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Diretora de "Inverno da Alma" se diz surpresa com indicações ao Oscar
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FERNANDA EZABELLA
DE LOS ANGELES
Debra Granik é americana, mas se sente uma estrangeira em Hollywood. Por isso deixou de ligar a TV na última terça-feira, quando anunciaram os filmes do Oscar. Seu longa, "Inverno da Alma", foi chamado quatro vezes: melhor filme, roteiro adaptado, atriz e ator coadjuvante.
Nada mal para uma obra sobre a "América profunda" que quase ficou sem distribuidor. Foi feito com apenas US$ 2 milhões (R$ 3,4 milhões) e arrecadou US$ 6 milhões (R$ 10 milhões) numa curtíssima passagem pelos cinemas. Para comparar, o segundo filme com menor bilheteria na lista dos dez indicados é "Minhas Mães e Meu Pai", com US$ 21 milhões.
"O Oscar não é uma coisa que eu veja ou que leve... Bem, não participo desse mundo em particular, sabe?", disse Granik à Folha. "Mas é fantástico, estamos até agora tentando entender como isso aconteceu."
A atriz Jennifer Lawrence, 20, disputa o Oscar pelo papel da jovem Ree, que precisa cuidar sozinha dos dois irmãos mais novos numa comunidade rural do Missouri. Quando corre o risco de perder a casa, ela parte em busca do pai desaparecido e se envolve com um submundo de criminosos.
"Há muita esperança quando filmes pequenos são reconhecidos. Mais pessoas vão poder vê-los e a distribuição ao redor do mundo será um pouco mais diversificada", disse a diretora, 47.
Divulgação | ||
A atriz Jennifer Lawrence, 20, em cena do filme "Inverno da Alma", de Debra Granik, indicado a quatro Oscars |
CARGA CULTURAL
"Sinto realmente uma carga cultural pesada sobre a exportação de blockbusters. Eles realmente prejudicam a cultura de outros países. É difícil participar disso às vezes", disse. "É duro ir para um país cheio de diretores ambiciosos e ver as salas de cinema ocupadas pelos filmes de grande orçamento."
Para fazer "Inverno da Alma", a diretora viajou seis vezes durante dois anos para uma comunidade no sul do Estado e entrevistou diversos moradores sobre os costumes de caça, os problemas com drogas e a dificuldade de manter uma vida digna.
Muitos locais participaram do filme, tanto na equipe técnica como no elenco, como os garotos que fazem a irmã e o irmão de Ree.
O primeiro filme de Granik, "Down to the Bone", segue uma temática parecida, sobre uma mulher (Vera Farmiga) que precisa atravessar uma série de problemas, incluindo cuidar dos filhos e do vício em drogas.
"Há uma grande porcentagem do país que está viva e para a qual as coisas não vêm de forma fácil. Me sinto atraída por isso", disse.
O filme teve como montador o paulistano Affonso Gonçalves, 43. "A estética dela [Granik] é muito mais de cinema europeu que de americano", disse ele. "Ela gosta de uma coisa mais pausada, cadenciada. O maior desafio foi achar o ritmo do filme."
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