Sem lirismos sentimentais, Tati Bernardi reflete sobre a vida e a dor
DEPOIS A LOUCA SOU EU
Algumas das crônicas de Tati Bernardi, colunista da Folha, reunidas nesta coletânea, parecem uma espécie de ensaio pessoal, com reflexões sobre a vida e a dor que passam longe da autopiedade ou de lirismos sentimentais.
A autora se aproveita de temas recorrentes, como o pânico, a depressão e o uso de drogas lícitas, para propor como material literário a aceitação da própria condição psicológica e de seu passado, marcado pela herança de uma cultura pop dos anos 1980 e 1990.
Divulgação |
Capa de "Depois a Louca Sou Eu" |
A alguns pode parecer uma excessiva exposição pessoal de alguém que se mostra como "um trem fantasma descarrilhado cujo condutor está de ponta-cabeça". Mas isso é apenas a aparência. Pois nem importa tanto saber se Tati Bernardi, a autora, é mais ou menos parecida com a figura projetada por ela no livro, se é tão divertida ou se sofre tanto na vida real como diz na obra. O texto, os entendimentos arregimentados ali, como literatura, é isso o que importa. E não é pouco. (ROBERTO TADDEI)
DEPOIS A LOUCA SOU EU
QUANTO: R$ 34,90 (144 PÁGS.) E R$ 23,90 (E-BOOK)
AUTOR: TATI BERNARDI
EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
*
A MÁQUINA DE CAMINHAR
O romancista Cristovão Tezza, autor de "O Filho Eterno" e "O Professor", foi colunista do jornal paranaense "Gazeta do Povo" durante mais de seis anos. Este livro, organizado por Christian Schwartz, é a segunda antologia desses textos, reunindo as crônicas escritas principalmente entre 2012 e 2014, ano em que o escritor interrompeu a colaboração e se despediu como cronista.
Theo Marques/Folhapress | ||
O escritor Cristovão Tezza |
A crônica "Esteira Sherazade" é que fornece título ao livro, pois faz referência a uma esteira de caminhar, por muito tempo destinada a outras funções na casa do autor, como a de ser cabide de roupas. Certo dia, Tezza decidiu reativá-la, também com funções literárias, passando a ler enquanto caminhava. Um bom tema e uma boa imagem para a crônica, esse gênero de fôlego curto, em constante andamento e meio desconjuntado.
Divulgação |
Capa de "A Máquina de Caminhar" |
Tezza se sai bem no gênero, que ele vincula fortemente a uma imagem fantasmagórica do leitor, além de definir a crônica como uma conversa em voz alta. Seus temas vão da literatura à política, passando pelos costumes e, eventualmente, pelo relato de algum episódio da própria vida, seja de férias na praia, seja como palestrante no México, na China e no Japão. E mesmo o clássico tema da falta de assunto e da crise imaginativa rendem ótimos momentos no texto curto do autor, que encontrou um ritmo e uma coloquialidade que tornam suas crônicas ao mesmo tempo densas e espirituosas.
Além das crônicas, o volume traz ao final um ensaio, "Um Discurso Contra o Autor", em que Tezza fala da experiência como cronista e tenta definir o gênero com mais precisão a partir de dois textos de Machado de Assis. (BRUNO ZENI)