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14/11/2012 - 16h31

BBC completa 90 anos em meio a escândalo de criminosos sexuais

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DENIS HAULT
DA AFP, EM LONDRES

A BBC não parecia em clima de festa na comemoração de seus 90 anos nesta quarta-feira, em meio ao caos criado por uma crise que obriga a empresa a se reestruturar para defender sua reputação e seu orçamento, assim como a recuperação da confiança de seus milhões de usuários.

Em 14 de novembro de 1922, a British Broadcasting Company fez história difundindo seu primeiro boletim de notícias dirigido aos poucos milhares de lares que tinham um aparelho de rádio.

Para marcar o acontecimento, a BBC optou por difundir nesta quarta-feira às 17h33 (15h33 no horário de Brasília) simultaneamente, em suas 60 emissoras de rádio e de TV, uma reportagem especial realizada por Damon Albarn.

O cantor e compositor britânico misturou, em um programa de três minutos, arquivos sonoros, o som dos satélites espiões da guerra fria, mensagens em código morse, o badalar do Big Ben e o som dos 28 serviços linguísticos do prestigioso "World Service".

"Poderíamos ter tocado 'Nearer My God To Thee'", ironizou um repórter, em referência à última melodia tocada pela orquestra do navio Titanic.

A crítica foi feita anonimamente, visto que os 22.800 funcionários da companhia foram orientados a não comentar os problemas do grupo nas redes sociais ou em entrevistas.

Como presente pelo aniversário, a imprensa intensificou as críticas. "Muito grande", "muito de esquerda", "muito cara", afirmou nesta quarta-feira o Sun, tabloide do império do magnata britânico Rupert Murdoch. "Expansionista", "burocrático", "arcaico", destacaram os que exigem mais cortes na planilha além dos 2.000 previstos até 2017.

Os mais benevolentes davam conselhos, como o "Financial Times", para quem a BBC deve contratar seu futuro diretor-geral externamente.

ESCÂNDALO

O escândalo teve origem no programa "Newsnight", considerado uma autoridade em jornalismo investigativo, que admitiu ter censurado no fim de 2011 uma investigação que incriminava o apresentador Jimmy Savile, que morrera semanas antes, aos 84 anos. A Scotland Yard o considera agora um dos piores "predadores sexuais" de menores da história britânica.

No início de novembro, a situação do grupo piorou quando acusou equivocadamente de pedofilia um veterano político conservador da era de Margaret Thatcher.

O escândalo forçou a renúncia do diretor-geral George Entwistle, após só 54 dias no cargo. Sua saída deveria ter acalmado os ânimos, mas as 450 mil libras que recebeu como indenização reavivaram a polêmica sobre os gastos excessivos da BBC.

Um de seus jornalistas fez uma crítica no ar nesta semana ao diretor-geral interino, Tim Davie: "O dirigente vindo do marketing não tem nenhuma experiência jornalística. Ele é o homem da situação?", se perguntou, em meio às mudanças financeiras e administrativas na companhia.

Igualmente questionado, Lord Patten de Barnes, último governador de Hong Kong e presidente do órgão de fiscalização BBC Trust, deve buscar rapidamente o homem que irá liderar a recuperação do grupo e uma "revisão estrutural radical". "Porque temos mais dirigentes do que o partido comunista chinês", admitiu.

Contudo, também denunciou os interesses comerciais de outros veículos pelo fim dos privilégios da BBC, cuja página na internet é uma das mais consultadas no mundo. A mídia acusa a BBC de "competição desleal" por ser a única receptora do cânone audiovisual, cerca de 3,7 milhões de libras por ano.

Para a imprensa, que está no banco dos réus há mais de um ano por um escândalo de escutas ilegais, a distração gerada pelo assunto é quase um alívio.

A BBC já saiu de outras crises. Atraiu a ira dos primeiros-ministros conservadores Winston Churchill e Margaret Thatcher, e do trabalhista Tony Blair durante a Guerra do Iraque. Mas em um mês, o índice de satisfação da instituição, tradicionalmente tão popular quanto a monarquia, caiu 20 pontos, em 45%. "O essencial neste país para a BBC é a confiança. Se a perdemos, é o final", alertou Lord Patten.

 

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