Para limpar o Taj Mahal, Índia prescreve banho de lama

KAI SCHULTZ
DO "NEW YORK TIMES", EM NOVA DÉLI

Pela primeira vez na história, o Taj Mahal, monumento indiano ao amor eterno, está passando por uma faxina séria.

Durante mais de 350 anos as chuvas das monções em Agra, a cidade pujante onde fica o monumento, bastaram para lavar a sujeira das paredes da construção. Mas a poluição piorou nas últimas décadas e partes da fachada de mármore ficaram amarelas e pretas.

Desde 2015, trabalhadores escalaram os minaretes e muros do monumento para corrigir o desbotamento e retirar camadas de sujeira do prédio do século 17, que foi construído pelo imperador muçulmano xá Jahan como mausoléu para sua mulher preferida, Mumtaz Mahal.

Atrás do monumento, o rio Yamuna também se encheu de esgoto e outros dejetos, agravando o problema ao atrair milhões de insetos parecidos com mosquitos. Eles se instalam perto da parte posterior do Taj Mahal e excretam uma substância verde sobre as paredes durante os voos de acasalamento.

Limpar o monumento é demorado e desafiador. Para retirar as manchas, os trabalhadores suspensos em andaimes aplicam terra de Fuller —uma pasta de lama que absorve a sujeira, gordura e excremento animal, comumente usada para limpar impurezas da pele— sobre todo o monumento. A lama é mais tarde lavada, deixando uma superfície impecável.

"Não usamos substâncias químicas", disse Bhuvan Vikrama, um superintendente do Instituto Arqueológico da Índia, que está supervisionando a limpeza. "Esta é a melhor opção que encontramos até agora. Nós a usamos há décadas em superfícies de mármore."

Nos últimos anos, os andaimes evitaram principalmente que as pessoas tirassem fotos do monumento como ele é. Os trabalhadores tentaram limpar os minaretes em etapas, visando garantir que os milhões de turistas que visitam o Taj Mahal todo ano levassem uma boa visão do túmulo, que o célebre poeta indiano Rabindranath Tagore certa vez comparou a "uma lágrima solitária suspensa na face do tempo".

Mas neste ano os trabalhadores poderão enfrentar seu maior obstáculo até agora: restaurar a cúpula do monumento, deixando-a branca como uma pérola. Os andaimes metálicos que os trabalhadores usaram para aplicar a pasta de lama nos minaretes são pesados e rígidos demais para montar ao redor do domo, por isso está sendo considerada uma espécie de andaime de bambu, que foi usada em obras de conservação nos anos 1940.

A iniciativa de limpeza se tornou um assunto das conversas em Agra, onde algumas pessoas disseram que os andaimes extra, que formam uma rede preta em torno do mármore, podem afastar os visitantes.

Políticos importantes apareceram para ver a limpeza, como Yogi Adityanath, o ministro-chefe do Estado de Uttar Pradesh, que inclui Agra. Adityanath, um nacionalista hindu, foi criticado no ano passado por questionar a importância central do Taj Mahal, com seu legado muçulmano, no circuito turístico da Índia. Mas em uma visita recente ele também pegou uma vassoura, varreu perto de um portão de entrada e chamou o monumento de "joia única".

Investimentos foram aplicados recentemente em Agra. Em 2012, uma rodovia de alta velocidade ligando Nova Déli, a capital indiana, a Agra foi inaugurada, permitindo que os visitantes cheguem ao Taj Mahal em cerca de três horas.

Em dezembro, o Banco Mundial anunciou que fornecerá um empréstimo de US$ 40 milhões para os governos da Índia e de Uttar Pradesh para desenvolver o Taj Mahal e outros monumentos. Não está claro quanto desse dinheiro será gasto na limpeza, que as autoridades esperam terminar em novembro.

Apesar de os números do turismo no Taj Mahal terem caído ligeiramente nos últimos anos, talvez por causa dos andaimes, as multidões ainda são enormes, levando o Instituto Arqueológico da Índia a apresentar uma proposta de limitar o número de visitantes diários a 40 mil e sua permanência a três horas por turista.

O guia de turismo Fodor's aconselha os visitantes a deixar o Taj Mahal para quando a restauração da cúpula, que ainda não começou, estiver concluída. Mas Shamsuddin Khan, um antigo guia turístico em Agra, disse que não vê problemas. Ele manifestou confiança que pessoas do mundo inteiro continuarão acordando antes do amanhecer, como fazem há anos, para ter uma visão do túmulo banhado em uma luz suave e dourada.

"O Taj Mahal continuará sendo o Taj Mahal", disse ele.

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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