Amsterdã caribenha
Reportagem visita plantação clandestina de maconha na Jamaica, país que discute a descriminalização do consumo da droga
"Quero visitar uma plantação", pede a reportagem a uma taxista que atende em um hotel na região turística de Ocho Rios, na Jamaica. "Senhor, há plantações do famoso café Blue Mountain, de cana-de-açúcar, de banana..."
"De maconha", rebate a reportagem. Ela pergunta com um sorriso: "Bob Marley?". "Deve ser esse mesmo."
"Custa US$ 150 (cerca de R$ 390) a viagem de ida e volta para Nine Mile, vilarejo onde há o mausoléu de Bob Marley e [baixando a voz e olhando para os lados] mais US$ 90 (cerca de R$ 230) para visitar uma ganja farm'."
Ela é discreta porque o cultivo, a venda e o uso são proibidos na Jamaica, apesar da legalidade que se pressupõe devido ao reggae e à crença rastafári. Essa situação, porém, deve mudar ainda neste ano caso o Parlamento chancele uma proposta do governo e descriminalize a droga.
Para especialistas jamaicanos, a medida atenuaria a punição ao consumo sem dar carta branca ao cultivo e à venda, como ocorreria com a legalização, além de liberar remédios feitos com a planta, rituais rastafáris e a atração de turistas desse nicho.
Mesmo antes da mudança iminente a Jamaica já faz parte de um circuito turístico, tal qual a Holanda, que atrai milhares de viajantes todo ano em busca da droga proibida na maioria do globo em razão dos efeitos nocivos à saúde.
E se em Amsterdã o principal chamariz é o consumo livre da maconha em cafés, na Jamaica o foco se volta para passeios por plantações em quintais de casas simples, como a visitada pela Folha.
Os chamados "ganja tours" incluem degustação da droga, discussões sobre o cultivo de sementes puras e híbridas, a diferença entre os odores exalados pelas variações da planta, a relação corrupta com a polícia e o reggae de Bob Marley. E futebol, se o visitante se revelar brasileiro.
"Respect, man' [uma reverência local]. Melhor sorte na próxima Copa. Fume para esquecer a que passou", sugere o guia rastafári Yellow Star.