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Mexicano desenha o tempo dos presídios na Bienal
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SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Dentro ou fora de uma cela, o tempo vale o mesmo. Pelo menos é o que tenta provar a obra obsessiva do mexicano Antonio Vega Macotela.
Acompanhe a cobertura completa da Bienal
Ele expõe agora na Bienal de São Paulo um registro de 365 trocas de favor entre ele e alguns dos 4.000 detentos do presídio de Santa Marta, na Cidade do México. Por quatro anos, Macotela se infiltrou entre os presos para entender o tempo subjetivo da prisão.
"Essa é uma microssociedade, em que cada um conta o tempo que falta da pena a cumprir", diz Macotela. "Eles sabem o que é duração."
Embora a ação refaça o ciclo de um ano, o fato de ter levado quatro deles para ser concluída também revela a distorção de escalas entre o tempo morto lá dentro e a vida que transcorre lá fora.
Macotela serviu de canal para cada preso, emprestando mãos, olhos e o próprio corpo a anseios de cada um.
"No começo, tudo parecia loucura", lembra. "Um deles queria que deitasse na cama dele em casa e escutasse Luis Miguel olhando para o teto."
Essa cena está num vídeo exposto no pavilhão. É a trilha sonora da vida lá fora que embala a contemplação de outra parede, uma que pode ser trocada pela liberdade a qualquer momento, numa duração dilatada e não ritmada por prazos judiciais.
Em troca, Macotela pediu ao detento que escrevesse seus sonhos no lençol que usava na cama de sua cela.
Rodrigo Capote/Folhapress | ||
Construção com tijolos feita por detentos do presídio da Cidade do México a pedido de Antonio Vega Macotela |
GEOGRAFIA ORGÂNICA
Cada ação lá fora, como ouvir Luis Miguel, ficar bêbado no batizado de um sobrinho, presenciar os primeiros passos de um filho, tinha seu equivalente formal, e um tanto obsessivo, lá dentro.
Um detento mapeou três trajetos no presídio sob efeito de três drogas diferentes, maconha, crack e cocaína. Outro juntou unhas cortadas de seus colegas de cela. Também há coleções de fios de cabelo e pontas de cigarro.
Desenhos toscos, de traços sôfregos, catalogam batidas cardíacas ou mesmo a respiração ao longo de uma hora. Um livro de mil páginas aparece atravessado com fúria pelos dedos de um preso.
Macotela documenta sopros de vida desesperados entre quatro paredes, uma geografia orgânica e pulsante que se debate contra os muros de concreto. O artista descobre nesse exercício um tempo latente, desvelando um potencial interrompido.
"São sistemas de representação do tempo, esse tempo como cartografias do movimento e de caprichos", diz o artista. "Eles sabem que enquanto fazem qualquer coisa que eu peça, estou com a família deles, bebendo por eles, fazendo o que fariam."
Enquanto não sai, um dos presos rouba tijolos para construir um fogão. Macotela pediu que escrevesse neles até completar um ciclo do desaparecimento, transformando sobrevivência em algo perto da arte.
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