Veja três livros sobre filosofia avaliados como ótimos pelo 'Guia'
O Circuito dos Afetos
De vigor jovial tão espantoso quanto sua maturidade intelectual, o filósofo e colunista da Folha Vladimir Safatle dá um novo e poderoso passo como um dos nossos maiores pensadores contemporâneos. Retoma e expande sua já conhecida articulação magistral entre tradição dialética, teoria social e psicanálise, para propor "a filosofia necessária para uma teoria política da transformação" em tempos de crise do capitalismo e das velhas alternativas revolucionárias.
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O Circuito dos Afetos, por Vladimir Safatle |
Para tanto, mostra a conexão entre os modelos hegemônicos de poder e (des)ordem social e determinadas configurações afetivas do "corpo" pessoal e político. E aponta a necessidade de superação do individualismo moderno, calcado que é na lógica ilusória e agressiva que já Lacan discutia ao pensar a gênese do eu no estádio do espelho.
De Hobbes aos atuais brados securitários e gozo sensacionalista em torno da violência cotidiana e terrorista, o medo, recalque artificial de nosso verdadeiro desamparo (Freud), é imposto como afeto determinante de uma vida —social e subjetivamente— repressiva, estagnada e infeliz. (CAIO LIUDVIK)
AUTOR: Vladimir Safatle
EDITORA: Cosac Naify
QUANTO: R$ 59,90 (512 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo
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Metafísicas Canibais
Esta —a minha— é uma pequena resenha sobre outra bem maior, em todos os sentidos. Maior e mais maliciosa, porque borgianamente se dedica a um livro imaginário, que o próprio resenhista, Eduardo Viveiros de Castro, gostaria de ter escrito: "O Anti-Narciso", em homenagem ao "Anti-Édipo", de Deleuze e Guattari.
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Metafísicas Canibais, por Eduardo Viveiros de Castro |
Consagrado no Brasil e fora, o antropólogo carioca aprofunda a sua teoria do perspectivismo, segundo a qual, para os povos ameríndios, o mundo é povoado de muitas espécies que se veem, cada qual, como as verdadeiramente "humanas" em comparação com as demais.
O livro, ou a "resenha", explora com maestria as implicações "antinarcísicas" dessa metafísica para a antropologia (não só a disciplina acadêmica, mas a teoria geral do humano) do Ocidente. Mais que isso, se indaga sobre o quanto o fazer e pensar etnológicos, apesar do "carma" colonialista das origens, não é estruturalmente antinarcísico, influenciado diretamente pelo "Outro" -que assim é mais que objeto: é eixo perspectivista que nos ensina a achar bonito também o que não é espelho. (CAIO LIUDVIK)
AUTOR: Eduardo Viveiros de Castro
EDITORA: Cosac Naify
QUANTO: R$ 45 (214 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo
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Fontes Passionais da Violência
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Fontes Passionais da Violência, por vários autores |
Esse novo volume da série "Mutações", de Adauto Novaes, é de especial impacto para pensarmos, como propõe, de ângulos novos, e com rara densidade (vertida porém em ensaios acessíveis e agradáveis), os impasses do contemporâneo.
Tem origem em conferências de intelectuais brasileiros e franceses, no ano passado, no bojo do centenário de uma guerra que ainda "não terminou", em certo sentido.
O conflito mundial de 1914, embora muitas vezes rebaixado a preâmbulo do apocalipse hitlerista, foi decisivo para a transformação da ideia e da escala da violência, essa paixão ancestral agora a serviço de uma civilização tecnocientífica que embrutece a capacidade reflexiva e ética do ser humano.
Entre os autores convidados, destaques como Marcelo Coelho, Vladimir Safatle, Franklin Leopoldo e Silva e Frédéric Worms, um dos maiores especialistas mundiais na obra do filósofo francês Henri Bergson. (CAIO LIUDVIK)
AUTORES: vários
ORGANIZAÇÃO: Adauto Novaes
EDITORA: Sesc SP
QUANTO: R$ 70 (540 págs.)
AVALIAÇÃO: ótimo