Luta de intelectual pelos direitos da mulher guia livro; veja mais ensaios
REIVINDICAÇÃO DOS DIREITOS DA MULHER
No final do século 18, quando as mulheres não tinham acesso aos direitos básicos na Inglaterra e não eram consideradas cidadãs pela Constituição gerada pela Revolução Francesa, Mary Wollstonecraft (1759-1797) enfrentou o establishment com "Reivindicação dos Direitos da Mulher", que defendia pioneiramente a emancipação feminina.
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Intelectual libertária, Mary viveu de acordo com suas convicções e manteve romances sem se importar com as rígidas convenções morais da época.
No prefácio, Maria Lygia Quartim de Moraes a apresenta também como ativista das causas dos oprimidos, tendo participado do importante movimento abolicionista inglês.
Mary Wollstonecraft morreu aos 38 anos devido a complicações do parto de sua filha, Mary Shelley, que escreveria "Frankenstein".
A edição brasileira traz notas necessárias e esclarecedoras para a compreensão do contexto. (OSCAR PILAGALLO)
AUTORA Mary Wollstonecraft
TRADUÇÃO Ivania Pocinho Motta
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 53 (256 págs.)
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CAIO PRADO JÚNIOR - UMA BIOGRAFIA POLÍTICA
Mesmo dando pouca importância a aspectos pessoais de seu personagem, Luiz Bernardo Pericás faz uma narrativa envolvente da vida de Caio Prado Júnior (1907-1990), focando quase sempre a evolução de seu original ideário comunista.
O ensaio político-biográfico garimpa fatos que, direta ou indiretamente, estão relacionados à trajetória intelectual daquele que o autor considera, com razão, "um dos maiores historiadores brasileiros".
Pericás capta bem o lugar do autor do clássico "Formação do Brasil Contemporâneo" no campo da esquerda. Caio Prado foi tratado como reformista por ter ousado descartar a cartilha do PCB e propor soluções a partir de uma realidade concreta, que ajudou a identificar.
Faltou enfatizar, no entanto, o debate com os conservadores, às vezes reduzido aos inconvenientes familiares, devido à origem aristocrática de sua família. (OSCAR PILAGALLO)
CAIO PRADO JÚNIOR - UMA BIOGRAFIA POLÍTICA
AUTOR Luiz Bernardo Pericás
EDITORA Boitempo
QUANTO R$ 63 (504 págs.)
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41 INÍCIOS FALSOS
Em tempos de éthos jornalístico na berlinda, nada como uma nova antologia de ensaios sobre artistas e escritores de Janet Malcolm, transgressiva autora de não ficção que afirmou: "Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável".
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A célebre abertura de "O Jornalista e o Assassino" (1990), premissa para se discutir a conduta do jornalista que enganou um criminoso hediondo ao reportar sua vida (basicamente, "está correto que um escritor traia a pessoa sobre a qual está escrevendo, quando essa pessoa é um assassino depravado?", segundo o prefaciador Ian Frazer), é determinante para o julgamento implícito dos personagens deste novo livro.
J.D. Salinger, por exemplo, sai-se bem ao final da defesa redentora de sua obra feita por Malcolm, inconformada com a violentíssima recepção crítica aos últimos textos do pai de Seymour Glass. De Joseph Mitchell a David Salle, todos brilham sob a luz intransigente da autora. (JOCA REINERS TERRON)
41 INÍCIOS FALSOS
AUTOR Janet Malcolm
TRADUÇÃO Christina Baum
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 54,90 (384 págs.) e R$ 37,90 (e-book)
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O SONHO, O TRANSE E A LOUCURA
Sociólogo que participou da missão francesa de professores que ajudaram a fundar a USP, Roger Bastide expõe nestes ensaios e conferências a beleza de uma obra imantada pelo racionalismo da terra de Descartes e Durkheim, retemperado pela abertura afro-brasileira ao sagrado, às fronteiras nem sempre "claras e distintas" entre consciência e inconsciente, real e imaginário, conceito e paixão.
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Psicologia e sociologia também são articuladas sem ecletismo tolo, mas grande refinamento e potência cognitiva, no exame da natureza e dignidade teórica e humana, por assim dizer, desses três tipos de estados de alteração mental. (CAIO LIUDVIK)
O SONHO, O TRANSE E A LOUCURA
AUTOR Roger Bastide
TRADUÇÃO Carlos Eugênio Marcondes de Moura
EDITORA Três Estrelas
QUANTO R$ 69,90 (392 págs.)
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NO TEMPO DAS CATÁSTROFES
Apesar do estilo algo tortuoso, típico de certo ensaísmo francófono, "No Tempo das Catástrofes", da belga Isabelle Stengers, traz à tona um debate relevante: como a sociedade deve reagir à ameaça da mudança climática?
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A autora não tem uma resposta. Pretende apenas provocar a perplexidade do leitor. A ideia é que o mal-estar causado por sua intervenção seja o agente da guinada necessária.
Em linha com os pesquisadores mais sérios, ela constata que, "imprudentemente, uma margem de tolerância foi de fato ultrapassada", o que determina a urgência da ação em nome de Gaia, o "planeta vivo" a que se referiu James Lovelock nos anos 1970.
Uma iniciativa exemplar, argumenta, foi a reação contrária, na Europa, à introdução no mercado dos organismos geneticamente modificados.
Ela adverte, porém, que não se deve de repetir o erro de fabricar uma perspectiva orientada por uma visão humanista da salvação. (OSCAR PILAGALLO)
NO TEMPO DAS CATÁSTROFES
AUTORA Isabelle Stengers
TRADUÇÃO Eloisa Araújo
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 34,90 (160 págs.)
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A ESPIRAL DA MORTE
O debate sobre a questão climática costuma transcorrer em terreno pantanoso, em que céticos e alarmistas esgrimem dados que o leigo não tem como avaliar.
Ou melhor, não tinha. A partir de agora, diante da dúvida, bastará consultar o livro de Claudio Angelo, que surge com vocação para referência.
Jornalista especializado, o autor consolidou, na Folha e em outros veículos, uma voz crítica e equilibrada em mais de uma década de relatos sobre o aquecimento global.
Com base na informação científica mais qualificada, Angelo descarta o papel dos "negacionistas", financiados pelo lobby dos combustíveis fósseis e alinhados à direita americana, e destaca a visão da comunidade científica, que há anos alerta para a ameaça das emissões de gases efeito-estufa.
A obra consumiu três anos, entre pesquisas, viagens, entrevistas e escrita. Trata-se de uma grande reportagem, que se lê como um thriller, em que não faltam aventura, humor e metáforas que ajudam na digestão da informação densa. (OSCAR PILAGALLO)