De carona
Carros sem motorista começam a circular nos EUA, mas caminhões devem ganhar as estradas primeiro; no Brasil, estrutura é desafio
Em 2002, o filme "Minority Report", estrelado por Tom Cruise, mostrava uma cidade americana 50 anos no futuro tomada por carros sem motoristas. Fora da ficção, essa tecnologia não demorou tanto assim para aparecer.
No Estado da Califórnia, carros do Google que dispensam motoristas começaram a circular na semana passada pela cidade de Mountain View, sede da companhia.
Em Nevada, dois caminhões da linha Freightliner Inspiration, da Daimler, que se dirigem sozinhos foram autorizados a trafegar pelas estradas estaduais. São acompanhados de motoristas que fiscalizam a operação e assumem o volante em casos emergenciais (veja ao lado como o veículo funciona).
Mas, embora os testes sejam promissores, especialistas afirmam que alguns entraves devem atrasar a implementação da tecnologia no dia a dia dos consumidores.
"Primeiro veremos autonomia parcial em veículos de transporte de cargas e de passeio. Depois, talvez em dez anos, virão os veículos com autonomia total", afirma Xavier Mosquet, analista do setor automotivo da consultoria Boston Consulting Group.
A empresa estima que as vendas globais de veículos autônomos devem atingir US$ 42 bilhões em 2025, uma fatia de 13% do mercado --desses, no entanto, apenas 0,5% serão totalmente independentes de motoristas. Em 2035, a autonomia completa deve subir para 9,8%.
A tecnologia deve ganhar tração primeiro no mercado de caminhões, para só depois atrair os consumidores de carros. Segundo Mosquet, isso acontece porque o custo de implementação da tecnologia é praticamente o mesmo nas duas categorias, mas os compradores de caminhões têm mais dinheiro para investir.
TERRITÓRIO NACIONAL
No Brasil, esse tipo de tecnologia esbarra em um outro problema, segundo Ricardo Takahira, da SAE Brasil (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade): a infraestrutura precária.
"A qualidade das estradas brasileiras não é a mesma da dos Estados Unidos ou da Europa. E esses veículos ainda são muito dependentes de infraestrutura, precisam das faixas de rolamento pintadas corretamente, de sistemas de rádio frequência para estar o tempo todo conectados", diz.
No caso do carro do Google, o veículo utiliza dados de sensor e de mapas para determinar onde está e como se movimentar e também quais obstáculos há no caminho, com base no tamanho, na forma e no movimento deles.
Para Takahira, essas tecnologias também podem deixar as estradas mais seguras. "Esses veículos param, freiam e se mantêm dentro das faixas sozinhos. É um jeito de fiscalizar o motorista."
No mercado norte-americano, a estimativa do BCG é que veículos parcialmente autônomos possam aumentar em 30% a segurança para motoristas de caminhões e carros. No longo prazo, o potencial é de redução de 90% dos acidentes nas estradas.
Os veículos não estão imunes a ocorrências. O Google reportou 12 acidentes envolvendo os protótipos --a maioria, afirma a companhia, foram consequência de erros humanos causados pelos motoristas dos outros carros.
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COMO FUNCIONA
Movimentos são monitorados pelo chamado "Piloto Rodoviário"
O sistema une câmeras, sensores e radares e mapas em 3D para guiar o veículo
O caminhão se mantém na faixa de rolamento
Os veículo se move à velocidade constante de 85 km/h quando na rodovia
Se o conjunto de sensores e central de comando não consegue interpretar a sinalização ou detecta um problema, alertas sonoros e visuais convocam o motorista a assumir o volante
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INSPIRADO
Primeiro caminhão autônomo a ser liberado nos EUA, o Freightliner Inspiration demanda que o motorista esteja presente, mas o veículo se dirige sozinho. Segundo a fabricante Daimler, a condução computadorizada reduz as emissões de CO2 em 5%; 90% dos acidentes com os peso-pesados comuns são causados por erro humano no país
NAS RUAS
O Google começou na sexta-feira (26) a testar seus próprios carros que se dirigem sozinhos em condições reais em estradas na Califórnia. Nesta fase, haverá motoristas a bordo dos veículos o tempo todo. Até então, a empresa só havia testado versões modificadas de carros da Lexus, divisão da Toyota