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09/06/2010 - 20h49

ONU aprova sanções ao Irã; secretário-geral pede cooperação do país

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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, pediu ao Irã que cumpra com suas obrigações internacionais e coopere plenamente com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), segundo comunicado divulgado pelo porta-voz das Nações Unidas, Martin Nesirky.

"Esses são os passos necessários para restaurar a confiança da comunidade internacional sobre os fins exclusivamente pacíficos do programa nuclear iraniano", disse o porta-voz.

Tolga Bozoglu/Efe - 22.mai.10
Secretário-geral da ONU pede que o Irã cumpra com suas obrigações para retomar confiança
Secretário-geral da ONU pede que o Irã cumpra com suas obrigações para retomar confiança

Em sessão realizada nesta quarta-feira em Nova York, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma quarta rodada de sanções contra o Irã devido ao seu programa nuclear. O documento foi aprovado com 12 votos a favor, uma abstenção (do Líbano) e dois votos contra (Brasil e Turquia).

As novas sanções devem vetar investimentos exteriores iranianos em atividades e instalações relacionadas com a produção de urânio, serão estabelecidas restrições na venda de armas convencionais ao Irã. Além disso, o país será proibido de fabricar mísseis balísticos com capacidade de carregar ogivas nucleares.

Também deve haver novas restrições às operações financeiras e comerciais com o Irã, além do reforço do regime de inspeções das cargas dos navios e aviões iranianos para evitar que burlem o embargo internacional.

Acordo recusado

Horas antes da votação, potências ocidentais haviam rejeitado oficialmente o acordo nuclear alcançado entre Brasil, Irã e Turquia, transmitindo sua posição à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).

Vahid Salemi/AP - 17.mai.10
Da esquerda para a direita: o chanceler Celso Amorim, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o premiê Tayyip Erdogan e o chanceler Ahmet Davutoglu
Da esquerda para a direita: o chanceler Celso Amorim, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o premiê Tayyip Erdogan e o chanceler Ahmet Davutoglu

Rússia, EUA e a França enviaram sua resposta oficial ao acordo de intercâmbio de urânio assinado pelo Irã com o Brasil e a Turquia em 24 de maio passado, indicou nesta quarta-feira um diplomata ligado ao órgão da ONU.

De acordo com a posição divulgada pelos EUA, Rússia e França, a proposta de acordo acertada entre Brasil, Irã e Turquia deixaria o país com material suficiente para fabricar uma arma nuclear. A informação tornada pública pelo Irã de que o pacto não impediria de continuar enriquecendo urânio também preocupa as potências.

Para os três países ocidentais o acordo, que derivou de uma oferta similar feita pela AIEA ao Irã ainda no ano passado, não esclareceu dúvidas importantes sobre o programa nuclear do país, que eles acreditam estar desenvolvendo armas nucleares. O Irã nega e diz que enriquece urânio somente para fins pacíficos.

Na segunda-feira (6), a AIEA voltou a pedir ao governo iraniano que dê provas conclusivas de que não pretende adquirir armamentos atômicos.

Reação do Irã

Em resposta à nova rodada de sanções, o presidente da República Islâmica, Mahmoud Ahmadinejad, disse que elas são "sem valor algum" e "devem ir direto para a lata do lixo, como um lenço usado".

Richard Drew/AP - 03.mai.10
Para Ahmadinejad, sanções "devem ir direto para a lata do lixo, como um lenço usado"
Para Ahmadinejad, sanções "devem ir direto para a lata do lixo, como um lenço usado"

"Estas resoluções não valem um centavo para a nação iraniana", declarou Ahmadinejad à agência estatal Irna, no Tadjiquistão.
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"Nada vai mudar. A República Islâmica do Irã vai manter suas atividades de enriquecimento de urânio", disse Ali Asghar Soltanieh, enviado do Irã na AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), com sede em Viena, logo depois da aprovação da medida na ONU, em Nova York.

Anteriormente, o Irã já havia rejeitado a aprovação do pacote de sanções, dizendo que a medida é "errada" e deve piorar a crise, de acordo com a rede de TV iraniana Al Alam.

"A resolução foi uma medida errada (...), não é um passo construtivo para resolver a questão nuclear. Isso tornará a situação mais complicada", disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, logo após a aprovação.

Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira em Natal que as sanções são "um equívoco" ocasionado pela "birra" dos "donos do conselho".

"Em vez de chamarem o Irã para a mesa [de negociação], eles resolveram, na minha opinião, apenas por birra, manter as sanções, que vão terminar não tendo nenhuma implicação para o Irã", disse Lula.

Lula declarou também que o Conselho de Segurança da ONU "jogou fora" uma oportunidade histórica de negociar tranquilamente o programa nuclear iraniano.

Ele citou o acordo nuclear feito por Brasil, Turquia e Irã, que foi apresentado à ONU, e disse que quem queria negociar era justamente o Irã. "Quem não queria [negociar] eram aqueles que acham que a força resolve tudo", criticou.

Amorim

O chanceler Celso Amorim lamentou nesta quarta-feira o pacote de sanções conta o Irã e disse que esperava uma reação mais positiva dos países que votaram a favor das medidas.

"Uns votaram por convicção, outros porque teriam alguma vantagem com isso", criticou Amorim, que está em audiência pública em comissão na Câmara dos Deputados.

Amorim alfinetou também a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) pela demora de envio de resposta à carta enviada pelo governo iraniano, que se comprometia a seguir o acordo assinado entre Irã, Brasil e Turquia.

O Irã entregou a carta à agência há três semanas, dentro do cronograma estabelecido pelo acordo. Segundo Amorim, a resposta da agência foi recebida apenas ontem, o que não deu a oportunidade de o Irã aceitar uma contraproposta.

O ministro reiterou que o acordo atendia a todos os requisitos colocados pelas potências e, ao mesmo tempo, era pioneiro e atraente ao Irã no seguinte aspecto: uma vez em vigor, os países reconheceriam, de forma tácita e implícita, que o país teria o direito de enriquecer urânio a níveis inferiores a 20%.

Amorim afirmou, no entanto, que o Brasil vai cumprir as sanções aprovadas pela entidade. "O Brasil vai cumprir as sanções, mas cumprir não significa respeito", disse.

Hillary

A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse nesta quarta-feira que as novas sanções contra o Irã vão impedir as ambições nucleares do país e deu esperanças que o Brasil e a Turquia possam ter um papel importante em futuras iniciativas diplomáticas com Teerã.

"Nós acreditamos que desaceleramos e certamente interferimos com a continuidade de seu programa nuclear com estas sanções. Ao mesmo tempo, nós queremos que eles voltem à mesa de negociação", afirmou.

Clinton disse que o Brasil e a Turquia ainda podem ter um papel como pontes para Teerã. "No atual impasse diplomático com o Irã, eu acho que a Turquia e o Brasil continuarão a ter um importante papel", disse.

Ela também adicionou que os dois países emergentes podem ter votado não as sanções para "deixar as portas abertas" no Irã.

Obama

o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou que a República Islâmica deve ficar mais cada vez mais isolada enquanto o governo iraniano "seguir ignorando" as regras internacionais do Tratado de Não Proliferação (TNP).

Em pronunciamento em Washington, o presidente americano deixou claro que a aprovação do novo pacote de sanções -- defendido e impulsionado em grande parte pelos Estados Unidos -- "não fecha a porta da diplomacia" entre o Ocidente e Teerã, mas demonstra que toda "ação tem consequências" e nesta quarta-feira o governo do Irã "sofre as consequências" de suas atitudes.

Os EUA consideram que o Irã coloca em risco a segurança regional do Oriente Médio, criando tensões com seus vizinhos, declarando ameaças -- numa clara referência a Israel -- "patrocinando grupos terroristas", e dando prosseguimento ao seu polêmico programa nuclear.

"O governo do Irã precisa entender que a segurança de seu povo não será garantida por meio de seu programa nuclear", disse Obama.

Barack Obama defendeu a implementação das novas sanções -- as mais restritivas já aplicadas ao Irã -- dizendo que Teerã "não conseguiu provar à comunidade internacional" que seu programa nuclear tem fins pacíficos.

Mais cedo, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, chegou a afirmar que as sanções contra a República Islâmica seriam "ineficazes", citando como exemplo a Coreia do Norte, que anunciou o total funcionamento de seu programa nuclear mesmo após as punições recebidas pela ONU.

Em resposta, Obama disse que os EUA "sabem que o Irã não mudará seu comportamento de um dia para o outro", e que a comunidade internacional deve manter as portas da diplomacia abertas.

Israel

Israel considera que as novas sanções votadas nesta quarta-feira pelo Conselho de Segurança da ONU contra o Irã e seu programa nuclear representam "um passo importante numa boa direção", afirmou o vice-primeiro-ministro israelense Sylvan Shalom, em entrevista à rádio pública.

Mas, segundo Shalom, "elas não bastam, pelo que é preciso contemplar rapidamente outras medidas contra o Irã se o país não renunciar a seus projetos nucleares".

O ministério das Relações Exteriores israelense publicou um comunicado no qual afirma que Israel estima que a "decisão do Conselho é importante e outorga mais peso às exigências da comunidade internacional no que diz respeito ao Irã".

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

 

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