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Com monólogo, Du Moscovis se livra de estigma de galã de TV
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GABRIELA MELLÃO
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA
No primeiro monólogo de sua carreira, Du Moscovis faz uma travessia.
Na peça intitulada "O Livro", de Newton Moreno, abandona seu mundo familiar e ruma ao desconhecido. Recebe um livro do pai. Sabe que será o último. Ele cegará em minutos, em segundos. Ele cegará agora.
Na vida real, Du Moscovis, 42, fez um percurso similar ao de seu personagem. Em 2006, após 14 anos de uma carreira meteórica na TV, decidiu não renovar o contrato com a Globo. "Precisava de tempo para redirecionar minha história. Queria não ter o chão", conta ele à Folha.
O teatro, que até o momento ficava espremido em sua agenda, tornou-se prioridade. Desejava experimentar a escuridão do desconhecido, a desproteção do palco.
A jornada transformadora começou em 2007, quando encenou "Por uma Vida Menos Ordinária", da jovem dramaturga Daniela Pereira de Carvalho, com direção de Gilberto Gawronski. Intensificou-se em 2010, em "Corte Seco", criada e encenada por Christiane Jatahy, também diretora de "O Livro".
"Ensaiamos quatro meses sem saber nada sobre peça. A Chris só montou a dramaturgia depois. E mesmo depois de pronto o texto era uma coisa viva."
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Eduardo Moscovis em cena do espetáculo "O Livro", de Newton Moreno, que coroa mergulho dele nos palcos |
O redirecionamento de sua imagem, questão que Moscovis começava a trabalhar na sua vida pessoal, tornou-se alvo dos experimentos teatrais. A pesquisa consiste em misturar os limites entre ficção e realidade, tornando indissociáveis ator e personagem. A imersão nesse universo potencializou seus questionamentos.
Em "O Livro", ele também trabalha o duplo: o homem que vive o processo da cegueira iminente e o ator que interpreta este personagem.
Em "Amor?", novo trabalho de João Jardim, que estreia dia 15, Moscovis mais uma vez participa desse jogo dúbio. O filme discute a violência em relacionamentos. Apresenta oito depoimentos extraídos de casos reais. Moscovis expõe um deles.
Após cinco anos de transformação, é chegado o momento de colheita. "As investidas em teatro e cinema foram feitas silenciosamente. Agora é hora de exposição", diz. "Espero que reconheçam nessa tentativa de redirecionamento uma reapresentação do meu trabalho."
Como seu personagem de "O Livro", ele surge revigorado da travessia. Deixa, enfim, o estigma de artista de TV, destacando-se como um ator em pleno domínio de seus recursos.
A jornalista GABRIELA MELLÃO viajou a convite do Festival de Curitiba
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