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Bailarina flamenca prepara espetáculo inspirado em Niemeyer
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DE SÃO PAULO
Quando entrou no escritório de Oscar Niemeyer para apresentar o projeto de um espetáculo sobre ele, a bailarina flamenca Maria Pagés foi prontamente interrompida pelo já centenário arquiteto: "dança para mim".
Foi a martelada final para montar "Utopia", um espetáculo de flamenco todo baseado na vida e obra do arquiteto, com cenário e figurino que evocam a obra de Niemeyer e até um samba inédito sobre ele.
O já rodou a Europa e agora faz turnê em países como Rússia, Japão e Coreia do Sul. Para o Brasil, a companhia ainda espera uma boa proposta, segundo contou Pagés à Folha. Mês passado, durante turnê em Madri, a bailarina, Prêmio Nacional de Dança da Espanha, recebeu a reportagem em seu apartamento na capital espanhola.
Nos cerca de 90 minutos de espetáculo, Pagés e sua companhia vestem cinza, em referência ao concreto, "que é base de toda a obra de Niemeyer", diz.
O comunismo também é lembrado no espetáculo através de referências sutis, caso do vestido principal de Pagés, todo em vermelho. "Não há simbologia política na cor, embora se respingue nela", disse. A curva é o elemento principal do figurino e do cenário minimalista, composto por barras flexíveis que se movem evocando obras como as cúpulas projetadas por Niemeyer e o morro do Corcovado, no Rio.
"As curvas de Niemeyer são como um baile contínuo, e o movimento de uma bailaora (dançarina de flamenco) está sempre evocando esta curva. Não existe a linha reta para nós", explicou a bailarina, que dança ao som de uma trilha sonora pensada pelo niteroiense Fred Martins e artista o guitarrista flamenco Rubén Lubaniegos. Ambos se apresentam ao vivo no espetáculo, cuja trilha sonora também passa por poemas musicados de Niemeyer, Baudelaire e Mario Benedetti.
A ideia de fazer um espetáculo todo baseado em Niemeyer surgiu quando a bailarina viu uma exposição do arquiteto em exibição na época em Madri, onde entrou por acaso para proteger-se de um temporal atípico na capital espanhola.
"Foi como encontrar um companheiro, suas inquietudes estão muito ligadas às minhas. E acho que ele faz eco com este momento de crise na Europa, não só econômica como de ética e de consciência brutal, de acúmulo desnecessário", contou.
Os convites para ir ao Brasil já surgiram, mas Pagés disse ainda estar em busca de uma proposta com "cenário, condições técnicas e artísticas independentes para que a mensagem contundente".
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