Brasil em crise
Dilma critica 'moralistas' e 'conspiradores'
Presidente associou impeachment a golpe e acusou 'a obsessão dos inconformados com a derrota nas urnas'
Ela discursou ao lado de Lula e do ex-presidente do Uruguai José Mujica durante a abertura do 12º Congresso da CUT
Num dos discursos mais duros desde que foi reeleita, a presidente Dilma Rousseff criticou os "moralistas sem moral" e "conspiradores" que tentam obter o impeachment para interromper um mandato conquistado com 54 milhões de votos.
A fala ocorreu na noite desta terça-feira (13) em São Paulo, durante a abertura do 12º Congresso da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Sem citar nominalmente nenhum de seus adversários ou conspiradores, a presidente afirmou que nunca fez da vida pública um meio de obter vantagem pessoal.
Ela entrou no auditório do centro de convenções do Anhembi acompanhada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente do Uruguai e atual senador do país vizinho José Mujica.
"Eu me insurjo contra o golpismo e suas ações conspiratórias, e não temo seus defensores", disse Dilma.
"Pergunto com toda a franqueza: Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficientes para atacar a minha honra?", discursou ela, sendo aplaudida de pé por uma plateia de mais de 2.000 sindicalistas e militantes simpáticos ao governo e ao PT.
No discurso de 37 minutos, Dilma foi interrompida seis vezes por aplausos e gritos de "não vai ter golpe" e "Dilma guerreira do povo brasileiro".
A presidente criticou as tentativas de instaurar um processo de impeachment dizendo que não há elemento jurídico definido que justifique isso ou qualquer fato que a desabone.
"O artificialismo dos argumentos é absoluto", disse. "A vontade de produzir um golpe contra o funcionamento regular das leis e das instituições é explícita. Jogam no quanto pior, melhor, o tempo todo. Pior para a população e melhor para eles", afirmou a presidente.
Sem mencionar de o presidente deposto João Goulart (1918-1976), a mandatária também traçou um paralelo com o golpe de 1964 –"um filme já visto" e de "final trágico"– e fez um apelo à base social da esquerda brasileira.
"Ninguém deve se iludir. Nenhum trabalhador pode baixar a guarda", disse.
Ao prometer não se dobrar, ela fez uma provocação à oposição: "Quem quer a paz social e a normalidade institucional não faz a guerra política e não destila ódio e intolerância".
"A obsessão dos inconformados com a derrota nas urnas [quer] obstruir o mandato de uma presidenta eleita contra quem não existe acusação de crime algum. Lutaremos e não deixaremos prosperar", disse.
PEDALADAS
Dilma também defendeu o uso dos bancos oficiais para o financiamento de programas sociais, manobra conhecida como pedaladas fiscais e que foi condenada, por unanimidade, pelo TCU (Tribunal de Contas da União). Ela disse que o governo vai continuar questionando os critérios da reprovação das contas do Executivo.
"Teremos uma decisão equilibrada do Congresso Nacional. O que chamam de pedaladas fiscais são atos administrativos usados por todos os governos", afirmou.
Dilma informou que o governo continuará questionando a decisão do TCU.
MALFEITOS
A presidente também disse que jamais negociará com "malfeitos" e fez um apelo às "forças democráticas do Congresso".
"Muita coisa está em jogo: a democracia pela qual lutamos, o voto popular como base do poder e a inviolabilidade do mandato concedido pelo povo [...] Para impedir o retorcesso, conto com as forças democráticas do Congresso, conto com a serenidade dos nossos tribunais, conto com o povo brasileiro e com os movimentos sociais", disse.