No Senado, BC defende 'juro de passagem'
Em audiência, Tombini afirma que taxa será mantida em 14,25% para impedir que inflação se espalhe e dólar dispare
Senadores criticaram política monetária, que aprofundaria ainda mais a recessão, e atuação no câmbio
Sob críticas de senadores governistas e da oposição, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que a redução da taxa básica de juros não é uma questão de voluntarismo e que a Selic permanecerá em 14,25% ao ano por período prolongado.
O presidente do BC disse que essa é uma "taxa de passagem", mas que ficará nesse nível até que a inflação corrente e as projeções para o IPCA no próximo ano recuem.
Tombini participou nesta terça-feira (15) de audiência no Senado, onde encontrou uma plateia majoritariamente contrária às políticas monetária e cambial do BC.
Senadores como Lindbergh Farias (PT-RJ) e José Serra (PSDB-SP) afirmaram que a política de juros contribui para a recessão. Também disseram que não faz sentido usar esse instrumento para combater uma inflação que não está ligada à demanda.
O BC concorda que a maior parte da inflação se deve ao câmbio e à correção de tarifas, mas diz que os juros impedem que esses reajustes se espalhem para os demais preços da economia.
A instituição indicou ainda que, se o BC não subir os juros, o mercado o fará.
"Não há voluntarismo do BC que baixe a taxa de juros no mercado. Se decidirmos trazer a taxa de 14,25% para 7%, possivelmente a curva de juros explodiria", afirmou. Tombini disse que a alta dos juros futuros para o patamar de 15% nas últimas semanas não está ligada à política do BC, mas à percepção de maior risco, provocada, por exemplo, pelo rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
"Não há espaço para, artificialmente, colocar essa taxa onde a gente acha interessante. Se o mercado entender que a política monetária aumenta os riscos para a economia, o governo vai pagar mais para se financiar."
No primeiro mandato de Dilma Rousseff, o BC foi criticado pelo mercado por ter justamente reduzido os juros para 7,25% de maneira artificial e atendendo à vontade do Palácio do Planalto.
Tombini disse ainda que o corte de juros contribuiria para uma alta maior do dólar (leia sobre dólar no caderno "Mercado"). A atuação do BC no câmbio, aliás, foi outro alvo de crítica. Especialmente o uso de contratos de câmbio (swap) que já deram um prejuízo de quase R$ 90 bilhões para o governo. A avaliação é que esse gasto vai na contramão da promessa de controlar o aumento da dívida.
"Como é que esse ajuste fiscal vai dar certo? A política monetária do BC destruiu qualquer esforço fiscal sério no país. Valeu a pena gastar R$ 84 bilhões em swaps cambiais?", afirmou Lindbergh.
Tombini afirmou que cerca de 80% dos mais de US$ 100 bilhões em contratos de swap está nas mãos de empresas que quebrariam se não estivessem protegidas contra a alta do dólar ou de investidores que deixariam o país se não tivessem essa proteção.
O BC descartou vender reservas, por entender que não há falta de dólares no mercado, mas busca por proteção contra variações no câmbio.