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08/11/2012 - 21h29

Opinião: Os republicanos vão conseguir se adaptar?

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NICHOLAS D. KRISTOF
DO "NEW YORK TIMES"

Esta foi uma disputa que os republicanos deveriam realmente ter vencido.

Tendo em vista da economia fraca, os eleitores americanos estavam abertos à ideia de mandar embora o presidente Barack Obama. Na Europa, em circunstâncias semelhantes, um governo após outro perdeu a reeleição. E, no início deste ano, parecia que os republicanos poderiam conquistar o controle do Senado americano, também.

Mas não foram tanto os democratas que venceram quanto os republicanos que perderam --num nível muito básico, em função de questões demográficas.

Uma coalizão de homens brancos em processo de envelhecimento é uma receita para o fracasso num país que se parece mais e mais com um arco-íris. O "schadenfreude", ou alegria com a desgraça alheia, pode desculpar os sorrisos dos democratas por alguns dias, mas essas tendências anunciam um desastre potencial não apenas para o Partido Republicano, mas para a saúde de nosso sistema político.

A América precisa de um partido oposicionista de centro-direita que seja plausível, e não apenas de um grupo de fanáticos do Tea Party, para cobrar de Obama o cumprimento de suas promessas.

Por isso, não apenas os conservadores, mas também os liberais deveriam torcer para o Partido Republicano sentir-se suficientemente abalado para descrever um movimento em direção ao centro. Um sinal animador é que os partidos políticos geralmente se preocupam mais em vencer que com o purismo. Assim o Partido Democrático abraçou o pragmático Bill Clinton, de centro-esquerda, em 1992, após três derrotas consecutivas em eleições presidenciais.

Foi doloroso para muitos liberais, que se arrepiaram quando, na primária de 1992, Clinton interrompeu sua campanha para polir suas credenciais de guardião da ordem, acompanhando a execução de um assassino mentalmente deficiente. Mas, tudo contabilizado, isso foi menos doloroso que uma nova derrota.

Poderíamos esperar que o Partido Republicano desse um passo semelhante em direção ao centro. Mas muitos líderes republicanos ainda estão vivendo numa bolha. Foi espantoso ver quantos deles, desde Karl Rove a Newt Gingrich, pareceram esperar uma vitória de Mitt Romney. E algumas das autópsias da direita estão sugerindo que Romney perdeu porque foi liberal demais --algo que constitui uma definição de "estar iludidas".

Imagine o que teria acontecido se o candidato republicano tivesse sido Gingrich ou Rick Santorum. Com certeza teríamos assistido a uma vitória democrata avassaladora.

Por outro lado, se os republicanos tivessem escolhido Jon Huntsman Jr. como seu candidato, poderiam ser os que estivessem festejando agora. Mas Huntsman não teve chance nas primárias republicanas porque os eleitores das primárias são os piores inimigos de seu partido.

Parte do problema, acredito, é a profusão de programas de rádio e televisão de direita. Democratas se queixam furiosamente que Rush Limbaugh, Glenn Beck e Sean Hannity caluniam a esquerda, mas eu me pergunto se o maior prejudicado não é o próprio Partido Republicano. Esses programas levam seus públicos a um frenesi, torpedeando os moderados republicanos e fomentando uma paranoia sobre questões como a imigração.

Todo esse som e fúria envolve o Partido Republicano num casulo ideológico e o impede de aproximar-se dos centristas dos Estados indecisos, ou até mesmo de entendê-los. O turbilhão gira mais e mais rápido, correndo o risco de virar um buraco negro ideológico.

Em 2002 foi lançado um livro intitulado "The Emerging Democratic Majority" (A maioria democrata emergente). O livro argumentava que os democratas ganhariam força devido à sua dominância em setores da população que estavam em crescimento, como hispânicos, asiático-americanos e mulheres que trabalham. Pareceu persuasivo, até os republicanos darem uma surra nos democratas nas duas eleições seguintes.

Mas talvez o livro tenha se antecipado aos fatos. Esta foi a primeira eleição em que eleitores hispânicos compuseram 10% do eleitorado, segundo pesquisas de boca de urna da CNN --o dobro de 1996--, e mais de sete em cada dez eleitores hispânicos votou em Obama.

Não foi algo inevitável. Em 2004 as pesquisas de boca de urna sugeriram que o presidente George W. Bush recebeu 44% do voto hispânico. Mas os republicanos foram obstrucionistas sobre a imigração e depois usaram de demagogia ofensiva para opor-se à indicação de Sonia Sotomayor para a Suprema Corte. O voto hispânico foi se desviando para os democratas, em número cada vez maior.

E há as mulheres. As declarações paternalistas sobre estupro feitas por alguns poucos candidatos republicanos homens tiveram repercussão muito ampla porque refletiram a visão comum que existe do Partido Republicano como sendo um conclave de homens alienados. Como poderia ter dito o deputado Todd Akin, do Missouri, quando um candidato manifesta opiniões ofensivas sobre o estupro, "o corpo feminino tem meios de tentar fechar a coisa toda". Em outras palavras, as mulheres votam nos democratas.

A América está mudando. Depois desta eleição, haverá 20 mulheres senadoras, um número recorde, e quase todas democratas. Antigamente, fazer oposição ao casamento homossexual era uma maneira de os republicanos alardearem sua moralidade; agora é visto como algo que realça seu preconceito.

Nada menos que 45% das pessoas que votaram em Obama são membros de grupos minoritários, segundo Nate Silver, do "New York Times". Muitas outras são mulheres ou jovens. É esse o futuro da América, e se o Partido Republicano continuar a ser um agrupamento purista erguido em torno de homens brancos, velhos e mal humorados, estará cometendo suicídio. Isso será ruim não apenas para os conservadores, mas para nosso país inteiro.

Tradução de CLARA ALLAIN

 

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