Com exportações estagnadas, indústria de calçados tem recuperação lenta

Crédito: Silva Junior - 17.dez.2014/Folhapress Linha de produção de calcados da fábrica Viccini em Franca
Linha de produção de calcados da fábrica Viccini em Franca

NATÁLIA PORTINARI
DE SÃO PAULO

A exportação de calçados brasileiros fechou o ano de 2017 em US$ 1,09 bilhão, valor ligeiramente maior que os US$ 998 milhões de 2016. O dado é da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Desde 2008, quando atingiam US$ 2 bilhões, as exportações caíram pela metade. A valorização do real perante o dólar tornou os produtos brasileiros menos competitivos no exterior, segundo Heitor Klein, presidente da associação.

"Há desajustes na nossa cadeia produtiva, na parte de logística e na tributação, que fragilizam nossa posição no exterior", afirma em entrevista durante a Couromoda, feira do setor que ocorre nesta semana em São Paulo.

A crise interna também afetou os fabricantes, já que mais de 85% dos calçados ficam no Brasil. O nível de utilização do parque fabril caiu de 78,5%, em 2014, para 72,1% em 2016. "O motivo é a queda na demanda", diz Klein.

"O setor não está investindo, de forma geral. Há apenas algumas empresas investindo em inovação para tornar o custo mais atrativo."

A Vulcabras Azaleia, ponto fora da curva, vai investir R$ 100 milhões em bens de capital nos próximos 18 meses. "Falta à indústria calçadista brasileira o nível de profissionalização que se vê no exterior", diz Pedro Bartelle, presidente da empresa. "Nós mesmos ainda estamos num processo de modernização."

Os excedentes de estoque de tênis produzidos na Ásia, onde os salários são mais baixos, também atrapalham as vendas da indústria no Brasil, diz Bartelle. "Aqui, o salário representa 30% dos custos. Não temos como competir com os chineses."

Segundo ele, o empresariado brasileiro perdeu a oportunidade de fazer negócios em 2017 —em períodos em que o dólar subiu— devido à incerteza política. A Vulcabras exporta 12% de sua produção.

PREJUÍZO

A Vulcabras Azaleia teve prejuízo de R$ 49,92 milhões em 2015, mas reverteu o saldo em 2016, com lucro de R$ 35,69 milhões. Já a Dafiti amargou perdas de R$ 72 milhões em 2016, e a Netshoes (de varejo), R$ 43,9 milhões.

O momento de crise em 2016 se deve a uma queda de 16% nas vendas de sapatos. De janeiro a julho do ano passado, a situação teve uma leve melhora, com alta de 7,1% no consumo em relação ao mesmo período do ano anterior, diz a Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac).

A expectativa é de que o faturamento dos calçadistas, que foi de R$ 20,8 bilhões em 2016, siga empatado em 2017. Os empregos nas indústrias do setor caíram 2,2% no ano, de acordo com dados do Caged.

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