Turista com noção
Posso deixar comida no prato? E mostrar a sola do sapato? Saiba como evitar gafes ao viajar por diferentes países
Neste ano, uma dupla de comediantes americanos publicou em seu canal do YouTube, o TheFloridaMan, um vídeo satirizando o comportamento de turistas brasileiros na Disney --eles tiravam sarro do jeito, às vezes expansivo, na visão deles, com que os brasileiros pedem informações e fotografam.
Muita gente por aqui se sentiu incomodada com o vídeo, o que até provocou a gravação de um pedido de desculpas por parte da dupla.
Mas até que ponto os turistas precisam conter a animação e modificar seu comportamento? Para Silvia Helena, autora do site Brasileiros em Paris, mais importante do que aprender as normas de etiqueta é observar os costumes e ter bom senso.
"O velho ditado que diz: 'Em Roma, faça como os romanos', vale para o mundo inteiro", diz.
Principalmente em ambientes mais formais. Erick Schulz, diretor do Instituto Naradeva Shala, de cultura hindu, ressalta que muitas gafes costumam ocorrer nos templos e lugares sagrados de diversas partes da Índia.
No país, é preciso entrar descalço nesses locais, e não é de bom tom cumprimentar pessoas ou comer com a mão esquerda.
A estudante de moda Isabel Alves, 21, costuma pesquisar sobre essas particularidades na internet antes de viajar. "Fico preocupada em não ofender a cultura local, principalmente em países que são muito diferentes do Brasil."
Na questão do idioma, é bom estudar "como se dizem certas coisas básicas", afirma Elisabetta Santoro, professora de italiano na USP.
Em países que falam espanhol, a proximidade da língua pode complicar em vez de facilitar --na língua, "vaso" é copo, "copa" é taça, e "taza" é xícara, por exemplo.
NÃO SE REPRIMA
Apesar das possíveis confusões, Gian Carlo Perez, que vive há 12 anos em Buenos Aires, diz que os argentinos não costumam se ofender com as tentativas de brasileiros de falar espanhol.
"Ao contrário, eles adoram tentar o 'portunhol' também", conta. Para Perez, quem visita o país vizinho não precisa se preocupar em estudar o idioma. "As gafes são perdoadas e, na volta, resultam em boas histórias de viagem", explica ele.
Para aqueles que vão à França, também não é preciso estudar muito o francês, segundo Helena. "Conta mais a educação do que o conhecimento do idioma. Um 'bonjour' (bom dia, em francês) sempre ajuda", explica ela.
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CUMPRIMENTOS
Na Rússia, não cumprimente ninguém na soleira da porta, pois dizem que isso traz má sorte
Um aperto de mão com o braço esticado está de bom tamanho na China. Nada de abraços ou beijinhos
O contato físico também deve ser evitado no Japão. O cumprimento normal no país é a reverência, quando as pessoas abaixam as cabeças em sinal de respeito mútuo
Na Índia, não abrace nem beije ninguém. Usar a mão esquerda na hora de cumprimentar nem pensar
Na Argentina, a saudação é sempre com um beijo no rosto --seja em homens ou mulheres
GESTOS
No Irã, não faça o sinal de positivo que estamos acostumados (aquele com o dedão levantado); no país, o gesto é uma ofensa equivalente a levantar o dedo do meio no Brasil
Não estale os dedos para chamar a atenção de alguém na França: o gesto é só para cachorros
A Itália tem um grande repertório de gestos, mas nosso sinal de positivo também pode não ser entendido no país. Procure evitá-lo
No Japão, seja sóbrio: Evite gestual exagerado, risadas escandalosas e fixar o olhar no interlocutor enquanto conversa com a pessoa
NA RUA
Se precisar pedir informação nos Estados Unidos, não cutuque ninguém. O mais educado é se aproximar e dizer "excuse me" (com licença, em inglês)
Na França, é considerado mal educado conversar com as mãos no bolso e mascar chicletes em público
Evite entregar dinheiro na mão das pessoas no Japão. Em estabelecimentos comerciais, o costume é colocar o dinheiro no balcão ou em uma bandeja
Também evite assoviar nas ruas no Japão. Acredita-se que isso possa atrair fantasmas, cobras e maus agouros
No Líbano e em outros países árabes, não aponte a sola do pé para ninguém --a atitude é considerada uma afronta. Portanto, procure nunca sentar apoiando o calcanhar no joelho
Outros cuidados com os pés, desta vez na Índia: não dirija jamais a sola para um mestre, um guru ou um altar sagrado
No Japão, além de tirar o sapato para entrar em casa, é preciso fazer o mesmo ao entrar nos provadores das loja. Portanto, preste atenção nas meias que estiver usando, pois elas precisam estar em bom estado
Se estiver na casa de um russo e for viajar, não se surpreenda se a família sentar-se por alguns minutos em silêncio; em certos lugares, é um costume antes de viagens longas
PRESENTES
Na Rússia, flores são presentes comuns --mas sempre em número ímpar e em formato de buquê. Flores em vasos e em número par são apenas para cemitérios e velórios
Na China e no Japão, não é costume abrir o presente na frente dos convidados, portanto não fique ofendido se o seu pacote for guardado para ser aberto depois
Se for convidado para jantar na casa de um francês, leve sempre algum presente: flores, vinho ou alguma sobremesa
Procure não presentear chineses com objetos que foram fabricados na China. Evite dar chapéus e bonés verdes para os homens, pois dá a entender que ele é traído pela esposa
Nunca dê uma bolsa vazia para um russo; o costume é colocar uma moedinha dentro. Também nunca presenteie bebês antes do nascimento, pois isso é sinal de má sorte
COSTUMES
No Japão, chegue sempre com alguns minutos de antecedência a qualquer compromisso; o menor atraso já é motivo para que a outra pessoa vá embora
Na China, não é costume dar gorjeta em restaurantes
Na França, jamais chame a atenção do garçom levantando a mão; o correto é esperar o contato visual para ser atendido ou fazer qualquer pedido
Chamar alguém de gato pode ser um elogio no Brasil; na Argentina, porém, a palavra é relacionada ao universo da prostituição
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Foram consultados
Ana Collares, socióloga e professora da UNB; Elena Vassina, pesquisadora e professora russa, formada na Faculdade de Letras da Universidade Estatal de Moscou Lomonóssov; Elisabetta Santoro, graduada em Letras Modernas pela Università degli Studi di Bari, na Itália. professora de italiano da USP; Erick Schulz, diretor do Instituto Naradeva, de cultura hindu, e vice-presidente da Associação Brasileira de Ayurveda; Fatih Ozorpak, diretor do Centro Cultural Brasil Turquia; Gian Carlo Perez, supervisor do Receptivo da CVC na Argentina; José Farhat, professor, vice presidente do Instituto Cultura Árabe; Leandro Cordoba, há quatro anos é supervisor do Receptivo da CVC no Chile; Ling Wang, presta assessoria a empresas em assuntos relacionados à China; Lumi Toyoda, pesquisadora de Cultura, gestão e etiqueta japonesa; Silvia Helena, supervisora do Receptivo da CVC na França, responsável pelo site brasileirosemparis.com e escritora do blog para agente de viagens do PanRotas; Wataru Kikuchi, professor da área de Língua e Literatura Japonesa da USP