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08/12/2011 - 14h26

Quem fala bielorrusso é visto como oposição, diz ex-candidato

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FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MINSK

Um dos principais nomes da oposição bielorrussa, o poeta e ex-candidato presidencial Vladimir Nekliaev, 65, disse que entrou na política para defender a língua e o "DNA" do país. Atualmente, está em prisão domiciliar após ser espancado e preso por contestar as eleições presidenciais.

"Cheguei à política devido à catástrofe da língua bielorrussa", contou Nekliaev, em entrevista na sede do seu movimento, "Fale a Verdade", num escritório no centro de Minsk. "Hoje, se você falar bielorrusso, estará identificado com a oposição."

Vladimir Nekliaev foi um dos cinco candidatos presidenciais presos há em 19 de dezembro do ano passado, durante protestos que reuniram alguns milhares em Minsk contra uma suposta fraude no processo eleitoral que reelegeu Alexander Lukashenko, no poder desde 1994. Dos centenas de detidos, cerca de 30, apontados como líderes, continuam encarcerados.

Nekliaev foi agredido na cabeça e hospitalizado. Dali, foi levado por agentes de segurança ao presídio da KGB (sim, Belarus mantém a KGB), de onde saiu no final de janeiro. Condenado a dois anos de prisão, teve a pena suspensa, mas foi submetido a várias restrições.

Está obrigado a dormir em casa todas as noites, não pode participar de atos políticos e regularmente recebe a visita de agentes de segurança.

Karola Ramonoff-2.dez.11/Folhapress
O ex-candidato presidencial Vladimir Nekliaev durante entrevista à Folha no seu escritório, em Minsk
O ex-candidato presidencial Vladimir Nekliaev durante entrevista à Folha no seu escritório, em Minsk

"Adiaram a minha punição. Eles têm o direito de me prender a qualquer momento. Psicologicamente, é difícil trabalhar assim. Mas, francamente, são condições parecidas às de qualquer bielorrusso."

Nekliaev não contesta a vitória de Lukashenko, mas afirma que ele recebeu bem menos votos do que os quase 80% do resultado oficial. Segundo a apuração, criticada duramente pelos observadores europeus, o poeta teve 1,8% dos votos.

O idioma está no centro do debate político de Belarus, que ficou por mais de 200 anos sob controle russo e é o regime mais fechado entre os países europeus criados a partir da antiga URSS. É também o mais próximo e economicamente dependente da Rússia --até hoje, 20 anos após a independência, não há controle imigratório de fronteira.

A promoção da língua bielorrussa após a independência, em 1991, foi abortada com a chegada ao poder de Alexander Lukashenko, três anos depois. Sonhando em substituir Boris Yeltsin em Moscou, agiu para reunificar os dois países e incentivou o uso do russo, com o qual o governo majoritariamente se expressa.

Em 1995, Lukashenko promoveu um referendo que aprovou dar ao russo o mesmo status do que o bielorrusso. É verdade que havia também motivos práticos para a mudança: nas escolas, são poucos professores capacitados para o idioma nativo, e os pais, escolarizados apenas em russo, reclamavam que não podiam ajudar os filhos nas tarefas escolares.

Karola Ramonoff-2.dez.11/Folhapress
O ex-candidato presidencial Vladimir Nekliaev durante entrevista à Folha no seu escritório, em Minsk
O ex-candidato presidencial Vladimir Nekliaev durante entrevista à Folha no seu escritório, em Minsk

O sonho de sentar no Kremlin já passou, mas o idioma ficou politizado. Nos hegemônicos canais de TV e jornais estatais, a transmissão é em russo. Apenas uma TV por satélite, transmitida da Polônia, adota o bielorrusso, além de jornais oposicionistas. Lukashenko dificilmente usa a língua nativa.

Pró-Europa, Nekliaev diz que, ao contrário da Rússia, seu país tem "memória democrática", vinda do período em que estava integrada com a Lituânia e a Polônica, entre os séculos 12 e 18. Seu modelo de país é a Finlândia, que conseguiu se modernizar e ter identidade própria após se livrar da dominação russa (1809-1917).

"Há uma opinião globalizada de que as pequenas nações devem desaparecer", diz Nekliaev, sobre seu país de cerca de 10 milhões de habitantes e área parecia à do Estado do Paraná. "Se for isso, todos sabemos que morreremos um dia, mas, mesmo assim, não cometemos suicídio. Portanto, desde que este país esteja vivo, não vou deixá-lo morrer."

 

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