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12/11/2010 - 12h07

Nobel da Paz Suu Kyi será libertada em Mianmar, dizem agências

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DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A líder da oposição birmanesa e prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, deve ser libertada neste sábado em Mianmar, quando acaba sua mais recente pena de prisão domiciliar. Os rumores de sua libertação se espalham por Mianmar e a notícia é perpetuada pelas agências de notícias e jornais de todo o mundo, mas a Junta Militar não confirma nada.

Suu Kyi, filha do herói da independência birmanesa, foi detida pela primeira vez em 1989 e solta em 1995. Voltou a ser presa em 2000, e libertada em 2002. No ano seguinte, voltou a ser detida e submetida a sucessivos períodos de prisão domiciliar.

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Aung San Suu Kyi deve ser libertada nas próximas horas, segundo agências de notícias
Aung San Suu Kyi deve ser libertada nas próximas horas, segundo agências de notícias

Sua última sentença foi em 12 de agosto do ano passado a mais 18 meses de prisão domiciliar por violar os termos de sua sentença ao receber um americano que atravessou um lado a nado para chegar à sua casa e dizer-lhe que corria perigo. A história, digna de ficção, atraiu duras críticas do Ocidente como uma tática dos militares para mantê-la longe das eleições legislativas do fim de semana passada --na qual os candidatos ligados à Junta Militar venceram com 80% dos votos.

Uma das pistas de que a libertação está próximo foi a concessão do visto de entrada no país a Kim Aris, filho mais novo de Suu Kyi, para que o jovem possa viajar para Yangon. O visto ao filho da líder opositora foi aprovado pela Embaixada birmanesa em Bancoc, na Tailândia, depois de várias solicitações similares terem sido rejeitadas nos últimos anos.

Com a libertação, Suu Kyi poderá reencontrar o filho depois de dez anos. Embora os generais tenham lhe oferecido o exílio, ela preferiu sacrificar a sua família e sua liberdade em prol da democracia.

Há relatos, citando fontes do governo, de que o líder da junta militar, general Than Shwe, já assinou uma ordem para a libertação dela. Mas, num dos regimes mais fechados do mundo, pouca gente pode afirmar com certeza o que está realmente acontecendo. Analistas e diplomatas dizem que até os ministros não sabem o que acontece.

"Esta é a natureza de Than Shwe e seu regime", disse David Mathieson, especialista em Mianmar na ONG de direitos humanos Human Rights Watch, na vizinha Tailândia. "As pessoas do governo não sabem, o partido de Suu Kyi não sabe, e os especialistas certamente não sabem. Ninguém sabe mais do que ninguém. Sabemos que a prisão domiciliar dela expira no sábado, e todo o resto está no terreno das especulações."

Mianmar realizou no domingo sua primeira eleição parlamentar em 20 anos, vencida por ampla margem pelo Partido da União, Solidariedade e Desenvolvimento, ligado aos militares. A lisura da votação foi contestada pela comunidade internacional.

Passado o pleito, o regime pode estar em busca de alguma legitimidade internacional com a libertação de Suu Kyi, num momento em que ela praticamente não ameaça a formação de um governo que os militares possam controlar.

Advogados da proscrita Liga Nacional pela Democracia, o partido de Suu Kyi, dizem que ela não foi informada sobre nada, mas que estão confiantes em que ela seja solta no sábado.

Por causa dos rumores, dezenas de pessoas se aglomeram na rua perto da vigiadíssima casa onde ela está presa, em Yangon. Cerca de outros 400 simpatizantes se reuniram em frente à sede do partido dela, muitos com cartazes com a foto de Suu Kyi. A agência de notícias Reuters relata que policiais gritavam com os manifestantes para que eles dessem espaço ao tráfego.

Nas ruas da capital birmanesa reina a impaciência. "Apesar de todas as tentativas de reduzi-la ao silêncio, ela ainda é portadora das esperanças e aspirações do povo, que quer a democracia", explica um executivo local, que pediu anonimato.

CONTINUIDADE

Pouco antes de sua provável libertação, o mundo se pergunta sobre quais são as intenções da dissidente diante dos desafios que a esperam do outro lado do portão de sua casa. Ainda não se sabe, por exemplo, se ela questionará os resultados do pleito do último domingo, ou mesmo se pretende reorganizar a dividida oposição.

"Ela não vai se transformar em uma rainha das causas humanitárias. Vai fazer política", afirma Maung Zarni, analista da London Schools of Economics.

AFP
Apoiadores de Suu Kyi se reúnem para pedir a libertação da líder dissidente; governo não confirma
Apoiadores de Suu Kyi se reúnem para pedir a libertação da líder dissidente; governo não confirma

"Se ela quiser lutar contra o novo governo, deverá acima de tudo garantir que os partidos de oposição se fortaleçam", estima Pavin Chachavalpongpun, do Instituto de Estudos sobre o Sudeste Asiático, baseado em Cingapura.

Chachavalpongpun especula ainda que Suu Kyi precisará criar um novo partido integrado por "novos e jovens políticos, para ter certeza de que sua mensagem será transformada em ação".

A LND, que ganhou as eleições de 1990 mas jamais assumiu o poder, foi dissolvida após ter decidido boicotar as eleições. Alguns membros do partido, contrários a esta decisão, criaram a Força Democrática Nacional, mas conseguiram poucas cadeiras no Parlamento no último fim de semana.

"As pessoas esperam que ela fale [das eleições] e volte a liderar a luta pela democracia e contra a junta", indica Aung Naing Oo, analista do Vahu Development Institute. "Mas antes disso precisará de um tempo para assimilar tudo o que aconteceu no exterior durante sua detenção".

Em sete anos, o país mudou. Os cyber-cafés se multiplicaram, os jovens birmaneses agora passeiam conversando ao celular e a paisagem de Yangon se enche de edifícios cada vez mais altos. A dissidente, sem telefone ou acesso à internet há sete anos, já deu a entender seu desejo de tuitar com jovens de todo o mundo.

Ninguém duvida que a população estará presente para recebê-la e celebrar sua liberdade. "Toda Yangon vai querer vê-la (...). Ela é como Mandela, tem um enorme poder de agregar", afirmou Maung Zarni.

PERFIL

Aung San Suu Kyi é o mais expressivo símbolo da oposição birmanesa ao regime militar. Ela surgiu na vida política do país em 1988, quando milhões de pessoas tomaram as ruas exigindo o fim de uma ditadura, iniciada em 1962, que havia arruinado financeiramente uma das economias mais ricas da Ásia.

O Exército promoveu então um massacre que deixou milhares de mortos. Aquela ditadura caiu, mas uma nova tomou posse. A campanha popular pelo fim do regime militar coincidiu com a volta de Suu Kyi ao país, após ter passado a maior parte de sua vida no Reino Unido.

A militante nasceu em 19 de junho de 1945, na capital da então colônia britânica, Rangum (cujo nome foi trocado pelos militares para Yangon). Seu pai, Aung San, um dos heróis nacionais, foi morto quando fazia campanha pela independência, meses antes de ela acontecer, em 1948.

Ela viveu em Myanma até que, em 1960, sua mãe, Khin Kyi, foi nomeada embaixadora para a Índia. No período de 1964 a 1967, ela estudou filosofia, política e economia na Universidade de Oxford (Reino Unido).

Casou-se em 1972 com o professor britânico Michael Aris. Tem dois filhos, de 22 e 18 anos. Entre outras restrições, a ativista não pôde despedir-se do marido, que morreu em 1999 em Londres devido a um câncer.

Sun Kyi voltou a Myanma em abril de 1988, para cuidar de sua mãe, que estava doente. Em agosto, ela escreveu uma carta aberta à junta militar, oferecendo-se como mediadora entre os líderes oposicionistas estudantes e o governo. Em setembro, ela fundou a Liga Nacional pela Democracia, grupo com 105 opositores ao regime, e começou a viajar pelo país.

"Quero chegar ao maior número possível de vilarejos, pois é neles que as pessoas estão mais assustadas", dizia. Essa campanha levou a sua prisão, em 1989.

Durante quase três anos, foi impedida de ver o marido e os filhos. Em 1994, o governo permitiu que ela recebesse a visita do congressista norte-americano Bill Richardson e do monge budista Rewatta Dhamma. Na época, o governo ofereceu sua libertação, com a condição de que ela deixasse o país. Ela rejeitou.

Voltou a ser presa em 2000, e libertada em 2002. No ano seguinte, voltou a ser detida e submetida a sucessivos períodos de prisão domiciliar.

 

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