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Análise: Massacre nos EUA expõe indícios de psicose
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PAULO SCHILLER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A cada tragédia em uma escola americana, assistimos a uma sucessão de explicações para o que parece um enigma insolúvel. Especialistas se alternam na mídia para analisar a maldade que habita a alma humana. Cientistas procuram genes extraviados ou neuro-hormônios que justificariam as condutas extremadas. Políticos retomam intermináveis discussões sobre as causas sociais da criminalidade ou sobre o acesso às armas, cuja disponibilidade é um dos pilares do pensamento conservador americano.
Embora tenham importância, essas discussões desconsideram aspectos essenciais.
Michel Foucault, em seu clássico "Eu, Pierre Rivière, que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão", entrega-se à arqueologia de um evento na França do século 19, em que a reconstituição dos fatos por meio do processo revela a lógica que levou o acusado a cometer o crime.
Entre os presságios inscritos na história do réu, observa-se o horror pelas mulheres, o desprezo pelas atitudes da mãe que maltratava o marido. Assim, com o gesto extremo, Pierre procurava libertar o pai da opressão familiar.
Diante dos massacres de professores e estudantes, estamos quase sempre entre a psicose e as perversões.
Quando o autor se suicida ou entrega a vida às forças policiais, é mais provável que ele seja um psicótico, alguém que não constituiu uma identidade, não se apropriou do corpo e, por falta de oportunidade, só pode suprimir a angústia por meio de atos.
Ao ler sobre os fragmentos biográficos dos criminosos que aparecem na mídia, divisamos muitas vezes as marcas da psicose em que o primeiro surto, por vezes anunciado, será o ato trágico.
Caberia aos profissionais, que frequentemente atenderam esses rapazes na adolescência, reconhecer os traços que poderiam evitar as tragédias. Seria possível em um número significativo de casos.
As causas poderão ser encontradas na estrutura psíquica de cada um, fruto de um romance construído ao longo de gerações, trama de segredos e transgressões, terreno em que germina a subjetividade doentia.
Tendemos a pensar que somos ilhas de saúde e bondade cercadas de maldade por todos os lados. É claro que a maldade não habita somente os noticiários. Ela está presente mais próxima, no interior de muitas das nossas histórias familiares.
PAULO SCHILLER, psicanalista e tradutor, é autor de "A Vertigem da Imortalidade".
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