Brasil em crise
País não pode ser míope sobre crise, diz Levy
Fala do ministro da Fazenda não agradou o mercado, que esperava divulgação de medidas concretas e de impacto
Segundo Levy, não há definição sobre quais tributos sofrerão elevação; anúncio sairá até o fim do mês, afirma
Escalado pelo Planalto para tranquilizar o mercado, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) disse nesta quinta (10) que o país não pode "ser vítima de uma miopia" ao tratar do aumento de impostos e que um "esforço adicional" será necessário para garantir a retomada do crescimento.
Nos últimos dias, o governo sofreu fortes críticas, principalmente do PMDB, por causa de propostas de elevar ou criar tributos, como a volta da CPMF, aumento do Imposto de Renda e da Cide (cobrado sobre combustíveis).
Na entrevista encomendada por Dilma, Levy deu demonstrações de que permanece no governo, por ora.
Antes de sua fala, integrantes do governo afirmavam que ele poderia fazer algum anúncio ou dar mensagem de impacto, mas isso não ocorreu.
A fala do ministro acabou não agradando o mercado, que esperava a divulgação de algo mais concreto. A expectativa é que o governo comece a anunciar nesta sexta (11) os primeiros cortes de gastos.
Em reunião de emergência para discutir o rebaixamento, Dilma mandou que sua equipe preparasse propostas de cortes. Uma parte seria divulgada esta semana. A outra, no início da próxima.
No encontro, Dilma avaliou, conforme relatos, que o cenário não é "catastrófico" e pediu "unidade" no discurso de defesa do ajuste fiscal, além de "agilidade e urgência" na definição de medidas de redução de despesas.
Segundo assessores, o governo reconheceu que sua estratégia estava errada em falar primeiro de aumento de impostos, para só depois definir redução de despesas.
Dilma determinou ainda a seus ministros fazer uma revisão em programas sociais, procurando melhorar a gestão desses recursos e combater eventuais fraudes.
Na entrevista, Levy defendeu a necessidade de aumentar tributos: "A gente não deve ser vítima de uma miopia na questão dos impostos". Depois, justificou a necessidade de um "esforço adicional" para "garantir que o país seja seguro para investidores, para trabalhadores, para as famílias e que a nossa condição fiscal seja sólida".
Sobre tributos, o ministro disse que não há definição sobre quais sofrerão elevação e o anúncio completo das medidas de corte de despesas e aumento de receitas será feito até o fim de setembro.
Levy destacou o projeto ainda em estudo para reformar o modelo de cobrança do PIS/Cofins e disse que o governo proporá novamente mudanças nas regras da concessão do seguro-defeso (pago a pescadores em períodos em que a pesca é proibida).
Nesta quarta (9), a Standard & Poor's rebaixou a nota de crédito do Brasil de BBB- para BB+, tirando o selo de bom pagador do país. "Uma das agências pode ter se precipitado", afirmou o ministro.
"Eu acho que na medida em que a gente estiver mostrando que o processo que estava em andamento vai ter uma conclusão, eu diria que o afã de mudar a nota do Brasil talvez arrefeça um pouco entre as agências, e também a própria avaliação do mercado, que virá a se tranquilizar", afirmou, sinalizando expectativa de que as agências Moody's e Fitch não sigam o mesmo caminho da S&P.
Na quarta, Levy soube do rebaixamento por volta das 14h, mas, curiosamente, não avisou a presidente. Dilma soube disso pouco antes das 19h, após dar entrevista ao jornal "Valor Econômico". Ela ficou irritada ao saber que seu ministro já tinha a informação desde cedo. (ISABEL VERSIANI, FÁBIO MONTEIRO, MARINA DIAS, NATUZA NERY E VALDO CRUZ)