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03/12/2012 - 03h00

Crítica: História começa bem, mas derrapa com tipos bidimensionais e domesticados

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NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A teoria estética gosta de frisar que existem correspondências estruturais entre as artes e a literatura. São chamadas de "correspondências intersemióticas".

Publicação de conto inédito do pintor Carybé celebra encontro com a Bahia
Elke Maravilha interpretou Iaba em filme de 1977

Na prática, elas aparecem, por exemplo, quando comparamos um poema e uma pintura ou uma peça musical do barroco, do romantismo etc., e percebemos que para certos procedimentos poéticos existem procedimentos pictóricos ou musicais análogos.

Então, quando vem à luz, digamos, uma coletânea de poemas de um mestre das artes plásticas, o que mais se espera, o maior desejo do leitor, é que a mesma potência de sua obra pictórica esteja presente no trabalho literário.

É o que mais se espera agora, com a publicação de "Iaba", conto de Carybé.

Sendo assim, é bom que seja dito sem rodeios: o Carybé pintor, gravurista e desenhista que todos admiram não está integralmente presente no Carybé contista. Da mesma forma que o mestre das artes plásticas Candido Portinari está muito distante do Portinari poeta.

No conto de Carybé, Iaba, uma diabólica mulher fatal, surge para seduzir Antonio e arruinar a sua vida. O problema é que a diaba está gostando demais de ser mulher.

O conto começa bem, com um vocabulário colorido e uma sucessão malandra de personagens e mandingas.

Nas primeiras páginas, o sobrenatural invade com alegria e humor o cotidiano. Essa ação inicial lembra muito os óleos e as serigrafias de Carybé, retratando cenas da Bahia sensual, povoada de tipos pitorescos e luminosos.

Mas logo a narrativa vai perdendo a força, talvez por se concentrar em apenas dois personagens bidimensionais, quando o forte de Carybé sempre foi a multidão.

Devagar, o elemento sobrenatural também é reduzido a zero. O vocabulário e as expressões populares, mais jocosos, dão lugar a uma linguagem bem-comportada, convencional.

A tensão inicial é pacificada e os protagonistas, Antonio e Iaba, agora domesticados, quase desaparecem.

Quem passa a prender o interesse são os três coadjuvantes atrapalhados: um papagaio e dois porcos, todos do mal, acompanhantes da diaba. Pena que, bem antes do final, até esse trio sai de cena: são comidos.

NELSON DE OLIVEIRA é doutor em letras pela USP e autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral).

IABA
AUTOR Carybé
EDITORA Instituto Carybé
QUANTO não definido (106 págs.)
AVALIAÇÃO regular
LANÇAMENTO dia 6, às 19h, no Instituto Carybé (rua Medeiros Neto, 9; Salvador, Bahia; apenas para convidados)

 

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