Israel toma passagem de Rafah e avança sobre cidade lotada de deslocados; vídeo

Dirigente da facção terrorista afirma que eventual operação no sul de Gaza não será piquenique para Exército de Tel Aviv

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Rafah (Faixa de Gaza) | Reuters

Após uma noite de ataques aéreos na Faixa de Gaza, Israel anunciou nesta terça-feira que assumiu o controle total da passagem de Rafah, enquanto avançava com seus tanques em direção à cidade homônima que se tornou o último refúgio para mais da metade da população do território palestino.

Durante a manhã, o Exército divulgou imagens que mostram veículos militares no local, na fronteira entre Gaza e Egito, e a bandeira israelense hasteada no lado palestino. "Uma operação precisa de contraterrorismo para eliminar combatentes do Hamas e infraestrutura em áreas específicas do leste de Rafah começou durante a noite", afirmaram as Forças Armadas.

Imagem divulgada pelo exército israelense nesta terça-feira (7) - AFP

Com a ofensiva, Rafah e Kerem Shalom, os dois principais pontos para entrada de mantimentos no território, estão fechados, segundo Jens Laerke, porta-voz da Ocha, o escritório de ajuda humanitária da ONU. O cenário é preocupante, segundo ele, porque a organização tem estoques muito baixos dentro de Gaza —o de combustível, por exemplo, duraria apenas um dia.

"Interromper a entrada de combustível por um longo período de tempo seria uma maneira muito eficaz de enterrar a operação humanitária", afirmou Laerke. Uma autoridade da fronteira do lado de Gaza e funcionários do Crescente Vermelho Palestino confirmaram à agência Reuters que a passagem está fechada.

Na prática, desde o início da guerra, autoridades israelenses já supervisionavam todo o fluxo de pessoas e mercadorias que entravam por Rafah, com direito a veto sob o argumento de risco à segurança. O governo egípcio coordenava o funcionamento dos portões, mas sob monitoramento de Tel Aviv.

A interrupção do fluxo humanitário em Rafah ocorre dois dias depois do fechamento de Kerem Shalom, outra passagem no sul do território palestino. No domingo (5), Israel anunciou que havia bloqueado o posto de fronteira após um ataque do Hamas matar quatro soldados no local.

Com o fechamento da passagem de Rafah, apenas Erez, ao norte, terá fluxo limitado de ajuda humanitária em um momento em que o Exército avança em direção ao sul. Segundo um porta-voz da OMS (Organização Mundial da Saúde), a medida não abre exceções para pessoas doentes e feridas.

O ataque a Kerem Shalom parece ter sido o estopim para o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, dar início à operação em Rafah, anunciada à exaustão nos últimos meses. Nesta segunda (6), Israel orientou que cerca de 100 mil pessoas saíssem da parte leste da cidade que antes da guerra tinha 280 mil palestinos e hoje abriga cerca de 1,5 milhão de deslocados internos pelo conflito.

Horas após a ordem de retirada, o premiê disse ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que garantiria a reabertura de Kerem Shalom para ajuda humanitária, segundo comunicado da Casa Branca, o que ainda não aconteceu. Washington diz que monitora as ações de Israel em Rafah de perto e que quer ver as duas passagens reabertas o mais cedo possível.

Em tom belicoso, Osama Hamdan, parte da liderança do Hamas, afirmou que eventual operação terrestre de Israel na cidade de Rafah não será um piquenique para o Exército de Tel Aviv —um jeito floreado de dizer que haverá resistência do grupo terrorista.

Ele disse ainda que o posto de controle na fronteira continua sendo uma passagem egípcio-palestina e que nenhum acordo de cessar-fogo será concluído enquanto durar a ofensiva militar de Israel em Rafah.

Os EUA historicamente são o principal aliado de Israel, mas têm manifestado preocupação com a iminente invasão da cidade, apesar de manter a ajuda militar. Nesta terça, Washington voltou a afirmar que suas posições sobre uma grande invasão terrestre de Rafah estão claras.

"Acreditamos que um acordo de reféns seja do maior interesse do povo israelense e palestino; isso traria um cessar-fogo imediato e permitiria um aumento na assistência humanitária para Gaza", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também pediu a Israel e ao Hamas que não poupem esforços para um acordo de cessar-fogo. Um ataque a Rafah, continuou o português, seria "um erro estratégico, uma calamidade política e um pesadelo humanitário".

"Estou perturbado e angustiado com a nova atividade militar em Rafah", disse Guterres a jornalistas. "O fechamento das passagens de Rafah e Karem Shalom é especialmente prejudicial a uma situação humanitária já desesperadora. Elas devem ser reabertas imediatamente."

O Itamaraty também se pronunciou em nota e firmou que a ofensiva israelense em Rafah pode "comprometer esforços de mediação e diálogo em curso". De acordo com a chancelaria brasileira, "o governo israelense, mostra, novamente, descaso pela observância aos princípios básicos dos direitos humanos e do direito humanitário".

Apesar dos apelos da comunidade internacional, tanques e aviões de Tel Aviv atacaram várias áreas e casas em Rafah durante a noite, segundo relatos de moradores a agências de notícias. O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, disse que os bombardeios mataram 54 pessoas e feriram outras 96 nas últimas 24 horas, aumentando o número de palestinos mortos na guerra para 34.789.

Na segunda-feira, o Hamas chegou a anunciar que havia concordado com uma proposta de cessar-fogo mediada por autoridades de Qatar, Egito e Estados Unidos no Cairo. Caso fosse implementada, a trégua seria a primeira desde a pausa de uma semana nos combates que ocorreu em novembro, mas Israel disse que os termos não atendiam às suas exigências.

A negativa foi um balde de água fria após dias de negociação de uma proposta classificada de generosa por autoridades do Reino Unido e dos EUA. O texto aceito pelo Hamas, no entanto, não atendia às principais demandas de Israel, afirmou o gabinete de guerra israelense.

"A proposta do Hamas ontem pretendia sabotar a entrada das nossas forças em Rafah. Isso não aconteceu", disse Netanyahu. Segundo o premiê, uma delegação enxuta, sem os principais negociadores do lado israelense, voltou nesta terça ao Cairo para retomar as negociações fracassadas.

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