Acordo para nova lei de imigração está 'provavelmente morto', diz Trump

Crédito: Sorane Yamahira/Bellvisuals.com/Reuters Projeção na fachada de hotel de Trump em Washington com os dizeres 'lugar de merda
Projeção na fachada de hotel de Trump em Washington com os dizeres 'lugar de merda'

MIKE DEBONIS
DO 'WASHINGTON POST'

A perspectiva de um acordo entre o partido Republicano e o Democrata para proteger jovens imigrantes de deportação e evitar a paralisação do governo dos EUA se enfraqueceu no domingo, em meio à troca de acusações entre congressistas. O presidente Donald Trump disse em rede social que a esperança de um acordo estava "provavelmente morta".

Negociadores passaram a semana tentando uma solução que daria proteção a imigrantes trazidos ilegalmente aos EUA quando crianças, conhecidos como "dreamers", inclusive os cerca de 800 mil que têm permissão para trabalhar no país devido ao Daca (Programa de Ação Retardada para Chegadas de Crianças, na sigla em inglês), criado no governo de Barack Obama.

Congressistas e governo chegaram a um acordo preliminar na quinta-feira (11), mas ele começou a ruir depois de uma reunião entre senadores e Trump na Casa Branca, na qual o presidente teria, segundo várias pessoas que estavam no local, perguntado por que os EUA deveriam aceitar imigrantes de "países de merda" como Haiti, El Salvador e nações africanas em vez de aceitar imigrantes de países europeus como a Noruega.

Dois senadores republicanos que estavam na reunião, Tom Cotton e David Perdue, que haviam dito anteriormente que não se lembravam das palavras usadas por Trump, disseram neste domingo (14) que o presidente não havia usado o palavrão. Democratas acusaram os congressistas de atacar a credibilidade de um colega senador, o que poderia atrapalhar mais ainda as negociações.

"Os dois lados agora estão destruindo o palco no qual qualquer coisa significativa pode acontecer", disse o senador republicano Rand Paul em programa de TV.

Trump negou de forma vaga as declarações polêmicas na sexta-feira (12); neste domingo, disse que as negociações estavam fracassando. "O Daca provavelmente está morto porque os democratas não o querem de verdade, eles só querem falar e tirar dinheiro dos nossos militares, que precisam desesperadamente dele", escreveu o presidente.

Os democratas vinham condicionando as conversas sobre imigração às negociações sobre orçamento, antes da data-chave da próxima sexta-feira (19), quando o governo pode parar se não houver acordo. Republicanos querem um aumento nos gastos militares; democratas querem um acordo para o Daca e um aumento nos gastos não relacionados à Defesa.

FALA POLÊMICA

O único democrata a participar da reunião na Casa Branca, Richard Durbin, disse a repórteres na sexta (12) que Trump usou a expressão "países de merda" repetidamente. O republicano Lindsey Graham não confirmou especificamente as palavras usadas, mas publicou uma nota em que defendia o colega democrata.

Já Perdue disse em programa de TV nesse domingo (14) que Trump não falou "países de merda". Ele disse que Durbin mentiu sobre a reunião: "Não é a primeira vez que o senador Durbin faz isso, e isso não é produtivo para resolver o problema que temos".

Cotton fez declarações similares em outro programa de TV. "Eu não ouvi isso, e eu estava sentado à mesma distância de Trump do que Durbin."

Os dois republicanos já haviam publicado uma nota conjunta em que diziam que "não se lembravam do presidente fazer esses comentários especificamente".

Já o líder democrata no Senado, Charles Schumer, defendeu Durbin, autor de uma lei que criaria um caminho para a cidadania de jovens imigrantes ilegais. "Atacar a credibilidade de Durbin é uma desgraça. Quer você concorde com ele ou não, ele é um dos membros mais honrados do Senado."

O comentário sobre "países de merda" se tornou um problema para os republicanos, levando muitos a criticar Trump, e enfureceu democratas, que veem a fala como prova das intenções da política externa de Trump.

"Eu acho que ele é racista. Temos que apontar isso; temos que denunciar e não empurrar para baixo do tapete", disse o deputado republicano John Lewis.

Os democratas têm dito que estão abertos a um acordo para a legislação de imigração que combine uma anistia para os "dreamers" com mais dinheiro para segurança na fronteira com o México. Republicanos têm tentado incluir mais pontos na negociação, tentando abolir um programa especial que permite que cidadãos de alguns países recebam vistos por meio de uma loteria, além de abolir regras de permitem que cidadãos naturalizados peçam vistos para seus familiares, o que os republicanos chamam de "migração em cadeia".

O acordo preliminar alcançado na quinta-feira daria proteção e criaria acesso à cidadania americana para os "dreamers", além de alocar US$ 2,7 bilhões para segurança na fronteira –parte disso seria usado para construir o muro que é uma promessa de campanha de Trump. Os vistos hoje disponíveis pela loteria seriam realocados para outros programas de migração, como o que oferece status temporário a cidadãos de países em crise.

Os republicanos precisam de votos de democratas para aprovar as novas regras, já que precisam de 60 votos e têm apenas 51 senadores; além disso, na Câmara, alguns republicanos não querem votar em um projeto que não resulte em mais gastos militares.

Um juiz federal suspendeu na semana passada a decisão de Trump de acabar com o Daca, dizendo que os beneficiados por ele podem manter seu status legal atual. No sábado, os serviços de imigração dos EUA disseram que aceitariam pedidos de renovação de vistos de quem já está no programa.

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