Teto de vidro
Glass, óculos inteligentes do Google, vive momento de crise, com êxodo de programadores e de parceiros; lançamento final pode ser adiado
Alardeado como um dos maiores representantes do futuro da computação, o Glass vive um momento de estagnação, enquanto desenvolvedores, marcas e mesmo funcionários do Google abandonam projetos ligados ao aparelho vestível.
Segundo levantamento da agência Reuters, 9 de 16 dos principais programadores de aplicativos voltados para os óculos inteligentes desistiram dos programas em que trabalhavam desde que o aparelho foi lançado para desenvolvedores, em 2012.
Uma das razões para isso é o alto preço do dispositivo: US$ 1.500 (cerca de R$ 3.800) por "uma armação com uma câmera, um processador e uma tela", como dizem alguns críticos.
"Se houvesse 200 milhões de Google Glasses vendidos, seria uma perspectiva diferente. Não existe mercado neste ponto", disse à Reuters o diretor da Little Guy Games, Tom Frencel, que suspendeu o desenvolvimento de um jogo para o Glass.
O Google não divulga números de vendas do Glass. Segundo projeção de 2013 da empresa Business Insider Intelligence, cerca de 800 mil dos óculos teriam sido vendidos até este ano. O número é considerado alto demais por alguns observadores, como Al Sacco, do site "CIO" --que estima 240 mil unidades.
Recentemente, o Twitter descontinuou seu aplicativo para o "smartglass" sem explicar a medida ao público.
Nos últimos seis meses, três dos responsáveis pelo Glass dentro do Google saíram da companhia, incluindo o chefe de desenvolvimento do projeto, Babak Parviz.
Nas últimas semanas, foi divulgado que a empresa parou de aceitar encontros técnicos nos quatros centros de suporte do Glass nos EUA.
Em um evento na semana passada, o executivo e cofundador da empresa Sergey Brin compareceu sem estar com um Glass, fato inédito desde que o anúncio do produto foi feito, há dois anos.
A empresa, por sua vez, nega que tenha perdido o entusiasmo pelos óculos. "Estamos empolgados como sempre sobre a oportunidade que dispositivos vestíveis e o Glass em particular representam", diz o chefe de operações de negócios do Glass, Chris O'Neill.
Há "centenas de engenheiros e executivos" trabalhando nos óculos inteligentes, segundo o Google. O projeto faz parte da divisão Google X, de pesquisa e desenvolvimento, que abarca iniciativas como o carro que dirige sem motorista e o projeto para fornecer internet para áreas remotas com a ajuda de balões.
Em maio, a empresa abriu a venda para o público em geral nos EUA, mas manteve o produto em fase considerada experimental.
De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, mantida em anonimato, o lançamento final será adiado para o ano que vem, e não mais no "fim deste ano", como prometia o Google.
Uma reportagem do site "TechCrunch", especializado em tecnologia, relata que, se algumas empresas voltadas para o consumidor perderam o interesse pelo Glass, as que focam o setor corporativo passam pelo processo contrário.
De fato, as últimas parcerias do projeto são em sua maioria voltadas à área médica, mas também há companhias de gerenciamento e de cadeia logística.
Afora elas, as redes de fast-food americanas KFC e Taco Bell estudam usar o Glass para instruir funcionários.
CONCORRÊNCIA
A Guy Games, uma das empresas que cancelaram o aplicativo para o Glass, canalizou seus esforços da chamada computação vestível em outras plataformas, como a Oculus Rift, empresa que construiu um óculos de realidade virtual e foi comprada por US$ 2 bilhões pelo Facebook neste ano.
A área de realidade virtual, conta ainda com os óculos Morpheus, da Sony, o Gear VR, da Samsung, e o Cardboard, projeto de baixo custo feito de papelão, do próprio Google.