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25/02/2013 - 03h33

Feito em homenagem ao irmão, livro póstumo de Maurice Sendak é lançado nos EUA

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FRANCISCO QUINTEIRO PIRES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Enquanto escrevia e ilustrava "My Brother's Book", Maurice Sendak atravessava um prolongado período de luto. Sua batalha cotidiana era contra uma saúde cada vez mais frágil.

"Onde Vivem os Monstros", clássico do autor, está fora de catálogo no Brasil

"Apesar da imensa fadiga, ele concentrava todas as suas energias naquele livro, um adeus ao seu irmão Jack e ao seu companheiro, o psicanalista Eugene Glynn, morto em 2007", contou o dramaturgo Tony Kushner, amigo próximo do autor, à Folha.

Lançado há uma semana nos Estados Unidos, "My Brother's Book" (HarperCollins, 32 págs., cerca de R$ 37) é o trabalho final de Maurice Sendak (1928-2012).

"Representa o seu livro mais pessoal, feito para adultos", afirma Kushner, autor do roteiro de "Lincoln" e da peça "Angels in America".
Para ele, a obra reflete o desejo do escritor americano de se reunir com as pessoas que mais amou e que já haviam partido.

Kushner, que foi colaborador de Sendak na adaptação da ópera "Brundibár", relata que a vida do autor de "Onde Vivem os Monstros" foi "muito complicada e reservada".

"Esse isolamento aumentou perto do fim."

Em "Tell Them Anything You Want" (2009), documentário de Spike Jonze, Sendak confessou a causa da sua maior angústia.

Sendo um autor de livros infantis, ele teve de esconder sua homossexualidade por quase seis décadas.

Divulgação
capa do livro "My Brother's Book" , de Maurice Sendak
capa do livro "My Brother's Book" , de Maurice Sendak

VOLTA AOS PRIMÓRDIOS

"My Brother's Book" é um poema sobre a relação interrompida e depois restaurada entre os irmãos Jack e Guy.

Jack tem o mesmo nome do irmão mais velho de Sendak, também um escritor, morto em 1995.

Ele foi responsável, segundo Sendak, "por dar sentido à falta de compreensão sobre o mundo adulto".

"Só entendia os meus pais, que eu odiava, com o auxílio do meu irmão", revelou em entrevista para Jonze.

O escritor Gregory Maguire, amigo de Sendak por 35 anos, vê em "My Brother's Book" uma volta do autor aos primórdios da carreira, iniciada em 1951.

"A linguagem do poema é intencionalmente arcaica e remete a William Shakespeare", diz Maguire.

"Os versos são longos e o seu ritmo pode fazer a maioria das crianças perder o fio da narrativa já na terceira página."

Professor da Universidade Harvard, Stephen Greenblatt assina o prefácio de "My Brother's Book".

Ele compara o livro póstumo de Sendak a "Conto de Inverno", uma das últimas peças de Shakespeare.

"Citada literalmente, 'Conto de Inverno' serviu de inspiração por tratar de perdas trágicas e redenções misteriosas", diz Greenblatt, ganhador do Prêmio Pulitzer de não ficção no ano passado pelo livro "A Virada - O Nascimento do Mundo Moderno" (Companhia das Letras).

"No mundo visionário de Sendak, tal como na fase mais madura de Shakespeare, o amor com frequência
se transforma em ameaça, e o paraíso seguro só é atingido depois de acontecimentos terríveis."

ATEU COM DEUSES

Embora se dissesse ateu, Sendak admitiu reverenciar "alguns deuses". Shakespeare era um deles, assim como o poeta William Blake, cujos desenhos, afirma Greenblatt, claramente inspiram as ilustrações de "My Brother's Book".

De acordo com o professor de Harvard, Shakespeare foi ridicularizado nas últimas obras por ter dado uma guinada na sua dramaturgia.

"Ele percebeu que, para chegar à nascente do seu poder criativo, precisava explorar a criança milagrosamente intacta dentro dele."

Era mais ou menos isso o que Sendak fazia, na opinião de Paul O. Zelinsky, autor premiado de livros infantis.

Pouco antes de Sendak morrer, Zelinsky foi à casa daquele que considera um mentor. Ali conheceu o esboço de "My Brother's Book".

"Esse livro póstumo segue um certo padrão, pois Sendak nunca produziu para as crianças", acredita.

"Ele desenhava e escrevia para si mesmo. Era uma tentativa de acessar partes da sua vida interior."

 

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