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Em telegramas diplomáticos, Rússia é mostrada como "Estado mafioso"
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DE SÃO PAULO
A Rússia é uma cleptocracia corrupta e autocrática centrada na liderança de Vladimir Putin, na qual autoridades, oligarcas e o crime organizado estão comprometidos em criar um "virtual Estado mafioso", informa o jornal britânico "Guardian", citando telegramas diplomáticos americanos vazados pelo WikiLeaks.
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Mais cedo nesta quarta-feira, Putin subiu o tom e alertou os Estados Unidos a não interferirem nos assuntos domésticos russos.
Os relatos de diplomatas americanos sobre o antigo rival da Guerra Fria pinta um cenário em que governo e crime organizado se misturam, segundo o jornal, citando tráfico de armas, lavagem de dinheiro, enriquecimento pessoal, proteção a gangsters, extorsão e subornos, malas cheias de dinheiro e contas bancárias em bancos no Chipre.
Os documentos revelam que espiões russos usaram chefes da máfia para realizar operações criminosas, como tráfico de armas, e que instituições que deveriam zelar pelo cumprimento da lei --como a polícia, agências de espionagem e promotoria-- protegiam redes de criminosos, segundo o "Guardian".
Além disso, o suborno funciona como um sistema de impostos paralelo para o enriquecimento de policiais, autoridades e o Serviço Federal de Segurança (FSB, sucessor da KGB).
Em um telegrama datado de 8 de fevereiro de 2010, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, afirma que a democracia russa desapareceu e descreve o governo russo "uma oligarquia gerenciada por serviços de segurança".
As principais alegações foram feitas pelo promotor espanhol, José González, informa o jornal "New York Times", que passou mais de uma década tentando desmascarar as atividades do crime organizado russo no Espanha.
Em um relato para as autoridades americanas em janeiro, González disse que a Rússia era um "virtual Estado mafiosos" no qual "não se pode diferenciar entre as atividades do governo e dos grupos do crime organizado".
BATMAN E ROBIN
Em outro dos telegramas, a embaixada americana em Moscou diz que o presidente russo, Dmitri Medvedev, "é o Robin do Batman, Putin".
Em documentos procedentes de Moscou, o embaixador americano, John Beyrle, escreveu, em outubro de 2009, que a decisão de um possível apoio da Rússia a sanções contra o Irã não dependia do presidente do país, Dmitri Medvedev --comparado a Robin--, mas sim do primeiro-ministro, Valdmir Putin, associado a Batman, em alusão à relação de líder que o segundo exerce sobre o primeiro.
ONDE ESTÁ O PUTIN?
Além disso, os diplomatas americanos também relataram a Washington rumores que corriam entre a classe política russa de que o primeiro-ministro, Vladimir Putin, frequentemente não aparecia em seu escritório. O título do telegrama diplomático, revela o "New York Times", era "Questionando a Ética de Trabalho de Putin".
O documento fala em "fadiga" e "isolamento" e diz que ele estava "trabalhando em casa".
Apesar das tentativas públicas de mostrar uma melhora das relações entre EUA e Rússia após a Guerra Fria, os EUA demonstram que, no fundo, têm pouca esperança de que a Rússia vá se tornar mais democrática ou confiável, avalia o "New York Times".
CRÍTICA RUSSA
Putin questionou o sistema democrático dos EUA e afirmou que muitos dos presidentes americanos foram eleitos por voto indireto, no sistema de colégios eleitorais, mesmo que eles não tivessem maioria do voto popular.
"Quando nós estamos conversando com nossos amigos americanos e contando a eles que há problemas sistêmicos com o sistema de colégios eleitorais [sistema de votação indireta utilizada nos EUA], nós ouvimos deles: "não interfira em nossos assuntos, esta é nossa tradição e vai continuar assim". Nós não estamos interferindo", disse Putin, em entrevista à rede americana CNN.
"Mas aos nossos colegas, eu gostaria de aconselhar também a não interferir com a soberania do povo russo", completou o premiê, segundo trechos da entrevista antecipados pela CNN. Putin disse ainda que Gates estava "profundamente enganado".
WIKILEAKS
Cerca de 250 mil documentos diplomáticos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA vieram à tona neste domingo, divulgados pelo site WikiLeaks. Os chamados "cables" [telegramas] revelam detalhes secretos --alguns bastante curiosos-- da política externa americana entre dezembro de 1966 e fevereiro deste ano, em um caso que começa a ficar conhecido como "Cablegate".
São 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas. Destes, 145.451 tratam de política externa, 122.896, de assuntos internos dos governos, 55.211, de direitos humanos, 49.044, de condições econômicas, 28.801, de terrorismo e 6.532, do Conselho de Segurança da ONU. Os telegramas foram divulgados por meio de um grupo de publicações internacionais: "The New York Times" (EUA), "Guardian" (Reino Unido), "El País" (Espanha), "Le Monde" (França) e "Der Spiegel" (Alemanha).
O WikiLeaks divulga documentos secretos há anos, mas ganhou destaque internacional este ano, com três vazamentos. No primeiro, publicou um vídeo confidencial, feito por um helicóptero americano, que parece mostrar um ataque contra dois funcionários da agência de notícias Reuters e outros civis. O segundo tornou públicos 77 mil arquivos de inteligência dos EUA sobre a guerra do Afeganistão. O terceiro divulgou mais 400 mil arquivos expondo ataques, detenções e interrogatórios no Iraque.
O Pentágono suspeita que quem está por trás dos vazamentos é o analista de inteligência Bradley Manning, 22.
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