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28/01/2013 - 03h13

Crítica: Hesitações tiram a força de melodrama de Paulo Caldas

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INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Com "País do Desejo", Paulo Caldas realiza uma interessante inflexão em sua obra. Tematicamente, troca o campo e a cidade nordestinos (e até o exterior) de "Deserto Feliz" por lugares imaginários como Eldorado e Pasárgada.

Glauber Rocha e Stanley Kubrick foram inspiração

Formalmente, passa do drama (e ante cangaço e documentário) ao melodrama, onde inscreverá o destino errante de seus personagens.

Há, para começar, uma pianista (Maria Padilha) que sai de Eldorado, mitológico local latino-americano (e glauberiano), para tocar na não menos mitológica Pasárgada, a terra ideal de Bandeira.

Ela tem a saúde frágil, o que a obriga a dolorosas sessões de hemodiálise. Ainda assim vai a Pasárgada, onde o padre Fábio Assunção sustenta, contra o arcebispo local, o aborto legal a que se submete uma menina de 12 anos, violentada por um tio. O arcebispo excomunga a menina, a mãe e o médico.

Divulgação
Fábio Assunção como o padre que se apaixona por pianista
Fábio Assunção como o padre que se apaixona por pianista

Este começo é forte, pois caracteriza o projeto: um melodrama, antes de tudo um exercício de "mise-en-scène". O desafio, porém, é pesado, pois o melô é exigentíssimo.

Uma pianista doente dos rins, que desmaia enquanto toca para uma plateia semideserta numa noite chuvosa? Lembra filme da Vera Cruz... E há ainda a garota que, após a excomunhão, senta diante da igreja e abaixa a cabeça como se cogitasse se matar.

Tudo nessa parte da ficção é frequentado pela iminência da morte, como se as vidas estivessem suspensas por um fio, prontas a desmoronar.

É a primeira metade do filme, bem mais forte que a segunda, quando as duas histórias se encontram e o padre sente-se atraído pela mulher.

Quando se fala na exigência do melô é porque o gênero não suporta erro. Pede uma exatidão da direção de atores que Caldas parece atingir com Padilha; já a interpretação de Assunção tem altos e baixos (em parte devidos a diálogos sofríveis).

Mais delicadas são as questões de roteiro: o sumiço de uma personagem, amiga da pianista, é a mais evidente.

O amor proibido parece se ressentir de um investimento total: o desmedido do amor é tratado com prudência, quando talvez fosse mais efetivo se acompanhado de adesão da "mise-en-scène" ao gesto.

Como o melô não perdoa tais hesitações, frustra em certa medida o projeto, onde no entanto há momentos como a soturna e memorável cena em que um grupo canta parabéns a uma morta-viva. Cenas de excesso e insânia assim merecem ser vistas.

PAÍS DO DESEJO
DIREÇÃO Paulo Caldas
PRODUÇÃO Brasil/Portugal, 2011
ONDE Espaço Itaú de Cinema/Frei Caneca e Playarte Bristol
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular

 

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