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Arte digital é posta em xeque com abertura do Festival de Linguagem Eletrônica
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ADRIANA FERREIRA DA SILVA
DE SÃO PAULO
A partir de hoje, com a abertura do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, a avenida Paulista se torna um corredor das artes digitais, com obras construídas a partir de câmeras microscópicas, painéis de LED, computadores e outros suportes eletrônicos.
Enquanto, numa ponta da via elas ocupam o Centro Cultural Fiesp, que abriga uma efervescente edição do File (leia ao lado), na outra, o Instituto Itaú Cultural realiza a última edição de sua bienal de arte e tecnologia "Emoção Art.ficial 6.0".
O anúncio de que este seria o derradeiro ano da mostra, feito há um mês por Marcos Cuzziol, gerente do núcleo de inovações do Itaú, gerou críticas entre artistas e curadores. Principalmente porque, assim como o festival, "Emoção" é um sucesso.
Cada evento registra de 50 a 90 mil visitantes por edição --atraídos pela possibilidade de interagir com as obras, e não apenas contemplá-las.
"Criamos o 'Emoção' para entender este tipo de expressão artística, o que exigia um espaço dedicado a ela", explica Cuzziol. "Agora, queremos inserir essas obras num contexto mais amplo da arte contemporânea", diz ele.
Apesar de concordarem que as novas mídias devem ser integradas ao circuito, curadores e artistas ouvidos pela Folha consideram a perda crucial para uma área que é expressão da contemporaneidade, mas que não está presente em galerias, museus, feiras e bienais.
Gabo Morales/Folhapress | ||
O artista Feco Hamburger brinca com sua obra, "Termografia II - Modo Manual", que será exposta no FILE |
"Não existe uma absorção desta produção no sistema de arte como um todo", diz Giselle Beiguelman, midiartista e professora da FAU-USP.
"Ainda há incompreensão e desinteresse por essa produção", completa Priscila Arantes, curadora do Paço das Artes. "Eventos como o File são importantes para seu fortalecimento e difusão."
Entre as razões para esta exclusão, há uma aversão de curadores do circuito de arte tradicional, que tratam as peças como meros brinquedos, por seu caráter interativo.
"Como os softwares são acessíveis e baratos, existe uma overdose de produtos banais", aponta Beiguelman. "Mas é uma pobreza pensar que a produção artística que se faz agora se reduz a isso."
Outro motivo apontado é a complexidade das instalações, que necessitam de espaço e manutenção. "Há trabalhos que faço com engenheiros, profissionais de mecatrônica. Qual curador aceita lidar com tantos riscos?", questiona Lucas Bambozzi, artista visual e pesquisador.
Teixeira Coelho, curador do Masp, aceitou esses riscos ao convidar Eder Santos para fazer uma interpretação em 3D de "O Banho de Diana", pintura do século 16 de François Clouet, mas enfrentou a falta de patrocínio.
"É muito mais fácil e simples para o patrocinador reconhecer o valor de um mestre do passado do que investir numa proposta que terá de ser desenvolvida apenas quando os recursos para sua produção aparecerem. Apostar no escuro ainda é algo raro em arte", diz Coelho.
Enquanto o Itaú não chega ao formato de uma mostra que englobe novas mídias, o que, segundo Cuzziol, ocorrerá em 2014, o público tem até o fim do mês para fazer seu percurso digital. E chegar às suas próprias conclusões.
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