Era para ser um momento de celebração de uma vida política.
Mas um drama familiar marcado por trocas de acusações e ajustes de contas vem dando contornos novelescos para o funeral do ex-chanceler alemão Helmut Kohl, obscurecendo as homenagens ao considerado pai da reunificação alemã.
À frente da Alemanha de 1982 a 1998, Kohl morreu no último dia 16, aos 87 anos, após enfrentar anos de isolamento e problemas de saúde. Com a morte, ressurgiu uma disputa entre seus dois filhos do primeiro casamento, Walter e Peter, e a segunda mulher dele, Maike Richter.
Ele e Peter são filhos do ex-chanceler com Hannelore Kohl, que se suicidou em 2001 após viver quase uma década em completo isolamento por uma severa alergia a raios solares.
Um biógrafo sugeriu que a doença era psicossomática, causada por traumas reprimidos —ela contou que aos 12 anos foi estuprada por um grupo de soldados russos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Enquanto Hannelore ainda padecia, Kohl conheceu Maike Richter, funcionária da CDU na chancelaria e 34 anos mais jovem. Eles se casaram em 2008, quando Kohl já estava numa cadeira de rodas e com dificuldades de falar após sofrer um AVC e uma queda. Ela logo se tornou uma espécie de guardiã.
Em 2013, Peter e Walter acusaram Maike de ter isolado o pai do mundo exterior e de transformar a antiga casa de suas infâncias em um perturbador museu de idolatria ao ex-chanceler. Em um livro, Peter chegou a classificar Maike como "fã obsessiva".
Mas a imprensa alemã também especula se ela não estaria seguindo a própria vontade de Kohl, cuja personalidade amargurada foi escancarada por um autor que publicou sem autorização uma série de entrevistas com o ex-líder realizadas em seus anos de isolamento.
RIXA COM MERKEL
Pouco depois de deixar o poder em 1998, a reputação de Kohl foi manchada por um caso de caixa dois que envolveu a CDU. O caso resultou na sua queda como chefe do partido.
O vazio foi preenchido por uma antiga protegida de Kohl, a atual chanceler Angela Merkel, que promoveu uma autocrítica na sigla e se afastou do antigo padrinho.
A atitude de Merkel não parece ter sido esquecida pela viúva de Kohl. Segundo a "Spiegel", Maike planejava exclui-la do funeral e ainda permitir que o premiê húngaro, Viktor Orbán, crítico feroz da política para refugiados da Alemanha, discursasse —ela teria sido demovida da ideia por membros da CDU.
Oficialmente, o velório público de Kohl será em 1º de julho, na sede do Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França). Após a controvérsia, está previsto que Merkel deverá dividir o palco com outros líderes e ex-chefes de Estado, como Bill Clinton.
A viúva informou que o enterro será num pequeno cemitério em Speyer, e não no jazigo da família Kohl, em Ludwigshafen, onde a primeira mulher está enterrada.
Para o filho Walter, o pai deveria ter sido velado em Berlim e enterrado ao lado da sua mãe.
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