Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/10/2010 - 13h10

Em novo livro, Mandela diz que não é santo

Publicidade

DA FRANCE PRESSE, EM JOHANNESBURGO

Jornais britânicos e sul-africanos anteciparam neste domingo trechos da nova biografia de Nelson Mandela, na qual ele afirma que não é santo e se sente desconfortável com a idealização de sua própria imagem.

"Uma coisa que me preocupava profudamente na prisão era a imagem falsa que eu inadvertidamente projetei para o mundo; era ser considerado um santo", revela um trecho do livro, publicado no "Sunday Times" sul-africano. "Nunca fui um santo, mesmo se baseado na definição terrena de um santo como um pecador que continua tentando".

"Conversas comigo mesmo" é uma compilação de documentos e registros pessoais de Mandela, nos quais ele revela ainda dor que sentia por estar longe da família nas quase três décadas em que foi mantido prisioneiro pelo regime do apartheid.

Debbie Yazbek-17jul.10/Efe
Nelson Mandela recebe crianças da vila onde nasceu; novo livro revela dores de ser um ícone mundial
Nelson Mandela recebe crianças da vila onde nasceu; novo livro revela dores de ser um ícone mundial

No livro, Mandela aborda todo tipo de assunto, dos perigos da corrupção no poder à profunda tristeza que sentiu pela morte do filho. São décadas de cartas, diários e gravações pessoais, reunidas e organizadas por sua fundação em um projeto cuja principal meta é mostrar o homem por trás do ícone global.

Aos 92 anos, o homem que recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços contra o regime segregacionista sul-africano diz que não quer ser lembrado como um santo acima do bem e do mal.

Mandela foi mantido preso durante 27 anos. Libertado em 1990, liderou as negociações com o governo que culminaram em sua eleição como o primeiro presidente negro da história do país, em 1994. Ele deixou o poder em 1999, depois de um mandato na Presidência. Retirado da vida pública desde 2004, aparece pouco e aparenta fragilidade física.

Ele ainda é reverenciado na África do Sul e no mundo, e apesar de esta não ser a primeira vez em que fala sobre seus defeitos e erros, críticas são praticamente inexistentes.

O livro parece convidar o leitor a uma reflexão mais ampla sobre sua vida, ao mesmo tempo em que foca no enorme sacrifício pessoal cobrado por sua devoção à luta pelo fim do apartheid.

"Quando jovem, eu reunia todas as fraquezas, erros e indiscrições de um garoto do interior, cuja visão e experiência eram influenciados principalmente por eventos na região onde cresci e os colégios onde estudei", escreve Mandela. "Eu era arrogante para esconder minhas fraquezas".

FAMÍLIA

Em cartas escritas na prisão para a família, Mandela dizia sentir-se impotente por não poder ajudar a mulher, Winnie, e os filhos.

Quando Winnie também foi presa, em 1969, ele escreveu para as filhas Zeni e Zindi, na época com 9 e 10 anos. "Agora, mamãe e papai estão na prisão. Pode ser que passem meses ou mesmo anos até que vocês a vejam de novo. Talvez vocês vivam como órfãs, sem a casa e os pais, sem o amor natural, o carinho e a proteção que mamãe dava a vocês", diz a carta.

As cartas também revelam sua conturbada relação com Winnie, de quem ele se separou poucos anos depois de ser libertado.

Escrevendo para um amigo em 1987, Mandela conta que escreveu a Winnie para dizer que as filhas haviam crescido bem: "minha amada mulher ficou furiosa (...). Ela me lembrou: "eu, e não você, criei estas crianças, que você agora prefere a mim". Eu fiquei chocado".

Em outra carta, ele conta a um amigo como reagiu à morte de Thembi, filho mais velho de sua relação com a primeira mulher, que faleceu em um acidente de carro aos 24 anos em 1969 --a cujo funeral ele não recebeu autorização para ir.

"Quando fui informado da morte de meu filho, tremi da cabeça aos pés", descreve, afirmando ter sentido o mesmo quando uma filha morrera aos nove meses de idade, anos antes.

O próprio Mandela não deve comentar a respeito do livro. Sua última aparição pública foi em julho, durante a final da Copa do Mundo da África do Sul, em Johannesburgo.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página