Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
31/12/2010 - 12h00

Artista mineira ganha livro crítico com textos que buscam fontes na literatura

Publicidade

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Um silêncio atravessa a obra de Rivane Neuenschwander. E suas raízes estão espalhadas como pistas vagas em suas instalações, desenhos, vídeos e esculturas.

Talvez porque esta artista, um dos maiores nomes da arte brasileira, que teve uma retrospectiva neste ano no New Museum, em Nova York, tente dizer o indizível, expor a realidade bruta ou lírica na superfície das obras.

Paulo Herkenhoff, crítico e curador, define sua estética como um "diálogo infinito do olhar com o peso das pálpebras num piscar de olhos".

Essa análise está num dos ensaios do livro que sai agora pela Cobogó, espécie de catálogo raisonné junto de um compêndio de críticas e interpretações sobre a produção de Neuenschwander.

SILÊNCIO LITERÁRIO

Todos os textos no livro extrapolam o domínio das artes visuais para decifrar a artista por meio de silêncios literários. Enquanto o brasileiro cita o poeta Manoel de Barros e Clarice Lispector, estrangeiros recorrem a Beckett, Albert Camus e outros mestres do silêncio e do absurdo.

Se tudo parece vago, vale dizer que o livro está dividido em dois: os ensaios em páginas verdes e reproduções dos trabalhos em páginas brancas, como se um preparasse o terreno para o outro, as indefinições antes da concretude de uma obra bastante sutil.

Neuenschwander instalou baldes no teto do museu que deixam vazar gotas de água de um para o outro, uma chuva artesanal que requer a presença de alguém para perpetuar o ciclo.

Também escondeu microfones atrás das paredes que depois destruiu para encontrar um acervo de gravações do cotidiano. Noutro trabalho, pediu que visitantes descrevessem a retratistas da polícia seu primeiro amor.

Ana Ottoni - 28.mai.2003/Folhapress
Rivane Neuenschwander ganha livro crítico
Rivane Neuenschwander ganha livro crítico

RECRUTAMENTO

Nas palavras de Rachael Thomas, a artista provoca aqui um "cisma entre emoção e imagem". Com raízes em "Primeiro Amor", de Beckett, ela propõe um misto de memória e invenção, o traço clínico do policial e a lembrança emotiva de quem tenta classificar o amor.

Nesse e nos demais trabalhos, a artista recruta o espectador, que se torna parte ativa da obra, seja indicando os passos do retrato, seja amarrando fitas do Senhor do Bonfim numa grade instalada no museu, a obra "Eu Desejo o Seu Desejo".

É disso que fala outro texto. Neuenschwander busca analisar um "estado permanente de transformação", fundindo acaso e intenção.

Nisso, ela perfura páginas de "As Mil e Uma Noites" criando constelações com rodelas de papel em fundo preto. Elas caem a esmo numa imensidão negra, que se dilata e contrai independentemente da artista, tal como o diálogo do olho com a pálpebra.

UM DIA COMO OUTRO QUALQUER
AUTORES Richard Flood, Paulo Herkenhoff, Yasmil Raymond, Rachael Thomas, Lars Bang Larsen
EDITORA Cobogó
QUANTO R$ 110 (244 págs.)

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página