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11/09/2012 - 16h59

Sendero Luminoso tenta recomeço após 20 anos da prisão de líder

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DA FRANCE PRESSE, EM LIMA

Abimael Guzmán, líder histórico da guerrilha peruana maoísta Sendero Luminoso, completa na quarta-feira 20 anos na prisão. Enquanto isso, seus seguidores fazem inúmeras tentativas frustadas de entrar na vida política do Peru, apesar da rejeição de boa parte da população ao grupo, que ficou marcado por suas ações terroristas.

A prisão de Guzmán e das principais lideranças da guerrilha, marcou o declínio do Sendero Luminoso, mas seus remanescentes sobreviveram em aliança com o narcotráfico em vales dominados por plantações de coca do sudeste peruano e, segundo as autoridades, um ramo atua politicamente em sindicatos peruanos, com uma linha moderada.

Os temores de um crescimento político do Sendero Luminoso levaram o governo a propor em agosto uma lei que estipula o envio para a prisão daqueles neguem ou aprovem atos terroristas. O Peru considera que o Sendero Luminoso tenta atualmente se reativar por meio do Movimento por Anistia e Direitos Fundamentais (Movadef), considerado o braço legal do senderismo.

Vera Lentz/Reuters
Membros do Movadef pedem a liberdade do líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, preso há 20 anos no Peru
Membros do Movadef pedem a liberdade do líder do Sendero Luminoso, Abimael Guzmán, preso há 20 anos no Peru

BRAÇO POLÍTICO

"O Movadef não é um braço político do Sendero Luminoso porque não há um corpo, ou seja, uma força militar mobilizada", diz Mirko Lauer, analista político e colunista do jornal "La República" (centro-esquerda).

Segundo Lauer, no Peru não acontece o que ocorreu em Irlanda ou Colômbia: "O Sinn Fein é o braço político do IRA porque há um Exército Republicano Irlandês, assim como as Farc".

"A estrutura militar do Sendero Luminoso foi derrotada e anulada por seu próprio líder, que disse: 'Nada de luta armada enquanto eu estiver preso'", ressalta Lauer ao lembrar o apelo de Guzmán feito da prisão por "uma pausa na guerra".

REMANESCENTES

A existência de remanescentes do Sendero nos vales cocaleiros do sudeste do Peru, em uma região geográfica conhecida como Vraem (Vale dos Rios Apurímac, Ene e Mantaro) não está ligada a Guzmán, que os renegou por seus vínculos com o tráfico de drogas.

"O Sendero Luminoso do Vraem é usurpado por grupos de narcotraficantes que utilizam o sinal do SL para livrar sua cara e não se passar por delinquentes", declarou Lauer.

"O que vemos hoje é uma coisa absolutamente guiada pela informalidade peruana: O Peru tem mineiros informais, comerciantes informais e tem agora políticos informais de todas as orientações", explica o analista sobre os arranjos políticos do Movadef.

NOVAS GERAÇÕES

Segundo outros especialistas no conflito, existe uma sensação de que os peruanos das novas gerações ignoram o que representou a guerra e o terror que o Sendero Luminoso provocou.

"Isso se deve ao fato de que não há partidos políticos nem debates para lembrar a experiência nefasta que o Sendero signifcou para a história peruana", disse Fernando Rospigliosi, um sociólogo que estuda a violência no Peru e é ex-ministro do Interior.

"O trabalho de investigação da Comissão de Verdade e Reconciliacção (2003) foi minimizado. Esse é o instrumento que havia para gerar debates e evitar que grupos como o Sendero ressurjam politicamente", acrescentou Rospigliosi.

GUZMÁN

Guzmán dirigiu o Sendero com mão de ferro, tornando-a uma das guerrilhas mais sanguinárias da América Latina, a ponto de ter sido comparada com o Khmer Vermelho do Camboja, que desencadeou um conflito interno que deixou cerca de 70 mil mortos entre 1980 e 2000 no Peru, segundo a Comissão de Verdade e Reconciliação.

O líder do Sendero Luminoso foi capturado por uma unidade de inteligência policial no dia 12 de setembro de 1992 em uma casa de Lima enquanto assistia à televisão com sua mulher, em uma operação cinematográfica em que nenhum tiro foi disparado.

Desde então, Guzmán, hoje com 77 anos, vive isolado em uma penitenciária em uma base naval do porto de Callao, onde cumpre uma pena de prisão perpétua emitida por un tribunal militar em 1992 e ratificada em 2006 por um tribunal civil.

Um ano depois de sua prisão, em 1993, Guzmán tentou um "acordo de paz" para recuperar sua liberdade, mas sua iniciativa foi rejeitada pelos sucessivos governos do Peru. Nesse contexto surgiu o Movadef, liderado pelos advogados de Guzmán, Manuel Fajardo e Alfredo Crespo, que tentou em janeiro passado se registrar como partido político.

A iniciativa fracassou porque as autoridades peruanas consideraram que o partido "possui uma ideologia que tem como praxis a violência para tomar o poder".

 

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