Com Fred Astaire, 'A Roda da Fortuna' é uma aula de ritmo e elegância
Os Deuses da Peste
Terceiro longa do prolífico diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, "Os Deuses da Peste" foi lançado em julho de 1970 na Alemanha.
É da primeira fase de sua carreira, da época em que ele contava com uma trupe de atores que se revezavam também nas funções técnicas (ou vice-versa), a época do Antiteatro.
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Os Deuses da Peste, por Rainer Werner Fassbinder |
Franz Walsh (Harry Baer) acaba de sair da prisão. Busca reencontrar amigos, familiares e a namorada Johanna (Hanna Schygulla). Ele parece ter perdido a alegria de viver, passa pelos lugares como se estivesse prestes a se suicidar. Fassbinder é mestre no retrato desse tipo de figura marginalizada pela lei e pela própria personalidade, em constante desconforto com o mundo e a sociedade.
"Os Deuses da Peste" é notável, principalmente na representação de um mal-estar típico da época. Mas Fassbinder é tão bom que realizou pelo menos uns 20 filmes melhores, até morrer, em 1982. (SÉRGIO ALPENDRE)
DIRETOR: Rainer Werner Fassbinder
DISTRIBUIDORA: Magnus Opus
QUANTO: R$ 39,90
AVALIAÇÃO: muito bom
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A Roda da Fortuna
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A Roda da Fortuna, por Vincente Minnelli |
Bastaria uma cena para colocar este musical de Vincente Minnelli entre os maiores filmes já feitos. Os estilos de Fred Astaire e Cyd Charisse são distintos demais, ameaçando a harmonia de um espetáculo para o qual ambos foram contratados. Astaire representa a dança do passado, do vaudeville, enquanto a jovem Charisse é um sopro de renovação e elegância. Eles andam pelo parque pensando numa maneira de se acertarem. De repente, como num passe de mágica possível apenas em musicais hollywoodianos (e nos de Jacques Demy), seus passos ordinários se tornam passos de dança, e todas as diferenças de estilo se transformam em continuidade, herança, celebração.
Claro está que o filme nos traz muito mais. É uma verdadeira aula de ritmo, elegância e movimentação. Como outros musicais de Minnelli (principalmente "Agora Seremos Felizes" e "Sinfonia de Paris"), "A Roda da Fortuna" é impossível de se ver sem que um sorriso duradouro brote em nossos rostos (SÉRGIO ALPENDRE)
DIRETOR: Vincente Minnelli
DISTRIBUIDORA: Classicline
QUANTO: R$ 29,90
AVALIAÇÃO: ótimo
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O Amigo da Minha Amiga
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O Amigo da Minha Amiga, por Éric Rohmer |
"Os amigos dos meus amigos são meus amigos." O dito colocado na abertura de "O Amigo da Minha Amiga" fornece uma "verdade" sobre a resistência moral da amizade que o diretor Éric Rohmer testa, desconfia, desmente e confirma.
Realizado em 1987, o filme encerra o ciclo das "Comédias e Provérbios", série à qual o diretor francês se dedicou ao longo dos anos 1980, depois de concluir os "Contos Morais" e antes de iniciar os "Contos das Quatro Estações". A reunião dos filmes em ciclos dá a impressão de que Rohmer conta sempre as mesmas histórias com pequenas variações.
Aqui, ele acompanha as oscilações sentimentais do quarteto Blanche, Léa, Alexandre e Fabien, no qual ela fica a fim dele, fica com o outro, que namora a amiga, que por fim troca de namorado e tudo acaba bem.
A primeira impressão é de uma comédia romântica bobinha. Rohmer gostava de filmar como seus idolatrados precursores escreviam livros, de modo romanesco. Assim, demonstra que, quando se trata de amor, continuamos a reagir como crianças. (CÁSSIO STARLING CARLOS)
DIRETOR: Éric Rohmer
DISTRIBUIDORA: Magnus Opus
QUANTO: R$ 39,90
AVALIAÇÃO: ótimo
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O Jardim
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O Jardim, por Derek Jarman |
O inacreditável retorno dos diversos matizes de conservadorismo explícito que têm nos assolado torna oportuno o passeio pelo libertário jardim cinematográfico que o cineasta independente britânico Derek Jarman cultivou nas últimas décadas do século passado: de "Sebastiane" (1976), seu primeiro longa, pode-se chegar a este belo, ainda que permeado de sombras, "O Jardim", de 1990.
A película iniciou seu testamento, que culminaria com a radical experiência de "Blue", de 1993 -o filme que exerce a potência de não ter imagens- às vésperas de sua morte, acontecida em 1994.
Aqui, Jarman dispensa enredos e visita o imaginário cristão buscando figurar múltiplas possibilidades amorosas em situações de injunção social. Faz deslizar poeticamente imagens em texturas fílmicas diversas (preto e branco, cor, Super-8, sobreposições) e mistura linguagens artísticas (música, teatro, dança, poesia, artes plásticas): uma "Paixão Segundo D.J." ousada e lírica, homoafetiva e punk, sensível e crítica ao consumismo. (ROBERTO ALVES)
DIRETOR: Derek Jarman
DISTRIBUIDORA: Magnus Opus
QUANTO: R$39,90
AVALIAÇÃO: muito bom
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Os Miseráveis
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Os Miseráveis, por Boleslawski e Milestone |
Coleção que contempla as duas melhores adaptações do clássico "Os Miseráveis", de Victor Hugo, obra-prima sobre dois antagonistas de grande integridade moral. A de 1935 é dirigida por um cineasta injustamente esquecido, de origem russa: Richard Boleslawski. Tem Fredric March e Charles Laughton nos papéis principais, respectivamente, o do ex-prisioneiro Jean Valjean e o do inspetor Javert, obcecado em perseguir Valjean. Rochelle Hudson interpreta Cosette, a filha adotiva de Valjean.
Com direção de fotografia do grande Gregg Toland, esta versão é uma das provas de que o cinema americano dos anos 1930 é muito mais valioso do que pensam os historiadores. Era um período de constante experimentação: som, iluminação, estratégias narrativas. É também uma aula de adaptação literária.
A outra versão, dirigida por Lewis Milestone em 1952, é inferior, mas mostra um diretor irregular num bom momento e trabalhando com bons atores: Michael Rennie, Debra Paget, Cameron Mitchell, Robert Newton e Sylvia Sidney. (SÉRGIO ALPENDRE)
DIRETORES: Richard Boleslawski e Lewis Milestone
DISTRIBUIDORA: Classicline
QUANTO: R$ 49,90
AVALIAÇÃO: ótimo
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Loucuras de uma Primavera
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Loucuras de Uma Primavera, por Louis Malle |
Voz dissonante da nouvelle vague francesa (muitos dizem que ele nem pertence ao movimento), Louis Malle tem, grosso modo, dois tipos de filmes: a) os de pretensão autoral, que podem atingir tanto o sublime ("Trinta Anos Esta Noite"), quanto o patético ("Lua Negra"), e vários níveis intermediários, como "Lacombe Lucien"; b) os que revelam sua habilidade de artesão, faceta que surpreendeu a crítica na segunda metade dos anos 1980, com dois belos filmes: "Adeus, Meninos" e este "Loucuras de uma Primavera".
As barricadas irrompem em Paris, no conturbado maio de 1968, enquanto, no campo, Milou (Michel Piccoli) perde a mãe. A família se reúne para o velório e passam logo à discussão sobre a herança e a venda do casarão onde Milou quer continuar vivendo.
Filme primaveril, como indica o título original ("Milou em Maio"), com atores que brilham: Piccoli é soberano, mas ainda tem Miou-Miou, Michel Duchaussoy, Paulette Dubost, François Berléand e Dominique Blanc. Todos a nos lembrar que Malle era, sobretudo, um bom diretor de atores. (SÉRGIO ALPENDRE)
DIRETOR: Louis Malle
DISTRIBUIDORA: Magnus Opus
QUANTO: R$ 39,90
AVALIAÇÃO: muito bom