Falta de médicos 'esvazia' e superlota UPAs em Araraquara
Unidade de Pronto Atendimento da Vila Xavier fica vazia, enquanto a central tem sobrecarga com demanda
Prefeitura diz que vai contratar empresa para gerenciar UPA e, assim, tentar solucionar a falta de médicos local
A UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Xavier, em Araraquara, custou aos cofres públicos R$ 1,5 milhão para ser construída. Porém, sem médico, a unidade passa a maior parte dos dias vazia, com funcionários e enfermeiros à espera de pacientes.
Os usuários que insistem em procurar a UPA da Vila Xavier, que tem 950 m², são encaminhados para uma outra unidade de pronto atendimento, a central, localizada a 3 km de distância e que está sobrecarregada com a demanda desassistida.
Na manhã desta sexta-feira (21), uma enfermeira lia uma revista na recepção da UPA Vila Xavier. Sem médicos, os serviços se restringem aos atendimentos de enfermagem, como curativos e medição da pressão arterial.
"Se tivesse médico, faríamos a triagem, uma avaliação dos pacientes antes da consulta", disse uma enfermeira, que não se identificou.
Escala de médicos disponibilizada no site da Prefeitura de Araraquara para a segunda quinzena deste mês mostra que há profissionais na unidade somente em horários específicos aos sábados, segundas e terças-feiras.
A publicação das escalas resultou no pedido de demissão de pelo menos 12 médicos em setembro. Eles não concordaram com a medida. Suspeitas de fraude no comparecimento de médicos nas unidades de saúde são apuradas pelas autoridades.
A Prefeitura de Araraquara informou, por meio de nota, que não há médicos interessados em trabalhar na rede municipal de saúde. Por isso, a falta de profissionais da UPA da Vila Xavier.
Segundo a nota, a prefeitura pretende contratar uma organização social para gerenciar a UPA central. Assim, os médicos atuais serão deslocados para a unidade da Vila Xavier. Serão contratados 30 médicos para complementar a escala de atendimento.
Além do gasto de construção, o governo federal repassa R$ 140 mil por mês à prefeitura, que também arca com parte dos custos, para a manutenção da unidade. A Folha não conseguiu falar com representantes do Ministério da Saúde nesta sexta-feira.
PEREGRINAÇÃO
A falta de profissionais resulta em uma verdadeira peregrinação da população em busca de atendimento.
A aposentada Maria José Hipólito, 72, procurou a UPA da Vila Xavier nesta sexta por causa de uma forte gripe. Sem médico, um funcionário levou a idosa em um carro da unidade à UPA central.
Na unidade, a aposentada foi atendida quatro horas depois. "O jeito é não precisar ir ao médico", disse ela.
Nesta sexta, a situação se agravou mais ainda com os centros de saúde fechados por causa do feriado.
A população teve como única opção de atendimento médico somente a UPA central. "Meu marido está gripado, já veio duas vezes aqui e desistiu de esperar", disse Regiane Drape, 37.
Na ala infantil da UPA central, a situação era ainda mais grave nesta sexta: não havia nenhum pediatra. Às 11h da manhã, a dona de casa Jéssica Ferreira aguardava atendimento do filho de três anos há mais 12 horas. O menino apresentava hipotermia.
"Os enfermeiros fizeram o que podiam, mas não tem médico para medicar."