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26/09/2010 - 06h50

Realidade de ciganos búlgaros oscila entre emigração e miséria

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VLADISLAV PUNCHEV
DA EFE

Crianças descalças e vestindo roupas surradas brincam em meio à gritaria e música alta dos moradores e ao mau cheiro das toneladas de lixo que rodeiam os prédios e casas do local, que mais parecem ter sido bombardeados.

O bairro de Krasna Polyana é um exemplo típico das condições de vida dos ciganos na Bulgária, as mesmas que afugentam muitos deles e estimulam a emigração. E é mais ou menos a mesma realidade dos 41 que retornaram ao país deportados da França, dentro da política de Paris para eliminar assentamentos ilegais.

"Lá eu ganhava uns 2 mil euros por mês no restaurante onde trabalhava. Se não conseguir um trabalho parecido, tentarei a sorte em outro país da Europa Ocidental", declarou Sevdalina Alexieva, que voltou de Paris no fim de agosto com seu dois filhos.

Em troca deste retorno, qualificado de voluntário pelas autoridades francesas, Sevdalina recebeu uma compensação de 300 euros.

Ao voltar para sua casa em Varna, no leste da Bulgária, essa emigrante descobriu que sua moradia tinha sido saqueada, durante os três anos que passou na França. Cabos, encanamentos, tijolos e inclusive partes do teto foram furtados.

Deprimida e sem esperança diante da falta de trabalho, ela se mostra arrependida de ter deixado a França e já prepara sua viagem de volta.

Enquanto Sevdalina se lamenta e sonha em abandonar novamente a Bulgária, no bairro periférico de Krasna Polyana, um cigano de 60 anos que não quer revelar seu nome fala também das vantagens de ir trabalhar fora.

"Trabalhei durante vários anos na Espanha onde ganhava 500 euros por mês. Esse dinheiro você não consegue aqui. Mas estou doente e por isso fico por enquanto na Bulgária. Minha filha e genro ficaram na Espanha e me enviam dinheiro. Posso decidir voltar a qualquer momento e ninguém pode me impedir nem expulsar", explica.

O afã de deixar a Bulgária não surpreende quando se levam em conta os números oficiais sobre os problemas que afetam os ciganos. Devido à falta de acesso a serviços médicos, 95% deles morrem antes de atingir a idade de aposentadoria.

A taxa de desemprego é de 82%, somente 6% concluíram o Ensino Médio e quase metade é analfabeta.

Além disso, a rejeição do resto da sociedade para com os 800 mil ciganos na Bulgária é assustadora. Um estudo de 2008 constatou que 50% dos búlgaros rejeitavam ter um cigano como vizinho e 85% eram contrários que seu filho se casasse com um membro dessa minoria.

Recentemente, os pais de 24 estudantes primários mudaram seus filhos de escola porque 12 crianças ciganas seriam alunos da instituição. Duas professoras chegaram a pedir demissão argumentando que o trabalho educativo é difícil com ciganos.

Por isso, o desejo de muitos de abandonar o país não surpreende uma das principais especialistas sobre a realidade da minoria, Ilona Tomova.

Esta especialista em minorias disse que cerca de 50 mil cidadãos búlgaros de etnia cigana emigraram nos últimos anos a países europeus.

"Já adverti quando começava a campanha de deportação de ciganos da França que eles teriam uma situação muito difícil em sua pátria. Isso porque muitos deles venderam suas casas e bens para juntar dinheiro e viajar ao exterior para tentar uma vida melhor", ressaltou Tomova.

Segundo ela, grande parte dos repatriados não conseguirá pagar os empréstimos que pegou para financiar a aventura no exterior. "Começarão a roubar, a cometer crimes e a se prostituir. Muitos deles acabarão na prisão".

A pesquisadora se mostrou convencida de que muitos dos ciganos deportados tentarão retornar imediatamente à França ou, se não conseguirem, seguirão para Alemanha, Itália, Portugal ou Espanha, este último "o único país europeu onde não se sentem discriminados".

 

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