Down House
Mansão de Darwin revela lado sociável do naturalista inglês
Estufa e jardins guardam experimentos do cientista, que viveu com a família na casa durante 40 anos
Transformada em museu, Down House é atração no vilarejo de Downe, a 23 minutos de trem de Londres
Ainda é comum ouvir que o naturalista inglês Charles Darwin (1809-82), após rodar o mundo estudando a natureza durante a juventude, voltou a seu país e passou duas décadas enfurnado em casa para desenvolver sua teoria da origem das espécies.
"Enfurnado" é relativo. Darwin tinha acesso a jardins experimentais, uma estufa lotada de plantas exóticas, um viveiro de pombos, um apiário, uma coleção de fósseis e uma vida social intensa.
Uma visita à Down House, a mansão vitoriana na vila de Downe (a 27 km de Londres) onde o naturalista viveu seus últimos 40 anos mostra um Darwin pouco conhecido.
O lugar pode ser alcançado de trem a partir de Londres (são 23 minutos da estação Charing Cross, ligada ao metrô) até Orpington, de onde se segue de ônibus ou táxi por 6 km. O passeio pode se estender pelo dia, com um almoço na cantina ou num pub local, e incluir crianças.
A propriedade, que desde 1929 funciona como museu (a £10,60 --R$ 50-- a entrada), revela um experimentalista contumaz e um lorde articulado, que reunia para jantares (a mesa está posta com louça original) a fidalguia da vila para falar de política.
Na sala de visitas ainda estão o piano da mulher, Emma (sobre a qual versam as anotações em que ele pesa prós e contras do casamento, expostas ali), e o tabuleiro de gamão onde o casal disputava sua partida diária. Não foi sem inúmeras conversas com colegas nesse ambiente que nasceu a teoria da evolução.
Tudo no piso térreo foi recriado com base em fotos e diários da década de 1870 para que se parecesse com o ambiente que Charles, Emma e seus dez filhos habitaram.
Não falta nem a mesa de bilhar que tanto acomodou fósseis (da coleção, enviada ao Museu de História Natural, restaram peças como um crânio de preguiça gigante).
No piso superior, há objetos pessoais, como centenas de cadernos, alguns abertos em páginas com insights como o primeiro registro da possibilidade de "uma espécie se transformar em outra".
E há os jardins. Em sete hectares, foram replantadas espécies com as quais Darwin fazia experimentos e reconstruída a estufa, com a coleção de plantas carnívoras, orquídeas e trepadeiras estudadas pelo naturalista. Do portão no fundo, vê-se a longa estradinha por onde ele caminhava diariamente para pensar.
Down House parece, na verdade, ter sido o lugar que Darwin encontrou para continuar vivenciando a natureza após voltar à Inglaterra.