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14/06/2010 - 15h34

Mortos podem chegar a 200 no Quirguistão; ex-líder pede envio de tropas

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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Após o agravamento dos conflitos étnicos no sul do Quirguistão, que já deixam 124 mortos segundo dados oficiais, e mais de 200 de acordo com líderes da comunidade uzbeque, o ex-líder Kurmanbek Bakiyev disse que somente com o envio de tropas estrangeiras será possível restaurar a paz no país.

A Organização do Tratado Coletivo de Segurança (CSTO), composta pela Rússia, Belarus, Uzbequistão, Cazaquistão, Tadjiquistão e Armênia considerou o envio de tropas de paz ao sul do Quirguistão, que também é membro do grupo, que é uma aliança militar semelhante à Otan (Aliança para o Tratado do Atlântico Norte).

Anvar Ilyasov/AP
Refugiada uzbeque que perdeu a família após os confrontos étnicos busca asilo no Uzbequistão
Refugiada uzbeque que perdeu a família após os confrontos étnicos busca asilo no Uzbequistão

A aliança de ex-repúblicas soviéticas se reuniu nesta segunda-feira em Moscou para discutir a situação do país centro-asiático que desde a sexta-feira se encontra em estado de emergência.

"A CSTO tem à sua disposição tudo que precisa para agir em tais situações, incluindo um contingente de paz, [compostas de] forças de reação rápida e forças coletivas de envio rápido para a região da Ásia Central", disse o secretário-geral da CSTO, o general Nikolai Bordyuzha, citado pela imprensa russa.

Exilado em Belarus, Bakiyev pediu que as comunidades cheguem à uma solução, e aproveitou para tecer críticas ao governo que o depôs do cargo.

"Eu peço aos dois povos irmãos -- os quirquizes e os uzbeques -- que cessem as lutas sangrentas, já que o governo interino é incapaz de fazer isto", disse numa entrevista coletiva em Minsk, capital de Belarus.

Bakyiev disse que as tropas da CSTO poderiam "trazer a situação de volta ao normal".

O ex-líder negou qualquer envolvimento nos confrontos étnicos do sul do país e afirmou não ter planos de fazer um retorno à cena política quirguiz.

Forças CSTO

Após o encontro, a aliança militar formada por seis ex-repúblicas soviéticas mais a Rússia, que a lidera, deixou claro que considera a ideia de enviar tropas de segurança ao sul do Quirguistão, mas ainda não há conclusão definitiva.

"Deve-se pensar muito antes de usar estes meios, e a coisa mais importante é usá-los como parte de um conjunto de medidas", disse o secretário-geral da CSTO, o general Nikolai Bordyuzha.

Os últimos confrontos são o pior exemplo de lutas étnicas no Quirguistão desde 1990, quando quando o ex-líder russo Mikhail Gorbatchov enviou tropas soviéticas para Och depois de centenas de mortos devido a uma disputa de terras.

A situação preocupa a Rússia, os Estados Unidos e a vizinha China. Washington usa uma base aérea no país, em Manas, a cerca de 300 km de Och, como um importante entreposto para suas operações no Afeganistão. A Rússia também opera uma base militar no país.

Rússia & EUA

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem recebido atualizações constantes sobre a onda de violência no Quirguistão.

De acordo com a Casa Branca as autoridades americana estão em contato permanente com seus colegas russos sobre a situação no país centro-asiático.

"O presidente tem recebido notícias constantes, e nosso pessoal no governo tem estado em contato direto com os colegas russos sobre a situação na região para garantir que estejamos sempre atualizados", disse o porta-voz da Casa Branca, Bill Burton.

Caos

Disparos e confrontos ainda são constantes nesta segunda-feira e as agências de notícias reportam um cenário devastador no sul do país centro-asiático. Além da violência ainda em curso, há cadáveres jogados nas ruas, carros e casas incendiadas e moradores em pânico tentando deixar as cidades.

"A cidade inteira está num estado de pânico porque todas as pessoas têm filhos", disse Galina Nikolayevna, moradora de Och.

Anvar Ilyasov/AP
Campos de refugiados já estão sendo montados na fronteira; países temem crise humanitária
Campos de refugiados já estão sendo montados na fronteira; países temem crise humanitária

Apesar da situação caótica, o governo interino anunciou ter prendido "uma pessoa muito conhecida", suspeita de incitar a violência, sem dar maiores detalhes. Suspeitos do Tadquijistão, Afeganistão e do próprio Quirguistão também estão detidos e dizem ter sido contratados por defensores do ex-líder quirguiz Kurmanbek Bakiyev, deposto em abril, informou o porta-voz Farid Niyazov. De seu exílio em Belarus, o ex-líder nega qualquer envolvimento nos confrontos.

União Europeia

Diversos países mostram preocupação com a deterioração da situação no sul do Quirguistão. A dificuldade de envio de ajuda humanitária aos refugiados, além de uma possível intervenção para deter a violência estão entre as ações que provavelmente serão tomadas com mais urgência.

A Alta Representante de Política Exterior da União Europeia (UE), Catherine Ashton, disse estar muito preocupada e anunciou que enviará seu emissário para a Ásia Central.

"É uma situação muito difícil e perigosa. É muito importante deter a violência", informou. Ashton disse ainda que vai falar com o primeiro-ministro do Quirguistão e com o presidente da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

A Comissão Europeia (órgão Executivo da UE) anunciou no sábado o envio de um especialista em ajuda humanitária ao Quirguistão para avaliar as necessidades humanitárias diante da intensificação das lutas étnicas no país.

Ajuda humanitária

Os Estados Unidos, a Rússia e a ONU (Organização das Nações Unidas) trabalham para agilizar a entrega de ajuda humanitária por meio de aviões, enquanto o Uzbequistão montou acampamentos com urgência, para lidar com os cerca de cem mil refugiados na fronteira.

A maioria são mulheres, crianças e idosos, assustados e já passando fome, indicaram autoridades locais, que temem uma possível crise humanitária caso estes refugiados não recebam assistência rapidamente.

De acordo com a embaixada americana em Bishkek, capital quirguiz, um carregamento de ajuda humanitária deve ser enviado da base de Manas o mais rápido possível.

Refugiados

O Uzbequistão anunciou que fechará nesta segunda-feira sua fronteira com o Quirguistão, e pediu ajuda internacional para os 45 mil refugiados adultos e seus filhos que já foram oficialmente recebidos, informou o vice-primeiro-ministro uzbeque, Abdullah Aripov.

Segundo a agência "Kazinform", um grande número de refugiados está na fronteira quirguiz para atravessar para o país vizinho.

Faruk Akkan/AP
Cerca de cem mil uzbeques aguardam para cruzar fronteira em Osh, no sul do Quirguistão
Cerca de cem mil uzbeques aguardam para cruzar fronteira em Och, no sul do Quirguistão

Historicamente, as relações entre a minoria uzbeque, que supõe entre 15 e 20% da população quirguisa, e os quirguises são tensas, em particular por motivos econômicos. Poderosos grupos mafiosos também são ativos na região.

Desde a independência do Quirguistão em 1991, após o fim da União Soviética, as tensões entre minorias étnicas se intensificaram no país.

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

 

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