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Venezuela vive explosão de sequestros
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FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Na quarta-feira, um mototaxista e um carpinteiro da favela do Petare, a maior de Caracas, no leste da cidade, foram capturados. No dia seguinte, apareceram mortos.
Os familiares de Eduardo Oskel, 20, e Ángel Barrios, 19, contaram aos jornais locais que pouco depois que os dois foram levados começaram as chamadas dos criminosos: queriam o equivalente a US$ 11 mil. Tentou-se, sem sucesso, obter a quantia.
O crime alimenta as explosivas estatísticas de homicídios no país -estimados oficialmente em 19 mil ou 75 por cada 100 mil habitantes, em 2009-, mas também ilustra a "popularização" do sequestro na Venezuela.
O delito, circunscrito aos mais ricos até alguns anos atrás, chegou às modalidades mais típicas da classe média conhecidas no Brasil, como o sequestro relâmpago e "semirrelâmpago" -curtos cativeiros, pedindo quantias menores.
No caso das zonas de classe média baixa e pobres, base do chavismo, há a modalidade que combina o sequestro de bens, como motos ou carros. Solta-se a vítima, mas cobra-se pelo veículo.
Na sexta, a polícia disse ter desmantelado uma quadrilha de 17 pessoas especializada em 'sequestrar carros', especialmente de taxistas.
OPERAÇÃO
'Ocorreu a popularização porque é o tipo de crime que queima etapas. O criminoso ganha dinheiro vivo, não tem de vender a peça do carro ou a moto', diz Roberto Briceño, diretor o Observatório de Violência da Venezuela (OVV).
O observatório, que reúne quatro universidades, ganhou holofotes ante a decisão do governo de parar de difundir as cifras oficiais de homicídios a partir de 2006.
O diretor, uma das vozes mais incômodas para Chávez, viu o tema da violência capturar a agenda a pouco mais de 30 dias das eleições legislativas. "O grave é que o sequestro tem um impacto psicológico muito forte", afirma Briceño.
Para o criminologista Andres Santillano, da Universidade Central da Venezuela, o crime também exibe uma faceta importante: a corrupção policial. Policiais estão envolvidos, segundo o próprio governo, em 20% dos crimes.
"O sequestro, mesmo na versão 'democratizada' que temos agora, exige um mínimo de sofisticação", diz.
O OVV estima, em todo o país, 16 mil sequestros, contando todas as modalidades, contra 8.000 em 2006.
Os números distam dos de Ana María Sanjuan, da Universidade Central da Venezuela, elaborados a partir de dados oficiais. Ela soma em torno de 730 casos em 2009.
Ambas fontes registram, porém, alta acelerada nesse tipo de delito. Pelos números de Sanjuan, apresentados em maio num seminário do Woodrow Wilson Center (EUA), a cifra quase dobrou em relação a 2008.
No caso de Caracas, a alta foi ainda maior, de 82 em 2008 para 201 em 2009.
Oscar Sabater vê a escalada dos índices de crimes refletindo-se no seu negócio: crescimento de 10% ao ano no serviço de blindagem de automóveis no qual é sócio de uma empresa brasileira.
"Prestava serviço para embaixadas, empresários. Tinha de fazer propaganda. Agora, clientes de todo tipo me procuram", diz Sabater. O preço da blindagem de um carro é US$ 25 mil, em média.
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