Rivais reduzem espaço da Apple na China
Antes símbolo de status, iPhones são apenas uma opção no país; governo quer reduzir presença de aparelhos estrangeiros
Empresas como a novata Xiaomi oferecem por um preço menor produtos que rivalizam com os da companhia americana
Quando os mais recentes iPhones da Apple chegaram às lojas de Hong Kong, Cingapura e Nova York, no começo do mês, além dos urbanoides antenados e dos obcecados por tecnologia havia outro grupo na batalha para comprar aparelhos: revendedores chineses que esperavam faturar ao passar adiante com ágio os aparelhos adquiridos de contrabandistas.
Mas o mercado cinzento de iPhones novos já havia se aquietado mesmo antes do lançamento oficial na China, no último dia 17 -que não teve as tradicionais filas de consumidores esperando para comprar os aparelhos, como são formadas em outras partes do mundo.
Os atacadistas que ajudam a orquestrar o contrabando de milhares de celulares ao país agora cortaram os preços a fim de descarregar estoques. A experiência dos contrabandistas representa a nova realidade para a Apple no mercado chinês.
Quatro anos atrás, o iPhone 4 era um símbolo de status, com o mercado negro florescendo antes do lançamento oficial do produto.
Hoje, o iPhone é simplesmente uma opção entre muitas, já que empresas locais como a Xiaomi e a Meizu Technology conseguem lançar produtos que rivalizam com os da Apple em termos de atrativos, mas por preço mais de 50% menor.
A China representa um mercado grande e de rápido crescimento para a Apple, que concorre com a Samsung pelo controle do segmento de smartphones, a ponta mais cara do mercado de celulares.
Em janeiro, a Apple por fim fechou um acordo com a China Mobile, a maior operadora chinesa de telefonia móvel, depois de prolongadas negociações. A China é o maior mercado mundial de smartphones e respondeu por 15,9% das vendas da Apple no segundo trimestre.
Os novos modelos ajudarão a Apple a solidificar sua posição no país. Na China existem cerca de 50 milhões de usuários do iPhone, de acordo com Kitty Fok, diretora-executiva do grupo de pesquisa de mercado da IDC.
Ela estima que a companhia americana venderá cerca de 4 milhões de celulares por mês, com a substituição dos modelos mais antigos pelos mais novos.
"Mas os participantes locais não estão jogando só com o preço", disse Fok. "Há produtos que atendem ao mercado local, telas grandes, conectividade otimizada para a China e aparelhos para dois chips."
O governo chinês também não vem facilitando as coisas. Uma intensificação das campanhas nacionais de combate à corrupção levou os funcionários públicos, que no passado eram conhecidos por gastar sem pensar duas vezes em produtos de luxo como o iPhone, a conter suas compras dispendiosas.
ESPIONAGEM
O governo também sinalizou que tomaria medidas para reduzir sua dependência quanto a aparelhos eletrônicos fabricados por empresas estrangeiras, depois das revelações de Edward Snowden, ex-prestador de serviços à NSA (Agência Nacional de Segurança) norte-americana, sobre operações de vigilância realizadas pelos EUA.
Em comunicado divulgado há um mês, Tim Cook, o presidente-executivo da Apple, disse que a companhia jamais havia cooperado com o governo de qualquer país para fornecer acesso aos dados de seus clientes.
Em conferência neste mês, Wei Jianguo, diretor-geral do Centro Chinês de Intercâmbios Econômicos Internacionais, disse que o governo de Xangai havia instruído seus funcionários a usar celulares Huawei em vez de modelos da Apple ou Samsung, de acordo com uma transcrição postada no portal noticioso Sohu, um dos patrocinadores do evento.