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10/03/2013 - 06h05

Moradores decidem status das Malvinas

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SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Quando forem às urnas, hoje e amanhã, os habitantes das ilhas Malvinas (Falklands, para os britânicos) esperam colocar um ponto final em uma celeuma que começou há 180 anos.

Em 1833, uma embarcação inglesa chegou ao arquipélago e expulsou a população local, formada por pessoas de distintas nacionalidades, além da administração argentina do território.

As Malvinas passaram a ser habitadas predominantemente por europeus, principalmente ingleses, dedicados à produção de lã, agricultura e, posteriormente, à pesca.

A Argentina não se conformou e passou a reivindicar com veemência o retorno da soberania das ilhas.

A disputa entre Argentina e Reino Unido teve seu ponto crucial e sangrento na guerra de 1982. O conflito, que durou 72 dias e deixou mais de 900 mortos, terminou com a vitória britânica.

No país vizinho, a derrota apressou o fim da ditadura militar, mas deixou uma chaga aberta no orgulho nacional.

No plebiscito, os "kelpers" (como são conhecidos os habitantes das ilhas) responderão à pergunta: "Você deseja que as ilhas Falklands conservem seu status político atual como um território ultramar do Reino Unido?".

A expectativa é que mais de 95% da população responda que "sim". Vivem nas Malvinas 676 nativos, 2.256 europeus, 200 chilenos e 29 argentinos. A minoria sul-americana tem nacionalidade britânica e, em geral, também opina a favor do atual status do arquipélago.

"A principal razão é a reafirmação de nossa vontade, mas o referendo também servirá para dizermos outras coisas ao mundo: que queremos ser bons vizinhos, que gostaríamos de ser reconhecidos como nação e que desejamos diálogo com quem queira fazer negócios conosco", diz Jan Cheek, membro da Assembleia Nacional das Falklands.

ECONOMIA

As ilhas possuem hoje o maior PIB per capita da América Latina (US$ 52 mil). A principal atividade é a pesca, que responde por 60% do PIB e rende US$ 40 milhões por ano à ilha. A segunda principal atividade é o turismo, com mais de 80 mil pessoas visitando o local todos os anos.

O governo argentino, porém, não reconhece a existência e a vontade dos "kelpers". Em fevereiro, durante visita a Londres, o chanceler Héctor Timerman recusou-se a encontrar seu par britânico, William Hague, porque este exigia a presença de dois representantes do governo das Falklands na reunião. Cheek era um deles.

"Nós queríamos conversar com Timerman. Temos oportunidades a oferecer à Argentina, que precisa entender que não pode mais falar sobre nosso território por cima de nossas cabeças", disse.

Já o chanceler se mantém duro e é o principal divulgador da posição argentina.

"As ilhas serão nossas em 20 anos", disse, em entrevista ao jornal "The Guardian", além de afirmar que não poderia reconhecer o referendo "kelper" porque seria "o mesmo que perguntar aos colonos judeus se eles gostariam de permanecer como cidadãos de Israel".

A Argentina reivindica que seja cumprida uma determinação de 1965 da ONU que pede que os dois países se sentem para dialogar. Já os britânicos e os habitantes das ilhas asseguram que não há nada do que falar e que a Argentina precisa respeitar seu direito à autodeterminação.

"Nunca achamos que era necessário fazer um referendo com essa pergunta, mas o comportamento do governo argentino nos últimos tempos nos obriga a isso", diz Cheek.

'QUESTÃO DE ESTADO'

A Argentina, que nos anos 90, sob a gestão Carlos Menem, havia feito acordos de aproximação com a população das ilhas, mudou radicalmente de posição com o kirchnerismo.

Tanto o antecessor de Cristina, Néstor (1950-2010), como a atual presidente aumentaram o volume das reivindicações argentinas. No discurso de abertura do Congresso argentino, há duas semanas, Cristina disse que a soberania das Malvinas era uma "questão de Estado".

A presidente ainda tem evocado a reclamação argentina em fóruns mundiais. Em 2011, conseguiu o apoio dos países do Mercosul e arregimentou em sua batalha verbal alguns ídolos do rock e do cinema, como o ator norte-americano Sean Penn e os roqueiros britânicos Roger Waters e Morrissey (ex-Smiths).

A votação ocorrerá em dois dias para ter "a certeza de que todos votarão", diz Cheek.

Nas ruas, haverá festa com apresentação de grupos de música. As crianças vêm discutindo o plebiscito nas aulas, e Port Stanley, a capital do arquipélago, está enfeitada com bandeiras britânicas.

Na Argentina, a imprensa interpreta de forma política o plebiscito.

O triunfo previsível do "sim" está sendo visto como uma derrota do governo, enquanto os meios kirchneristas ressaltam os argumentos de Cristina e o discurso nacionalista.

 

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