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FMI recomenda ao Brasil melhora em avaliação na concessão de crédito
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LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON
Atualizado às 12h14.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) recomenda ao Brasil aperfeiçoar os mecanismos de avaliação de crédito no mercado financeiro, tornando mais acessíveis as informações sobre tomadores de empréstimos para conter a crescente inadimplência.
As pressões no setor de crédito são a principal vulnerabilidade no sistema financeiro brasileiro hoje, afirma o FMI em seu Programa de Avaliação do Setor Financeiro (Fsap), realizado no país em março e divulgado nesta terça-feira.
O último Fsap pelo qual o Brasil tinha passado havia sido em 2002, mas desde a crise global iniciada em 2008 o instrumento se tornou compulsório para 25 países considerados sistemicamente importantes na economia global. A publicação ocorre com aval do governo brasileiro.
"Os dados mais recentes indicam que a pressão financeira ao menos sobre algumas residências pode estar aumentando", afirma o FMI no relatório de avaliação.
Como exemplo, o fundo cita o uso mais frequente de cartões de crédito e cheques especiais --ferramentas para empréstimo mais caras, e normalmente não planejadas. O índice de inadimplência em empréstimos ao consumidor, ressalta o FMI, saltou de 5,6% em dezembro de 2010 para 7,6% em março.
"A expansão acelerada do crédito nos últimos anos sustentou o crescimento da economia interna e o aumento da inclusão financeira, mas essa expansão também poderia gerar vulnerabilidades", afirma o diretor da missão ao Brasil e diretor-assistente do Departamento de Mercados Monetários e de Capitais do FMI, Dimitri Demekas.
O foco de preocupação, como o fundo já havia assinalado em seu relatório de avaliação da economia do país em geral, está no setor imobiliário, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro, e no endividamento doméstico, dado o histórico de baixo índice de poupança, e a combinação de endividamento de curto prazo e altos juros.
REFORMAS
De forma geral, porém, o fundo avalia que os riscos de uma crise generalizada no sistema financeiro Brasil são baixos e que o país está bem blindado, caso as condições domésticas e globais não se agravem significativamente.
O país foi considerado medianamente vulnerável à piora do cenário global --seja uma deterioração da crise fiscal e de confiança na Europa, ou uma "aterrissagem brusca" (desaceleração abrupta) da economia chinesa.
Se tal cenário se sustentasse, ele poderia levar a uma restrição abrupta do mercado de crédito, alimentando o desemprego e, por conseguinte, a inadimplência.
O fundo recomenda ao Banco Central fortalecer o mecanismo para concessão de financiamento emergencial aos bancos no caso de crise no sistema financeiro.
Sugere ainda dar continuidade à reforma da governança do Fundo Garantidor de Créditos, enrijecendo os critérios de ajuda aos bancos e retirando de seu comando membros dessas instituições.
O país, após receber uma enxurrada de dólares no ano passado, também está exposto a uma reversão repentina dos fluxos de capital e a uma eventual estancada do comércio global, mas seria necessário um cenário de contágio agudo para abalar significativamente o sistema.
Por outro lado, o FMI constatou resiliência do sistema financeiro do país a uma queda repentina no preço dos produtos básicos por até dois anos --o que pode ocorrer no caso de desaceleração significativa na China, principal comprador das commodities brasileiras.
AUTONOMIA DO BC
Outra proposta chave é aumentar a autonomia do Banco Central, estabelecendo um mandato e critérios mais claros para uma eventual demissão do presidente da entidade, ainda que o FMI não tenha constatado interferência significativa do governo.
O fundo também recomenda, nos próximos dois anos, a criação de um organismo independente de monitoramento da saúde dos mercados para riscos sistêmicos (de contágio) e de gestão de crises, na expectativa de que os mercados financeiros no Brasil, hoje quase totalmente centrados nos bancos, se sofistique e se expanda.
Para Demekas, "existe o risco de que o sistema financeiro se torne vítima de seu próprio sucesso no país".
Por fim, o FMI voltou a sugerir a revisão do papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com menos empréstimos a grandes empresas e maior financiamento à infraestrutura em parceria com bancos do setor privado.
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