
Em 2011, Dirceu tinha contrato com uma empresa de comunicação que atuava com três profissionais na assessoria e na elaboração de artigos. Pagava ainda R$ 12,8 mil mensais a um outro jornalista que trabalhava com uma de suas prioridades, o "Blog do Dirceu".
Em 2012, ano do julgamento do mensalão, a JD pagou R$ 677 mil a três empresas de jornalistas e a um assessor de imprensa –o patrimônio declarado pelo petista naquele ano foi de R$ 1,6 milhão.
Na mesma época, Dirceu contratou uma empresa para monitorar as menções nas redes sociais ao seu nome e ao termo "mensalão".
Em documentos anexados ao inquérito, há detalhes como o interesse do ex-ministro "em ampliar o espaço como articulista em veículos regionais" e no envio de cartas a jornais para rebater críticas ao governo federal.
'O HOMEM INVISÍVEL'
Dirceu também pagou R$ 238 mil à produtora do cineasta Luiz Carlos Barreto para bancar o projeto de um filme sobre sua vida, que se chamaria "O Homem Invisível".
Mais tarde, o ex-ministro e o cineasta mudaram o foco da produção, que virou uma minissérie sobre o movimento estudantil de São Paulo na ditadura, batizada de "Pauliceia 68". O projeto está suspenso desde 2010, mas a produtora pretende retomá-lo.
Outro gasto expressivo da JD foi com uma equipe contratada para organizar o acervo de documentos e fotos do ex-ministro, especialmente do período da ditadura.
Em relatório anexado ao inquérito, a Trajetórias Comunicação, empresa responsável pelo projeto, cita a possibilidade de "abrir o acervo à consulta pública".
Maria Alice Vieira, que trabalhou na organização do acervo, diz que o projeto está parado e que o objetivo era encaminhar o material para alguma instituição de pesquisa, como o Arquivo Nacional.