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07/09/2010 - 14h12

Reforma da aposentadoria leva mais de 1 milhão às ruas na França

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DE SÃO PAULO

O Parlamento francês iniciou nesta terça-feira o debate sobre os planos do governo para reformar o sistema de aposentadorias e elevar de 60 para 62 anos a idade mínima para obter o benefício. A polêmica proposta tem apoio de menos de um terço da população e levou ao menos 1,1 milhão às ruas do país em uma greve geral contra a mudança.

O ministro do Trabalho, Eric Woerth, disse aos legisladores que a reforma é urgente já que o sistema de pensão perde muito dinheiro com o aumento da expectativa de vida desde 1983, quando o sistema vigente foi implementado.

"Se não fizermos a reforma amanhã, não poderemos salvar [o sistema]", disse Woerth aos parlamentares, que devem votar a medida na próxima semana.

Miguel Medina/AFP
Multidão marcha contra reforma do sistema da Previdência na França; entre 1,1 milhão e 2,5 milhões protestam
Multidão marcha contra reforma do sistema da Previdência na França; entre 1,1 milhão e 2,5 milhões protestam

Há dúvidas, contudo, se o governo de Nicolas Sarkozy conseguirá aprovar a medida diante do impacto da greve desta terça-feira. Os sindicatos estimam que mais de 2,5 milhões foram protestar nas ruas de vários cidades francesas contra a medida, vista pela maioria como uma injustiça social. De qualquer forma, a manifestação é ainda maior do que os protestos antigoverno do último dia 24 de junho, que atraíram entre 800 mil [números do governo] e 2 milhões de franceses [segundo o sindicato].

A presença massiva dos franceses é ainda mais um golpe a Sarkozy, que amarga taxas de popularidades mais baixas de seu governo e tem apelado a medidas de apoio na extrema direita para reviver o apoio ---como expulsão de ciganos, proibição do véu islâmico integral nas ruas e cerco aos imigrantes.

O dia de protesto inclui uma greve nos transportes públicos, hospitais, correio, serviço audiovisual público e setor privado, como bancos e empresas como a petroleira Total. A paralisação afetou consideravelmente os serviços ferroviário --com 42% de adesão segundo os sindicatos--, e urbano, como o metrô de Paris, que circula com menos frequência e lotado. O setor aéreo, com 25% de adesão, também foi afetado nas rotas domésticas e dentro da Europa. No Brasil, a Infraero informou à Folha.com que não houve atrasos ou cancelamentos nos voos vindos da França ou com destino ao país europeu.

Os professores também estão em greve, em protesto contra o fim de milhares de postos de trabalho.

A França, com mais de 15 milhões de aposentados, é um dos países europeus com a menor idade mínima para que uma pessoa tenha direito à aposentadoria. O dia de protestos coincide com a apresentação na Assembleia Nacional do projeto de reforma. O projeto pretende mudar ainda a Idade para aposentadoria completa, com 100% dos rendimentos, de 60 para 67 anos e com ao menos 41 anos de contribuição, em vez de 40,5.

François Chereque, líder do sindicato CFDT, disse à rádio RTL que o governo seria imprudente em ignorar o que ele chamou de "a maior participação nos últimos anos" em um protesto. Bernard Thibault, líder da principal central sindical de comércio, a CGT, advertiu os ministros: "Se eles não responderem e não prestarem atenção, vai haver consequências e nada está descartado neste momento."

Pesquisas de opinião mostram que dois terços dos eleitores acham que a proposta de Sarkozy de aumentar a idade de aposentadoria é injusta e apoiam o protesto, mas dois terços também acham que as greves não farão nenhuma diferença. "Nunca na história das pesquisas o povo francês esteve tão convencido de que há uma injustiça social", disse o analista político Roland Cayrol, do instituto de Paris Sciences Po.

PEQUENAS CONCESSÕES

O governo conservador diz que a reforma é essencial para equilibrar as contas de pensão até 2018, reduzir o déficit público e preservar a alta nota do sistema de crédito da França --que ajuda a pagar os menores juros possíveis no mercado financeiro.

Mas com a queda da popularidade de Sarkozy, dois assessores do presidente sugeriram neste domingo que ele pode alterar ao menos um "escudo fiscal" amplamente criticado que previne que os ricos paguem mais de 50% de sua renda para o Estado.

Thierry Suzan/Efe
Rua de Estrasburgo, na França, fica lota de manifestantes que não querem a reforma do sistema da Previdência
Rua de Estrasburgo, na França, fica lota de manifestantes que não querem a reforma do sistema da Previdência

O escândalo envolvendo Woerth, sobre suposto conflitos de interesse e doações ilegais, enfraqueceu a sua posição e ajudou a conduzir os protestos contra a lei de pensão, visto como a reforma de Sarkozy mais emblemática para a campanha das eleições de 2012.

A França tem uma tradição de militância, embora apenas cerca de 10% dos trabalhadores sejam sindicalizados, principalmente no setor público. A revolta de 1995 obrigou o presidente Jacques Chirac a abandonar planos de reforma das pensões e da saúde, e, em 2006, os protestos de estudantes acabaram com os planos para estabelecer contrato de trabalho com baixos salários para jovens.

Mas o clima é diferente agora e muitas pessoas aceitam o argumento de que a crescente expectativa de vida e as abaladas finanças públicas tornam a reforma inevitável. "Ao contrário de 1995, quando multidões semelhantes foram às ruas, não há o sentimento de que podem ganhar algo", disse Cayrol, da Sciences Po.

COM AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

 

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