Com Auxílio, mulheres e mais pobres são 1° alvo de Bolsonaro para reduzir vantagem de Lula

Governo anunciou nesta segunda antecipação do Auxílio Brasil; presidente acena com 13º para beneficiárias em 2023

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Brasília

A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) pretende disparar promessas na área econômica na tentativa de superar a diferença de votos do chefe do Executivo em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que terminou o primeiro turno na liderança.

O alvo prioritário são as fatias do eleitorado em que o petista tem grande vantagem: as mulheres e os mais pobres.

A primeira iniciativa é a indicação de que Bolsonaro, se reeleito, pagará um 13º benefício às famílias do Auxílio Brasil que são chefiadas por mulheres a partir de 2023. Em julho, elas eram 16,7 milhões, o que geraria um custo aproximado de R$ 10 bilhões.

Nenhum membro da campanha, porém, apresentou o tamanho da fatura, muito menos como isso seria encaixado no Orçamento do ano que vem, que está bastante comprimido e já tem uma fatura bilionária de gastos represados —incluindo a despesa adicional de R$ 52,5 bilhões para manter o benefício mínimo de R$ 600 às famílias do programa.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia de hasteamento da bandeira no palácio da Alvorada, em homenagem ao dia Internacional das Mulheres - Pedro Ladeira 8.mar.22/Folhapress

Enquanto engorda a lista de promessas, o governo tem acelerado recursos já aprovados. Assim como em meses anteriores, o calendário de pagamentos do Auxílio Brasil em outubro será antecipado. Antes, os repasses às famílias acabariam no dia 31, pós-segundo turno. Agora, eles se encerrarão no dia 25, antes da realização da votação.

O governo também regulamentou a concessão de empréstimo consignado aos beneficiários do programa, medida que tem potencial para colocar mais dinheiro na mão das famílias vulneráveis —com o efeito colateral de incentivar o endividamento, algo criticado por especialistas.

Bolsonaro também prepara acenos a públicos cativos, como policiais. O governo está em tratativas internas para viabilizar a nomeação de concursados da Polícia Federal. O tema foi tratado em reunião técnica nesta segunda.

A campanha não tem tanta preocupação neste momento com a viabilidade das propostas, mas sim com o impacto positivo que o anúncio já pode gerar entre os eleitores que votaram em outros candidatos no último domingo (2).

A avaliação é que a atração do eleitorado de baixa renda é vital para Bolsonaro ampliar suas chances de vitória no segundo turno. Na votação de domingo, esse grupo deu apoio majoritário a Lula. Ao todo, o petista teve 48,43% dos votos válidos, contra 43,20% do atual presidente.

Além disso, as mulheres fazem parte do eleitorado que mais rejeita Bolsonaro, segundo pesquisas. Por isso, fazer gestos e tentar melhorar sua imagem junto a elas tem sido um dos principais desafios.

Os resultados do primeiro turno animaram aliados de Bolsonaro, que acreditam na possibilidade de uma virada. O presidente ficou em segundo lugar, mas com uma distância menor do que as que vinham sendo observadas nas pesquisas de intenção de voto.

Apesar da estratégia em torno do Auxílio Brasil, os números indicam que os beneficiários do programa não têm ajudado Bolsonaro e têm mais tendência a votar em Lula.

Em entrevista logo após a apuração dos votos, Bolsonaro deu a senha de que o governo pretende buscar na economia os elementos para tentar convencer o eleitor.

"A mensagem [para o segundo turno] é que o Brasil, levando-se em conta a grande maioria dos países do mundo, é o que melhor está se saindo na questão da economia", disse.

Técnicos avaliam que o governo tem bons resultados a exibir devido à desaceleração da inflação (principalmente pela redução nos preços de combustíveis), às revisões para cima de projeção de crescimento e ao aumento de investimentos, sobretudo vindos do exterior.

Esses dados têm sido usados em contraponto a notícias negativas, como o aumento da fome no Brasil —informação contestada pelo governo com base em estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) assinado apenas por seu presidente e criticado por outros especialistas por estar em desacordo com boas práticas de pesquisa.

Em reação aos ataques ao desempenho econômico do governo, o ministro Paulo Guedes (Economia) já vinha, nas últimas semanas, ampliando sua exposição em entrevistas na tentativa de propagar dados positivos e dar munição aos militantes pró-presidente. Nesta segunda-feira (3) pós-primeiro turno, ele esteve junto com outros ministros e suas equipes em reunião com Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

Em conversas internas com suas equipes, ministros do governo têm transmitido a mensagem de que o mês "vai ser duro" e que é preciso que todos permaneçam "firmes" no trabalho.

Haverá ainda investidas concentradas nas mulheres. Uma das ideias é reforçar a propaganda das medidas do governo voltadas ao público feminino, incluindo a entrega de títulos rurais para mães de família e a sanção de leis de proteção às mulheres.

Lula também aposta em economia para ganhar votos

No campo adversário, Lula promete insistir na tecla de que a situação do país não está boa, como prega Bolsonaro. O petista também vai recorrer à economia para tentar convencer o eleitor de que ele já viveu melhor e, por isso, deve apostar na mudança de governo.

"Vocês sabem que o país está pior. Que a economia não está boa, que a qualidade de vida não está boa, que o emprego não está bom, que a renda não está boa, que a saúde não está boa. E que nós precisamos recuperar esse país", disse Lula logo após o resultado do primeiro turno.

O raciocínio dos petistas é que a melhora recente foi fabricada pelo governo com objetivo eleitoreiro, por meio da redução dos preços de combustíveis e da expansão temporária do Auxílio Brasil. Enquanto isso, a inflação de alimentos, com grande peso no bolso dos mais vulneráveis, segue com um dos índices mais elevados entre os componentes medidos nos índices de preços.

A campanha de Lula também reforça, sempre que tem oportunidade, o argumento de que Bolsonaro ampliou o valor do Auxílio Brasil para R$ 600 apenas até dezembro, uma vez que a medida não foi incluída na proposta de Orçamento de 2023 —o custo adicional não cabe no desenho atual do teto de gastos, que precisará ser alterado.

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