Análise
Selfie substitui narrativa de viagem pela 'grámatica do eu'
Ainda deve haver gente a queixar-se de que a experiência de reunir a família e ver fotografias de viagem já não existe mais. Teria sido dizimada pelas redes sociais: olhar, curtir, compartilhar, partir para a próxima.
Não se trata de saudosismo –um estranhamento do mundo onde até a fotografia, que não deixa de ser um instrumento de memória, perde-se nos bits e bytes.
É mais como um adeus à linguagem. A geração acostumada a fazer imagens no celular cortou a narrativa pela metade. A formulação "este sou eu no Corcovado" foi substituída pelo mais econômico "este sou eu". E ponto.
A nova gramática está na imagem. Marcar a fotografia com uma #hashtag é até dispensável: todos sabem quando uma selfie é uma selfie.
Em 2014, uma foto tirada de si mesmo pelo ator Bradley Cooper no Oscar desbancou a imagem da reeleição de Obama em tuítes. Ali estavam estrelas de Hollywood a dizer: "Olha a gente aqui!". Quem liga para o Oscar?
O álbum de fotografias ainda existe. Basta disposição para revisitar as milhares de imagens reunidas no Google ou no Facebook.
O que muda do velho álbum para a experiência das redes é o deslocamento que a selfie produz. Quem viaja sozinho pode pedir para alguém tirar uma foto ou apoiar uma câmera com um timer em um tripé ou outro lugar. Ainda que não seja tão prática, a imagem dá destaque à paisagem, não à pessoa. Mas hoje não importa (muito) que eu esteja no Corcovado. Agora, estou no Instagram.
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DICAS PARA TIRAR SUA FOTO
PAU DE SELFIE O bastão ajuda, sim, quem está sozinho a enquadrar melhor. Evite incomodar os vizinhos
TEMPORIZADOR Se sua câmera tiver recurso de intervalo de tempo, 10 s são suficientes para entrar no quadro e arrumar o cabelo
LENTES Há lentes que encaixam no celular. Uma grande-angular enquadra mais da paisagem
TRIPÉ Use um tripé para afastar a câmera ao fazer um autorretrato
BACKUP Faça backups num serviço como Dropbox, Flickr ou Google Photos