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31/05/2010 - 23h03

Com relatório da AIEA, EUA têm justificativa para minimizar acordo Brasil-Turquia-Irã

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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Irã está preparando equipamentos adicionais para enriquecer urânio em níveis mais elevados e já acumulou mais de duas toneladas de urânio enriquecido, segundo um relatório confidencial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ao qual as agências de notícias tiveram acesso.

Esse relatório aumenta as preocupações dos EUA e países aliados sobre a habilidade do país persa em produzir armas nucleares. Ao mesmo tempo, reduz as chances de que o acordo nuclear firmado sob mediação de Brasil e Turquia seja reconhecido como suficiente pelas potências ocidentais.

"Com base neste relatório, Washington terá justificativa em minimizar o acordo Brasil-Turquia-Irã, para focar em sanções no lugar disso", afirmou David Albright, diretor do Instituto para Ciências e a Segurança Internacional.

Teerã cedeu ao pedido da AIEA por uma melhor fiscalização do enriquecimento, mas a agência queixou-se de que isso deveria ter começado logo no início do processo, para assegurar que não houvesse desvio de material para fins militares.

O governo do Irã aceitou que os inspetores da AIEA colocassem lacres da agência em materiais e equipamentos e realizassem inspeções com pouco aviso prévio.

Relatório

O relatório de nove páginas da AIEA diz que o Irã instalou um segundo conjunto de 164 centrífugas (máquinas de enriquecimento) para contribuir com o enriquecimento a 20%, mas que elas ainda não entraram em operação. O relatório anterior, de fevereiro, citava apenas um conjunto de centrífugas.

O Irã disse à agência que as máquinas adicionais vão dar apoio à operação de enriquecimento, permitindo que o material seja retroalimentado pelas máquinas. Analistas dizem, no entanto, que o sistema poderia ser configurado para ampliar a produção de combustível nuclear.

No relatório, a AIEA afirma ainda que "continua preocupada com a possível existência no Irã de atividades nucleares não oficiais passadas e presentes, envolvendo organizações militares, incluindo atividades relacionadas ao desenvolvimento de uma matriz de choque para um míssil".

A agência informou à Associated Press que o Irã tem agora 2.427 quilos de urânio enriquecido a 3%. Isso significa que mesmo se trocasse 1.200 kg com a comunidade internacional, como prevê o acordo mediado por Turquia e Brasil, o Irã ainda ficaria com material mais do que suficiente para fabricar uma arma nuclear. Com isso, o acordo torna-se ainda menos atraente para os EUA e seus aliados.

Duas toneladas de urânio seriam suficientes para duas ogivas nucleares, apesar de o Irã afirmar que não está produzindo armas nucleares e que seu programa é pacífico.

Reação dos EUA

O último relatório da agência de inspeção nuclear da ONU reafirma a negativa do Irã em cumprir com requerimentos internacionais necessários para permitir conversas construtivas em seu programa nuclear, disse a Casa Branca.

"Este último relatório da AIEA claramente mostra o contínuo fracasso do Irã em cumprir com suas obrigações internacionais e sua sustentada falta de cooperação com a AIEA", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Hammer.

Os Estados Unidos lideram os esforços para uma nova rodada de sanções do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas ao Irã por seu programa nuclear.

"Em resumo, o último relatório da AIEA ressalta que o Irã tem recusado a tomar quaisquer das ações exigidas pelo Conselho de Segurança da ONU ou a AIEA, que são necessários para permitir negociações construtivas no futuro de seu programa nuclear", disse Hammer.

Histórico

O Irã começou em fevereiro a enriquecer urânio a 20%, para alimentar um reator de pesquisas médicas. O Ocidente teme que esse seja um avanço no sentido de purificar urânio até os cerca de 90% necessários para o uso em armas nucleares, intenção que Teerã nega possuir.

No começo de maio, o Irã aceitou, sob mediação do Brasil e da Turquia, entregar 1.200 quilos de urânio baixamente enriquecido para em troca receber combustível para o reator de pesquisas médicas. Teerã informou na ocasião, no entanto, que não pretendia abrir mão de enriquecer urânio por conta própria.

Apesar da insistência do Irã no caráter pacífico das suas atividades, as grandes potências mundiais já decidiram adotar uma nova rodada de sanções da ONU contra o programa nuclear do país.

O acordo de intercâmbio de material nuclear assinado com Brasil e Turquia reflete os termos de uma proposta feita em outubro pela AIEA, que envolveria todo o estoque de urânio do Irã. Mas desde então, segundo o relatório, o estoque iraniano chegou a 2,4 toneladas, o dobro do que seria enviado à Turquia.

 

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